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Palavras são grãos de areia
Neste areal profundo
Em tempos de maré cheia
E o são também
No alongar da maré vazia
À luz que a lua sustém
Entrelaçadas em teia
Emaranhado confuso
Não correm, não mordem
Mostram-te tudo aquilo
Que queres ver
Mas o olhas de modo obtuso
São rigor, são pudor
Dor
Alimento Sustento
Do que te vai na alma
Linha do teu caminho
Que corres de farta calma
São limpeza nobreza ligeireza
O que tu queres que seja
Expressão dos teus lábios
Para incultos e sábios
Seja aquilo que for
São a tortura máxima
De quem tudo deseja
Com palavras eu choro
É com palavras que grito
Durmo respiro
Ando desando
É com elas que aflito
Choro com palavras
Berro Canto
Emociono
Com todas as palavras
Que tu lavras
Regas
Olhas vês
Palavras com “tês” com “cês”
E também com ”pês”
E agás
De rara palavra de honra
Por tão parca ser
Não encontro rima
Que está para lá
Da espuma dos dias
Algo que eu busco
E tu crias
Palavras que o vento leva
E o tempo logo trás
Vejo-as aos montes às resmas
Aos pontapés
Maltratadas enjeitadas
Sofridas
Mas são ainda amor
Pelo clamor, pela chama
Paixão enrolada
Do turbilhão de ideias
Que a mente, de imediato
Não filtra
Preciso não é, não cortes
A palavra que agride
Amanhã também te afaga
Te dá nortes
Na dor que te dói,
Por maltratarem estas palavras
Que declamas
Em cada passo
Que avanças
Sem sair do mesmo espaço
Com elas tu pensas
Mesmo que não digas
Escreves
Elas são magia São alma
Que com gélidas neves
Tu refrescas o pensamento
Pensado
Adorado
Rebatido
Pensas que o mundo é puro
E lhe podes contar todas as palavras
Mundo sujo, ainda assim
Aproveita a palavra tua
Para de forma nua
Se atirar contra mim
Ou a ti
Todos os que não sejam arma
Para o seu próprio fim
Palavra a tudo serve
Incluindo o saber
Tão simples e tão intensa
Ao menino a luz adensa
E ao regato Ao riacho,
À ribeira Ao rio ao mar
A palavra segue o fluido
Da nascente
Qual caso que brota
A força das palavras
Que em catadupa
Te fazem sentir
Melhor pior
Preguiçoso buliçoso
Assim ou doutra moda
Elas que saltitam
Não as consegues todas apanhar
No ar da tua ilusão
De a vida sorver com sofreguidão
Os momentos da vida abrupta
Se palavra é cultura
Peguei numa palavra
Qual grão de areia
Analisei-a ao microscópio
Vi forma estrutura textura clivagem
Vi coragem, cobardia
Vi ódio, amor, calor
Vi vinagre unguento
Descobri trompa de Falópio
Entranhas e peles
De todos aqueles
Que não querendo ser eles
Compraram máscara de bondade
Não se escondem o dia todo
Toda a vida
A trapaça cai
E no microscópio vi a verdade
Rija, mole, bela, funesta
A vontade também encontrei
Naquele pedaço analisado
De lixar o outro minei
Vi o mundo dos espertos
Sem vergonha e sem lei
Estou farto vista cansada
Do tudo vi o nada
De tudo o que nada sei
Parti daquela análise
E a outras paragens migrei
Fui analisar-me
Quanta vastidão
Não só solidão
É um caixote bem fundo
De areia escurecida
Pelo escuro dos dias
Gritei um “NÃO” rotundo
A esta brutal confusão
Quero arrumar o caixote
Para entender o mote
Que não tenho armado
Quero-o antes, escalonado
De lógica razão
Pozinhos de emoção
Lucidez que baste
Para palavras usar
Que não são minhas
Não as inventei
Delas me apropriei
E fiz meu o pensamento
Quero dele o sustento
Para dele dizer
Ara, cultiva, lavra
A lógica, a razão, emoção
Desse grão chamado “PALAVRA”
Se palavra é isto tudo,
O que será “CULTURA”?
