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Viva e Intensa
Prenhe o céu que nos cativa
Esta coloração como se uma tela fosse
Despede-se imponente e altiva
Naquela névoa laranja e doce
A tarde esvai-se na planura escaldante
E o pássaro do sul se vai esfuziante
Na esperança que amanhã se repita
O restolho debaixo dos pés crepita
E o sol tórrido aos poucos esfumou-se
Mais não é que quadro arrebatado
Uma miragem dos dias de calor
É pincel tela e tinta ao nosso lado
É alento coragem e fervor
De um dia intenso quase acabado
LUMAVITO
20170114
CLXXXV
De muitas figuras se faz um povo
De figuras destacadas o seu carater
Se for preciso atrás voltar
E erguer-se de novo
Porque não
É a luta que marca uma vida
A alma duma nação
Não partiu sua memória
Permanece dele a coragem
Foi por todos arauto da liberdade
E o desprezo pela glória
Nunca pretendeu viver do consenso
Todos os dias controverso
Foi pra nós desapegado exemplo
Em busca da maior diversidade
Marcado fica Sete de Janeiro
Com ele se regista
Liberdade primeiro
Se cada um disser ao que veio
E ao falar não perder o freio
Alguém que não goste
Que se lixe
“Soares é fixe”
LUMAVITO
20170108
CLXXXIV
Em cada aspeto da vida, é inegável que não consigo disfarçar que tenho opinião sobre todos os acontecimentos no mundo à nossa volta. Para mim, é difícil não formar opinião sobre todas as coisas que nos dizem respeito a todos, como elementos da sociedade. Não faria sentido pertencermos a essa mesma sociedade, e ao mesmo tempo, não participarmos nas discussões que a nós dizem respeito.
Aliás, essa era uma conduta moral defendida pelo anterior regime político, em que a política deveria ser participada apenas pelos agentes políticos. Na maior das contradições, a seguir negava-se o direito à defesa de opinião contrária, nomeadamente por parte da oposição que, de algum modo, atuava sobretudo na clandestinidade.
Seria bem mais cómodo não me pronunciar sobre alguns temas, no meio social em que nos movemos. No entanto, a autenticidade obriga a que, para nós, o mundo não seja uma coisa de pouca importância, e o participar na discussão da coisa pública é, quanto a mim, um imperativo de consciência. Não faço disto um confronto, mas sim a minha participação.
Viver em sociedade pressupõe partilha dos contributos e dos desfrutos.
Naturalmente, cada individualidade contribui com a quota-parte natural e razoável, para o bem comum. É suposto que cada um contribua, na medida das suas faculdades. É suposto que cada um deva receber dessa mesma sociedade, o suficiente para as necessidades de existência, de acordo com os parâmetros de dignidade humana que cada cidadão merece.
É neste contexto que, neste momento, encaixo a notícia da morte de Mário Alberto Nobre Lopes Soares, com uma história de 92 anos de luta, e que ocorreu no Hospital da Cruz Vermelha, pelas 15 horas e 28 minutos, deste mesmo dia 7 de Janeiro de 2017.
De facto, a sua história pauta-se pelas opções que Mário Soares decidiu tomar, ao longo de toda a sua vida, em prole do serviço ao bem público. Filho de ex-ministro da 1ª república, formou-se na faculdade de direito de Lisboa. Cedo se envolveu em ações de contestação ao regime político vigente, até ao golpe do 25 de Abril de 1974.
Com a formação de advogado, em vez dessa, a sua vida foi orientada para a política. Poderia ter enveredado pela advocacia, poderia ter sido professor, poderia ter seguido os caminhos dos negócios da família; em suma, poderia ter tido muitas outras profissões.
O ímpeto que a verticalidade de caracter lhe conferiu, ditou que o seu rumo fosse a política. E os reveses foram marcantes, durante todo o percurso. Preso por diversas vezes, foi deportado para S. Tomé e Príncipe, e acabou exilado, até ao 25 de Abril.
Homem de convicções profundas, foi militante do Partido Comunista Português, fundou vários movimentos políticos, entre os quais a Resistência Republicana e Socialista. Em 1973, em conjunto com diversos elementos defensores dos mesmos ideais, funda o Partido Socialista.
Dotado de um caracter marcante e frontal, nunca enveredou pelo unanimismo, conferindo à sua ação o inegável direito ao contraditório, um defensor acérrimo da liberdade, promovendo a diversidade de ideologias políticas, contrárias à sua. Foi ele que incentivou Freitas do Amaral a criar o CDS, a fim de preencher um espetro político mais alargado, por forma a dar lugar ao contraditório.
.Frontalmente contra os consensos , e de uma coragem moral e física incontestável, elevou a liberdade como o foco máximo, no exercício do bem público
Nos momentos mais difíceis na política portuguesa pós 25 de Abril, Mário Soares não se eximiu a tomar posição, e a lutar em defesa do que entendia ser a solução mais correta para cada situação a resolver. E habituámo-nos a vê-lo defender posições que se vieram a revelar posteriormente, ser as mais corretas, não pretendendo defender a razão, antes de a ter.
Já de idade avançada, quando tudo defendia a proteção e resguardo da sua figura, foi à luta, em defesa das suas convicções.
Se tivesse que publicamente, ler estas palavras que agora escrevo, seria com voz embargada que tal discurso soaria. A comoção é incontornável para quem comunga de princípios ideológicos, e de caracter, com um defensor da liberdade, a quem apelidaram também, de animal político, tal o instinto genuíno para “gestão das nações”, o paradigma da política.
Imbuído deste espírito, apetece-me repetir o solgan cada vez mais atual, e que contém um misto de gratidão, e reconhecimento dos valores defendidos por esta figura de dimensão mundial:
“ Soares é fixe!”
LUMAVITO
20170107
Tentacular
Oculto
Move-se no quotidiano
Disfarçado de mundano
Faz da vida um tumulto
Envolve-nos nuvem espessa
Numa atmosfera irrespirável
Faz de nós corpo imóvel
Até que o sufoco aconteça
LUMAVITO
20170105
CLXXXIII