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Quero saber como
E não entendo
Porque Na minha casa
Frente ao espelho
Vejo a porta que dá acesso
À rampa Que dá para o rio
Que corre todos os dias
E sempre para o mesmo lado
Aquela porta está aberta
E quero ir para o rio
Ver passar a água
Transparente Como o espelho
Sempre vinda de cima
Para lá daquela porta
Para além do espelho
Corre a aragem ligeira e suave
Noutro sentido
E o rio corre sempre para baixo.
Não é só imagem
Belisco-me sinto-me
Sorrio, faço caretas
E o rosto
Que está para lá do espelho
Não age nem reage
Mas eu noto que o rosto
Da imagem Também sofre
Como eu
Sofre do mesmo modo
Coma mesma intensidade
Porque não consegue Ir para o rio
Desistiu Voltou pra trás
E está frente a mim
Impotente
Porque a porta que está
Atrás deste rosto
Apesar de aberta
Não o levou junto ao rio
E pergunto-me porquê
Estranha incoerência
Da porta aberta Do lado do rio
E que não conduz à rampa
Que dá para o rio.
Sei que o rio está
Atrás da porta
E o espelho está na minha frente
Toco-lhe Encosto a face
Ele reage
Fica mais baço.
Não sei o que é imaginário
Se o rio que eu sei que existe
Ou a porta que está lá atrás
Ou o espelho que embacia
Este espelho tem uma porta
Que dá para o rio
Para lá da parede Da minha casa
Que tem um espelho
Para cá da porta
Por onde ninguém passa
Sinto-me prisioneiro
Deste espelho
E deste labirinto
Para lá de mim
Até ao outro lado do rio
Que corre Dentro de mim
Brota
Este rio de palavras
Enxurrada De figuras poéticas
Dilúvio de alegorias
Sobe o nível
Extravasa as margens
Estou inundado
Fico à tona A boiar
Para lá do horizonte
No alto mar
Lendo as estrelas
Como palavras
LUMAVITO
18/11/2014