Agarro no dicionário
Microscópio da palavra
E o termo encaixa
Que nem luva de seda
“arte, modo de cultivar”
Pois é arte
Arte de amar, de ver, de sofrer
Arte no entender
Que tudo o que sabemos
É arte de crescer
O sonho é uma arma
Que encontrei no dicionário
Do vocabulário de entender, de sofrer
De pasmar
De pedir conselhos de aconselhar
Dá-nos asas para altos voos
Terra em terra, verso a verso
Poema do meu encanto
Aquilo que agora peço
Que respeitem a dor
Que não seja favor
Soluçar de tal pranto
Pranto de alegria e sabor
Rosas do meu jardim
Continuar o empreender
O que tenho para contar
Não procuro exaltação minha
Quero interpretar o mundo
A voz que tem para, sem par
Amar, repartir, conquistar
Novos lados, novos espaços
Lugares, vivências, tolerância
Não me peçam para ser breve
Nas palavras, nos traços
Tamanha a minha ânsia
Sem limites, com lisura
De espalhar o meu pulsar
Que o que nomeio
Tal importante objecto
Face outra da cultura
Quero saborear a cultura
Em todos os passos que der
Estrada fora
Caminho longo ou curto
Na esquina do centro comercial
Ou dentro dele
Na rua, no bosque, na floresta
Entre muros e vielas
Aquilo que aprouver
Por tudo anseio e nutro
Carinho raro e maior
Que aquela dor me ajudou
A saber que o sentir entrou
E teve parto sem dor
Olho os números
Logo fito
A lógica, o pragmático
Aceitável, responsável
Forma de resistir
Sem matemática que seria
Mercados não havia
Só dos mercados da praça
Trocarmos carne por massa
Vitelos gordos por castelos
Sombras por camelos
E tonteiras por alegria
Outros grandes Mercados
Nosso rol de esquecidos
Seriam tempos perdidos
Acorda e não os marginalizes
Eles são fatia integrante
Deste mundo galante
Que se mostra travestido
De nós faz usura
Com propósito assaz, diferente
Do que entendo cultura
Mas cultura também é isto
Para que te sintas avisado
Não é apenas canto lírico
Fado ou supermercado
Futebol ou serradura
Telenovelas de embalar
Notícias alarmantes
De parangonas munidas
“lógica lunar”, tino muar
Qual coice de mula
Algo que não encubra
E nos obrigue a pensar.
Quero cantar o tamanho
O peso, a largura, o pensar alto e baixo
Em cada coisa que mexe
Que te olhe de frente,
Pensar que o pensamento
É coisa de alento
Para quem ousa pensar
Que a única coisa lógica a abordar
É discutir o evento
Cultura é evento, é bom tempo
Chuva da grossa e miúda
Cultura também é
Bela forma de olhar, o trigo, o mar, o céu
Tudo o que vastidão cultiva
Saber estar saber ler
Escrever
Tudo o que a gente cuida
Que é importante falar
Ou pensar, que o digam
“fala de modo exemplar”
Grãos finos de areia
Em habitual prática de respirar
São lógica falante
Daquilo que calado é
Montes deles impressionantes
Empurrados pelo balançar da maré
Grãos da nossa cultura
Nosso saber, completo
Longe está
Qual curva parabólica
Que nunca se junta à linha
Que persegue
E longe estará
Cultura não é pensar único
De quem se propõe filosofar
Nem que ligues todos os grãos
Da tua praia de saber
Por mais voltas que dês
Não ligarás todos os bagos a teus pés
LUMAVITO
13/06/2013
Promessa não passa disso
e a vida é mais que isso
não quero ficar em falta
e nestas coisas, exigente é a malta
Ou cumpres promessas lavradas
ou cospem na tua cara
o que à promessa chamaste farra
Em anexo seguem
algumas frases banais
Mais que a forma, o conteúdo
Daquilo que sobretudo
Te possam parecer formais
