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A casa de madeira que se constrói
Com as cantigas assobiadas
Junto ao rio
O lápis traça o sentido e o rumo
Do corte da tábua pauta de música
E os filhos a crescer
Distribuem-se seis cotovias
Em cada árvore em sentinela
Um rio sem cabana corre sozinho
A janela espreita os peixes do jantar
A horta humedece as palavras cantadas
Com o vinho da encosta o espírito espraia
O corpo tresanda a suor da balada
O trecho rasgado é escrito pelo arado vadio
E a grade rasoira a terra poema
Os choupos galgam as margens
E espreitam o sol lá do alto
O rapaz foi embora
Instalou-se noutra montanha
Bem pra lá das terras de "a salto"
Olhou os socalcos e escolheu
O que parecia o melhor
A água corre bem abaixo
Num outro rio vida que corre só
E o físico mediu forças
Cortou três árvores
As mais grossas e desempenadas
Que encontrou junto ao rio
Que corre pra outras terras
A casa vai a meio
O telhado lançado
Chegou à janela
Falta fechar
O serrote outrora parado
Agora corta cansado
Vai comprar a lima de afiar
Quando a fadiga o consome
Pega na cana de pesca
Que levou da cabana
E já pesca sozinho
Agora escolhe as sementes
Já cultiva a terra
Da horta cavada
Uma outra luz pessoa
Que se desloca vigorosa
Desce o rio com o temor
De quem não conhece o caminho
Instala-se nas dunas
Que olham rio e mar
Já não corta árvores
E o betão é mais firme
Os exames e diagnóstico
Tomaram-na a jusante
A cabana sem filhos apodrece
E o sol apaga-se
Quando acontecer
Vou procurar outro sol
Junto ao rio talvez chegue ao mar
E vou prendê-lo numa árvore baixa
Os pinheiros roubam-me a luz
Na noite se os morcegos voarem
A caverna fica vazia
Mas não… não serve
Cheira a trampa
Queima as mãos
Recoze os pés
Fico com náuseas
As plantas não têm vida
Esmorece a vida rio
No caminho minado
Os pulsos estão atados
A cabana escureceu
Não tem o mesmo esplendor
À volta A erva cresce
Torna-se mato denso
O caminho antes definido
Sucumbe à força do caniçal
Já dificilmente transpõem
A distância para a porta da cabana
Entreaberta Abandonada
A janela está partida
E os pássaros apreciaram
Estão em casa
A lua a minha lua
O meu meio queijo Meio seco
Em tempos de minguante
Continua a brilhar
Ao lume grelhando o peixe
Com a madeira velha da cabana
Os pratos Esses reluzem sempre
Por mim Gosto do sol posto
A penumbra fascina-me
Enquanto escuto o movimento das águas
Que descem no rio A caminho do mar
E as águas salgadas se tornam
Esse rio onde não é mais rio Cheio de vida
Dilui-se indelével
Onde as águas vidas se sepultam
Na imortalidade
LUMAVITO
23/04/2015
Nunca é tarde
para estar com alguém
Se não o fizemos antes
não me desculpo, porém
querida Sara, sem delongas
sem perda de tempo
que o dia de ontem
te fique de memória
pelos prazeres da vida
Cada dia mais uma vitória
nesta viagem
movida de alento.
LUMAVITO
21/04/2015