Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Andaste
Foste
Não mais paraste
Perdi-te de vista
Tu que me acompanhaste
Nos momentos de regozijo
Tu que nunca me desprezaste
Em momentos de desespero
Deixaste-me sem folego
Procurei-te pelas avenidas
Nas praças
E junto ao rio
Onde aos fins de tarde
Adoravas passear
Comigo a registar momentos
Em formato digital
Tu a contemplares o Tejo
A ponte e os cacilheiros
O rio e o sol-pôr
Rebusquei-te pelas vielas
E até pelos jardins
Atrás das flores
Ou não estivesses tu
Por detrás dos cisnes
Que se devaneiam
Pelas águas deste lago
Por detrás dessa aparência
Desenterrei o desânimo
Esse estado de alma
Desse meu outro lado
Obstinado
Essa que foi vontade indomável
Cresceu em inquietação
As ruas outrora folionas
As praças antes festivaleiras
Agora silêncio sepulcral
Não é sossego
Nem paz de espírito
Cheira a medo disfarçado
Em cada face envergonhada
E nas pedras da calçada
Paira um odor
A mentira travestida
Que se entranha na pele
Os dias que correm
Um sobressalto permanente
Num acordar de consciências
Ponto de partida
Vale a pena sonhar
Nas nossas mãos a tua reconquista
A confiança perdida
LUMAVITO
20150918
CLIV
Feliz surpresa no reencontro
Quando olhaste rendida para mim
O silêncio dos beijos eleito tema
Sentados no banco de jardim
Foi belo e arrebatador o teu poema
LUMAVITO
20150912
CLIII
Na encosta e na estrada desta rua
Há um sol que caminha
E vigia os corpos esguios
Que passam lentos
As andorinhas já se foram
As silvas enleadas
Amoras preto-reluzente
Num matagal de enigmas
As casas brancas e amarelas
Atentas observam
O frenesim dos carros tresloucados
Recortando o silêncio tranquilo
Esta estrada e esta encosta
Nesta rua
Conhecem também o tempo verde
E o da chuva copiosa
Que liberta a água frenética
A caminho da sarjeta
Já passaram pelo tempo castanho
Das folhas secas
Só a gente é a mesma
Triste e cabisbaixa
Desalentada
E não há mais notícias de relevo
Nesta carta que vos escrevo
LUMAVITO
20150911
CLII
Do cimo do monte
Olho em redor esta terra
E da brisa que flui
Fica da tristeza o odor
O eco das vozes deste povo
Penetradas na dor
De quem luta até à exaustão
E por compensa nada de novo
Apenas uma luta em vão
No cimo deste monte
A brisa não para
E os homens lá em baixo
Caminham solitários
Na estrada de chuva
Que os leva a parte nenhuma
E nos olhos o cansaço
Da vã glória de sonharem
Outro país florescido
E o sonho parece perdido
Do alto deste monte
Bem alto gritarei
Os sussurros dos homens vergados
E se alguém encarnar a dor
Em tons mais elevados
Venham de todos os povoados
Juntem-se todos a nós
Bem no cimo deste monte
E lutem
Pelos que já sem voz
Buscam também
A água desta fonte
Donde brotam os versos da resistência
E correm firmes à foz
Em busca da sobrevivência
Cantemos dia e noite o poema
Do alto desta montanha
Ao redor do crepitar da fogueira
Deixemos a nossa trincheira
Só ao medo a algema
Nesta missão suprema
Montemos cavalos alados
Num país sem ignorados
LUMAVITO
20150903
CLI