Um abraço do matagal
bem longe do laranjal
Não é pra rimar não importa
que seja por esta porta
Que conheces mais um animal
LUMAVITO
11/06/2013
(Ao Pedro Reis)
Anda um gato assanhado
No muro do meu quintal
Pelo eriçado rabo escondido rasteiro
Na zona mais escura do muro
Que o suporta
Não corre risco de dali sair
Sem que tenha que fugir
Para outro poiso mais seguro
Junto ao muro do meu quintal
A minha cadela ladrou
Estava um gato assanhado
Achou aquilo um espanto
Ter um gato à mercê
Vá-se lá saber porquê
É, de facto, coisa brutal
Teve cuidado, no entanto
Que tal gato assanhado
Não subisse ele para o telhado
E lhe escapasse daqui
Não rima mas é verdade
E o bicho bufava
Vinha acossado de outras bandas
Não deviam ser coisas brandas
Era situação de aflitos
Gente atrás dele aos gritos
E ele espumava
Não há buraco por perto
Que me esconda por certo
De tal incompreensão
Que austeridade é útil
Dignidade é fútil
Gente superior tem razão
Eu sou o rei que governava
Aquela festa brava
Bem longe deste quintal
Longe vão os dias
De grande folia
Para os lados de são bento
Tenho que estar atento
Que o respeito já não abunda
Em tão grave momento
Por quem deles tanto queria
Fazer deles povo fino,
A começar do nada,
Nada como escolher a raça
De coelhos
Qual mordaça
Recomendado era tê-los
Presos pelos cabelos
E dominar-lhes a traça
Tudo isto aconteceu
No muro da minha praça
“NICA”… , gritei eu,
Vai-te a ele e escorraça-o
Do muro do nosso quintal
Isto não é sítio certo
Para tal animal tão manhoso
Espalhar ódio por perto
Inferno já temos todos
De aturar diariamente
Torturas sem limite
A entrar pela rádio, jornais e TV
É um impiedoso coelho
Junto a outros artistas
Verdes alvarinhos, cristas, abertas portas
Gaspachos molhados
De tanta chuva apanhar,
Maduro de tanto roer
Macedos paulos e guedes
Justa paula sem cruz,
Quais ratos com “C”
E motas a transpirar
Não falando nos acólitos
Lambe botas e demais
Todos eles desgraça nossa
Espavoridos e atónitos
De tamanha patranha grossa
Para satisfazer raça maior
A tróica, dobrados cuidados acrescenta
A pedido do laranjal.
No meio do meu quintal
Estranhei…..
Vi a cadela serena
De calma tamanha
Brilho nos olhos de quem sabe
Que neste momento o que cabe
“deixa-os poisar”
Ele vai descansar, de cansaço adormecer
Quando acordar, brutal susto
De não saber onde está
Se agora não está bem
Quando acordar sofrerá
Um AVC intestinal,
E daí um esguicho
Pode ser ou não coisa fatal
Mas ficar bem
HUM…..Duvido
Cagará pela cabeça
Dirá que estômago já não pensa
E para que serve o umbigo
No intestino tanta trampa
Se ao que diz, já não ligo
Conta comigo, fiel amigo
Realmente…..
Atónito, espequei…..
Sem dúvida
Sábias palavras
Mas……
EU?.........EU????
Fiel amigo da cadela?
Do alto da varanda
Por cima do meu quintal
Este mundo ao contrário
Avisado bicho este
Espera….
Se bem percebi
AHHH…..
O animal sou eu,
Finalmente constatei
Que nos tinham enganado
No meio daquela febre
Em Junho de onze
Nos tinham servido
Prato de gato por lebre
Gato escaldado
De povo dorido tem medo
Qual liberalismo azedo
Dum gato pardacento
Remeloso, salazarento
Mais cedo que tarde
Casca de banana dos estrangeiros
Tal trovoada das finanças
Te dará da grossa borrada
Não percamos a esperança
Esqueçam tais foleiros
Acreditai….
Depois desta tempestade
Acordaremos
Com nova alvorada
No muro do meu quintal
Já não rima mais nenhum….
