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NASCIDOS NO VENDAVAL

por avidarimar, em 13.04.15

 

 

Bem no alto

Por entre o escuro dos penhascos

No recorte entre a terra

E o preto do céu

Na montanha dos tempos gastos

Mais negros que breu

Tricotam os relâmpagos

Alas para o atroar

Descarregando altas voltagens

No ressoar das trombetas imperiais.

 

Rebolam pedregulhos

Nas nuvens condensadas

Feitas em frangalhos

Antecipam cenários diluviais

Do rigoroso Inverno

Com tamanha ventania

Caos, desgoverno

Chocam prenhas nuvens

No topo da serrania.

 

Grossos pingos amnióticos

Sinais claros

De momentos fantásticos

Romperam-se-lhe as águas

Nestes caminhos erráticos

E escorrem

Por entre os matagais

Enxurradas contínuas

 

A acalmia instalada

Nuvens que se dissipam

Ficam para trás

As paredes frias da noite

Despertar da alvorada

Não é vento que se veja

Nem que por aí, alguém se afoite

Mas é algo que areja

É aragem que avisa

Vindo do lado do vento norte

Musa que chega com a brisa

E se agarra a tal sorte

E se acoita

Na face do monte

Virada a sul

Junto à linha do horizonte

 

Eis que a vida pare

O princípio duma existência

Primavera assumida

Preambulo dum novo ciclo

Na madrugada milenar

Primeira tarefa cumprida

Neste anfiteatro, hemiciclo

Qual jardim do paraíso

A origem a desabrochar

No silêncio, de improviso.

 

Frontispícios dos tufos

De erva rasteira

As abelhas cavalgam a montanha

E o pólen

Recolhem, depositam

A um ritmo desconcertante

Que parece bebedeira

A sofreguidão em que militam.

 

Esvoaçam borboletas

Culminando

Romper da aurora

Pardais que debicam a bicharada

E pedaços de plantas soltos

Flores que pintam o quadro edílico

De todas as cores

Encosta fora

Já deixada a alvorada

Silêncios que varrem a imensidão

De quimeras embalados

Murmuram ao ouvido das pedras

Que serpenteiam

Os socalcos desventrados.

 

Pingo a pingo

Escorrendo

Engrossam as lágrimas espremidas

Das rochas e dos baldios

Descem aos poucos, a encosta

Veem do alto, foragidos

Fugidios

Em jeito de aposta

Formando balanço

Das gotas siamesas

Gemidos da água, acumulam-se

Em fino regato

Coesas

Ora a um lado, ora a outro

Em disforme aparato

Rasgam o caminho para o vale

E se precipitam no riacho

Não desce por decreto

Ou por despacho

Gravidade natureza

O que os impele

Encosta abaixo.

 

Escorrem sôfregos, os sinais

Da Primavera da vida

Precipitam-se na ânsia de aprender

Numa sequência corrida

Conquistas triunfais

Da vontade de viver.

 

Ao fundo

Lá bem ao fundo

E correndo para mais baixo

Lá segue traçando outras nervuras

No início doutro mundo

Dando as mãos

A outros seus parceiros

Seguem por margens seguras

Até que se junte ao senhor rio

Que os absorve

E embala

Por entre desfiladeiros.

 

Na senda da garganta do vale

Entre duas encostas simétricas

Brilho nos olhos

De vaidade

Por ver o seu trabalho de séculos

De milénios

Escava corajosa

Aquela montanha

Roubando-lhe todos os detritos

Rasgando-lhe aquela rocha

Que transporta

Calhau rolado

Brita a brita

Triturando em crescendo

Tudo arrasta

Em turbilhão

Rebolando

Moendo.

 

Fonte esta de pujança

É esta a flor da vida

São tempos de mudança

Verão de escala assumida

No auge da energia

Na forma, na cadência

Acelerações desenfreadas

No esforço, na resistência

Em tresloucada sinfonia.

 

E no amago deste frenesim

Grande rebuliço

Surge o convite ao acalmar

Da guerra desenfreada

Da descida

Espraia-se pela vastidão do vale

E o leva a saborear aquele sol

Que até ali

Tinha passado despercebido

Sem quaisquer burburinhos

Tal a sofreguidão

De conhecer novos caminhos.

 

Instala-se o Outono

Desta breve passagem

De um ciclo infernal

Neste soprar de leve aragem

Etapa equilibrada, racional

Comedida na medida

E no formal

Sustentada no sabor

É a lei de partida

Para novo impulso

Trampolim para novo fulgor.

 

Tempo de espreguiçar

Fruindo a acalmia

Encaminha-se quase adormecida

Saboreando a paisagem

Buscando a imensidão desse mar

De recurso sem par

Desde o fundo até à margem

Fonte de deliciosos prazeres

Do corpo e da mente

E no seu leito adormece

Os grãos de areia

Arredondados

Pela sua fábrica abrasiva

Fabrico em série de drageia.

 

E lá ao fundo

Logo acima das profundezas

Eis que esse líquido

Artes mágicas desta enormidade

Vapor se torna

E se empolga na vertical

Despedindo-se desta azáfama

E do alto das nuvens adensadas

Olha a distância percorrida

Até que se decida

A nova viagem

Sempre repetida

Estonteante.

 

Viagem duma vida

Com o sal por tempero

Saboreada sentida

Medida certa ou exagero

Temperada a cada gosto

Com a frescura de Abril

E o calor de Agosto

O Setembro bem febril

Da uva para o mosto

Com o frio em Dezembro

Um sorriso em cada rosto

Pelo prazer de cumprir

Da vida ao sol-posto

O anseio de prosseguir.

 

 

Não é fado

Não é sina

É caminho trilhado

Em cada viela ou surriba

Da urbe ou citadina

De cada um o legado

Para lá desta colina.

 

Em cada pensamento uma gota

Por cada palavra um riacho

Em cada poema um ribeiro

Por cada vida um rio

O que vai e o que fica

Em cada mente um viveiro

de ideais, sentimentos

Em constante desafio

O que vai, não vai

Esfuma-se

E o que fica

Se valeu nada

A cada um o que norteia

Acrescentar um grão de areia

Na vastidão do areal

Ou a meio da enseada

Assim se cumpre o desígnio

Dos nascidos no vendaval

Os filhos da madrugada

 

 

LUMAVITO

12/04/2014

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publicado às 23:06



Pretendo abordar diversos temas da vida de um país, em claro desespero de sintonia entre governados e governantes. A forma pretende ser a poesia, com mais preocupação pelo conteúdo da mensagem que pela forma de estilo.

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