LUMAVITO
12/06/2013
Gostaria de amar o mundo
Todo ele sem excepção
Entender a diferença, saber da postura
Ter noção de tolerância
Seria causa maior tal como esperança
Ou utopia, já não sei
Seria forte razão para acreditar
Que estaria formal de abundância
Em forte crença
Que o que parece também é
É mera questão de fé
Não fosse eu diferente
De quem atentamente
Das palavras que escrevo é leitor
E intérprete
Que vê o mundo com paixão nua
Sentimento próprio
Dos termos do seu colóquio
Com esta e outra gente vivo a minha
E a tua
Amar ardentemente é coisa pungente,
Tem forte picante que no arder da chama,
Já não é chama é incêndio
Cada um seu “ai” clama
Sem que não queira ser real
É a dita inclinação para relação maior
Com o ser vertical
Paixão é animal
Noutros casos fatal
Nem por isso a deixes morrer
Eu vivo a minha na rua no carro
De manhã e à noite
Na cama, no chão
Até que a alma sinta
Que vale a pena amar,
E que por tal não sejas monumental
E fatalmente ingénuo
O que pode ser não será
Nestes casos bela paixão
Pode ser assim de molde dúbio e perigoso
Afeto violento grande inclinação
Do violento já sabemos
Que o que nós queremos
Não é nada atroz
De inclinação
Não é coisa direita
Na análise nada tem de bondoso
Razão que temos pra sermos
Bastante mais seletivos
Nesta moda impar
O mundo que é diferente
Nada pode ter de único
Na diferente forma de amar
Eu amo sem inclinar
Este plano linear
Que o direito é fortuito
Já que a igualdade não é igual
Nesta forma de tratar díspar
Duas pessoas diferentes
Apenas pelo estatuto
Pode-se ainda abordar,
Paixão como impressão viva
É coisa impressa com impressão
Coisa mais plástica
De outro modo de amar
Como goma e pastilha elástica
De mascar demoradamente
Para descontrair
E há já quem diga
Que a palavra “paixão” nada tem de cordata
Aliás coisa parca de qualquer consenso
Neste mundo imenso que é o mais fértil
Na interpretação bem diferente
Cada qual que modele
Não pela cor da pele
Nem pelo dado sexual
Mas é isso sim na forma de amar
Conforme convém tratar
A conveniência minha em ter qual relação contigo
De amor ou negócio
Inverso ao meu ócio antes castigo
Para o que o outro pretende
Amar o meu amigo é purificar o coração
Para permitir que amor entre nele
Pois até o mel mais doce azeda
Se não cuidares que pote que o suporta
Nada tem que contamine
De forma porca e sabuja
O lixo que a amizade permite
Quem da paixão entende, que é
Perturbação desordenada do ânimo
Desordem maior não tem
No caldeirão das ideias
É maneira mais enrascada
De ver que universo
É coisa que, de modo intenso
Está perturbado
É roubar o espaço, a quem quer amar
Intensa e acaloradamente
Ainda que modo diferente
Se sinta mais confortado
Paixão é sentir diferente
Desta e outra mente
É calor da relação que o humano constrói
Na sua forma de amor em cada qual
Trator
É cor no coração
Que puxa a relação de farta amizade
Da tolerância e de constância
O motor
E a dor que a paixão violenta mói
Deixa marcas constantes
Em gentes que são diferentes
LUMAVITO
11/06/2013
Vejam esta festa,
Festa da alegria,
Encantos tamanhos
De quem tem sonhos,
Para aos outros cantar
Quanta coisa boa
Tem à vida a dar,
Versos de louvor,
Que com tanta dor
Vos quer ofertar.
E o cantor cantou….
Aqui dança a praia
Da nossa alegria,
Aqui está a areia
Do nosso areal,
Aqui vai a água
Do nosso arrozal
E o cantor calou….
A orquestra branda
Seus sonhos embalou,
A lira não mais parou,
O maestro, seus braços pára
Dois segundos, um compasso….
E o cantor cantou:
Nesta água parada
O arroz cresceu.
Na valada livre
O motor parou.
Já não há água
Para o arrozal.
E o cantor gritou:
Já não há sustento
Para o pessoal
Já não abre a escola
Do nosso saber.
Quero um dia lindo para,
De novo, sorrir,
E voltar a ter arroz integral….
E o cantor quedou….
Ouve-se o trombone, rugido tão grave,
A mão do mestre de novo agitou,
Gaitas e clarins,
Cordas e afins,
Berraram bem alto,
E o som partido mais se elevou….
S..i..l..ê..n..c..i..o…….
….Duas leves pancadas, da batuta mor,
Com voz magoada de tanta dor,
Sussurro ao fundo, da melancolia….
E o cantor berrou….
Baixem-se as armas, a guerra acabou,
Não gritem mais, que a paz voltou.
Juntem-se as donzelas
Para dançar com elas….
E o cantor chorou….
Sua amada querida ainda não voltou,
Rufar do tambor cala a minha dor,
Clarinete fino
Dá-me o teu tino,
Arpa melódica
Dá-me a melodia,
Violino fraco
Dá-me teu trato,
Concertina bela
Dá-me aquela que sorriso me dá
E feliz me porá.
Oh motor parado
Rega o meu prado
Para feliz, amar.
Fogueira sem lenha,
Não há vida que tenha
Norte para o leme
Do meu barco a remos,
E vivida assim,
Sem outros termos,
A vida não paga
De tanto sofrermos.
E o cantor respirou….
A fanfarra solta, se empertigou,
Cantarola bela
Prá rapaziada
Deixa-me embalar
Quem dormitou….
E o cantor cantou….
Ela mudará o forte sentir
Que o amor nos dá,
Cala a minha dor,
Meu roufenho tambor
E a música mudou
Importa sorrir….
E o cantor sorriu….
A tristeza louca
Nunca mais se ouviu,
O silêncio foi
E não mais voltou.
O grito de amor
Por quem tanto amou!
Oh fanfarra rouca
De tanto cantar
Corre mundo inteiro
Pra não mais calar.
O amor é tosco
E embebedado
Pra sorrisos ver
No teu penteado.
Olho brilhante,
E o grito cantante
Que não mais calou,
E também dançou
A valsa e o vira ….
E o cantor soluçou…
A vida não pára
O amor floresce.
Canta esta canção
A quem aparece.
Minha vida assim
É bem agitada,
Não a quero disforme,
Nem água parada,
Charco de ilusões
Para quem acaba
Achando bela
É a vida parada….
E o cantor balbuciou….
Oh neurónios meus
Reguem esta flor
Com cuidados teus
E de tal amor….
E o cantor cantou….
Canções de embalar
O ardor profundo
Que tem pelo mundo
Oh musas minhas
Não caleis a voz
Para eu escrever
O que é para nós.
Oh motor da vida
Regai o baixio
Não deixeis crescer
O nosso vazio….
E o cantor respirou….
Oh delírio meu
Canto à desgarrada,
Para encanto teu,
E da filharada
Cantando assim
Vivo a desfolhada
Deste doce fruto,
O maior conduto
Pra esta mesa
Que nos dá peito
Para conversa acesa….
E o cantor transpirou….
A música ensaiou novos acordes,
Ânsia em que mordes
Teus lábios bem ternos,
De olhares cândidos
E gestos fraternos….
E o cantor assobiou e cantarolou.…
O velho sorriu
Num olhar profundo,
Ventre encolhido
Algibeira no fundo
Nele é alegria
E tudo porfia,
O homem floriu
Com o vigor
Lhe dá o calor,
De ao que assistiu….
E o cantor tombou….
O escritor escreveu
O que não calou
Para o mundo seu
Saber da dor sua,
Que de amor sofreu.
LUMAVITO
11/06/2013
Chamando burra à mula,
Não é verdade não
A burra é burra sim,
Mula não é burra então,
Mula não dá filho ao burro
Burra pare do machão.
Burro é quem doutros aceita,
O que a ele não lhe convém,
Não distingue tamanha desfeita,
De patranhas contrafeita,
Não sabe o que contém,
Nem conhece de quem vem.
Não sejas burro, te peço
Abre os olhos em redor,
Regista o pormenor,
Pois é elevado o preço
Para a falta de rigor,
Este conselho é sem favor.
Mula é com bom rigor,
Passar despercebido sem se notar,
Não é tão estupido esse muar
Teimosa será assim,
Burro é o estupor
Que não veja esta coisa, por fim.
Neste dia de Camões,
Não te deixes montar,
Tens outras soluções,
Eles que vão procurar
Outras montadas possantes
Eles que se vão lixar.
Sejas João, Francisco, Rafael
Manuel, Joaquim ou pedro,
Não te deixes atingir por estilhaços,
Não te ponhas de joelho,
Pois ele corre em apressados passos,
Para o alvo da caça ao coelho.
Deves reconhecer este burro,
Por outra estratégia não ter,
Por ser tão casmurro,
A nós só nos faz sofrer
Que política, que futuro,
Mas breve,
Essa loucura vai morrer.
LUMAVITO 10/06/2013
Bicho eu, como assim?
Sou o delfim de outro ditador breu,
Exterminador, implacável,
Brilhante acho o pensar meu,
Quem se esquece do meu filósofo?
Tais relvas aparado, no meio deste prado,
Saiu daqui acossado,
Mas anda por aí,
De auditório em corredor,
Qual negociata mor,
Sorrateiro a dar autógrafo,
A cada raro admirador.
Em cinco do seis
De dois mil e treze
Como no dia a dia,
Papéis
Vergonha é coisa sem censo,
Esta figura de proa
Teve o desplante
Com cinismo e prazer,
De afirmar
Que tem muito orgulho
No trabalho que está a fazer.
A fazer ou destruir?
Pergunto eu,
Qual o elemento agora melhor
Da nossa vida,
No todo como país,
Individual nem falar,
Esta recuperação fingida
Reformar ou empobrecer
Recuperar ou afundar,
Fazer feliz ou desgraçar,
Criar colocação ou desemprego
De facto, tem feito pobreza,
Tem cavalgado avareza,
Construído a desgraça,
A todos despreza,
Conquistado desemprego,
É obra já patente
Em vez de falar verdade
Mente.
Laranja podre do meu quintal,
Porque andas ainda aqui,
Agarro no sacho e cavo,
Abro um buraco, e nele te mergulho,
Além de entulho,
Tu serás estrume
Da minha horta, não será por mim,
Que tu segues caminho.
Terra em cima, três palmos,
Aproveito, e contigo vai falsa porta,
Amigo do reformado,
Quando estiver enterrado.
Maçã podre do meu quintal,
Qual gaspacho, não te ocorre,
Em breve dará o salto,
Para os lados do banco europeu,
Que fique por lá muito tempo,
Espero eu,
Esperamos nós,
Que não se erga mais a voz,
Que vem aí outro mal,
Que frutos estes deu,
E que nasceu,
Lá por alturas de seis de dois mil e onze,
Não queiras estátua de bronze,
Nem sequer, de papel
Antes uma de pau,
Para te enfiar
No fundo da coluna vertebral,
Ou te pendurar no jardim,
Nosso espírito sossegarmos, no final,
Ou, se quiserem, por fim.
LUMAVITO, 9/6/2013
Por letras, palavras, expressões,
Sonetos e prosas,
Nestas ideias que anotas,
Tu que pensavas escrever,
Por vielas e linhas tortas,
Sem fim, até poder
Que fizeste?
Ficaste a ver.
Longe vão os dias de esperança e crer,
Impelidos pelo sentir a valia natural,
Fruto de na sociocracia, acreditar e amadurecer,
Conturbados momentos acrescentaram,
Noutra democracia este saber.
Porque esta não foi o que em mãos tivemos,
Tratando por tu o direito e dever,
Com mestria este povo segurou os lemes,
Se com trabalho o futuro não temes,
Cabe agora saber sofrer.
Não que de convicta forma o tenhamos escolhido
Pese aceitar que não sendo contributo meu,
Com todos fizemos a força
Uma parte não faz coisa grossa
Sozinho nas fraquezas, ninguém venceu.
Esta sorte foi de todos nós convicta escolha,
Tais as ilusórias promessas de mudança,
Acreditámos que folha a folha,
Juntaríamos de todos o esforço,
Faríamos um compêndio grosso
Que mostrasse a nossa esperança.
Das rosas tínhamos os agudos espinhos
Das foices e blocos a utopia,
A tolerância dos centros de mesa,
Das laranjas pensávamos, com certeza,
Para o próximo futuro, a nossa melhor via.
Quem escuta a promessa dum político
Se é honesto nele confia,
E este prato bem apresentado
Calculámos bem confeccionado,
E transmontano não mentia,
Fiel amigo, no dono não mordia.
Bastaram alguns dias, e surgiu a esparrela
Longas corridas de Trás-os-Montes ao Algarve,
Bem trajado, com ar sério e grave
Em lugar do tacho, prometeram grande panela,
Maravilhados ficaríamos com ela.
Menos tarde que cedo, se criou a convicção
Em lugar da desgraça
Criaríamos a ilusão
Que seria por rua e praça
Encontraríamos a salvação.
Há coisas que não rimam, e esta uma delas,
A ilusão continua um idílico castelo,
E porque não fazê-lo,
Estas laranjinhas com umas morcelas,
Dariam um prato consistente e belo.
Rápido dessas ameias, se viu esfumar tal certeza,
O tempo carregou de cinzento o céu,
Não seria como num florido sonho,
Que “aquilo que eu proponho”
Seja apenas engano meu.
Em vez do suculento prato
Na mesa comprida, as caldeiradas
Nomeações (desculpem, feijões) nem por isso
Em vez da rodela do chouriço,
Serviram unhas rentes cortadas.
Do salivar de imaginar,
Surgiram as dores de barriga
Gente a vomitar pelos nervos
De gente nobre agora servos,
No trabalho, não há lugar à fadiga.
Não há forte rima que resista
A um logro tão forte e duro
Há um plano do infame artista,
Se tal arte não almejei, fui burro,
Do longo caminho fiz curta vista.
“Se com saber, arte e manha,
Se enganam alguns parolos,
E com hábil matrafice tamanha
Usando de mais façanha,
Intrujaremos estes pobres tolos.
Se à minha esperteza, juntarmos esperteza tua,
Seremos os tais espertos,
É verdade nua e crua,
Eles estarão mais facilmente abertos
E não nos porão na rua.
Contaremos com presidente do laranjal,
De muito saber ajuntado,
Ele tem forma eficaz tal,
Com o povo entretido e preocupado,
Que conseguimos, em luta brutal.
Os velhos contra os novos,
Os novos contra os pais tesos,
Só nós não ficamos surpresos,
Vai real bagunça naqueles coitados tolos,
E na pobreza, o que merecem, vamos pô-los”.
E aqui chegados, a dureza dos tempos aconselha,
Que fria cabeça melhor resolve,
Dias melhores é coisa que não tarde volve,
E de quintetos a poesia já se afasta,
Perante esta crença tão nefasta,
Que a austeridade ainda não basta.
Não é preciso grande luz,
Para leste concluir,
Que no timbre em que a conversa pus,
Não conseguimos do clamor fugir,
Sextetos já não chegam,
Para da trama à indignação,
O espírito irá fluir.
“Crime”, disse ele, de voz altiva e atroz,
“Desde Adão que tudo é errado,
Só o algoz chicote corrige”,
Não suporto mais este jugo danado,
A dor inútil que inflige
E aquilo que a gente finge
Que não dói, mas dói,
E a cabeça mói, coelho este, danado,
Que não me apareça pela frente,
De forma intransigente, lhe gritarei ao ouvido,
Que, além do nariz comprido,
Pelo peso na consciência dessa mente,
Terá um envelhecer sofrido.
Tordo, rola, galinhola ou perdiz,
Tudo tem na caça, sua era,
Não é o povo que diz
Que chegou a hora feliz,
Se curvem os fugidios coelhos,
Para lhe atirar, certeiro, de joelhos.
A minha espingarda palavras dispara,
Que se esfumam pelo ar
Da indiferença do animal,
De humano não tem par
Nem foi criado para tal.
Arma minha a palavra,
Não te curva finalmente,
Não és dos que tem na mente,
Que dignidade não é indiferente,
Antes calada que aguente,
E solta, não a calarás para sempre.
Razões de sobra terás,
Para de trás dos montes não sair,
Não vá o diabo tecê-las,
Alguém marcado por estas querelas,
Fora de juízo perfeito,
Que já não tem espaço para o jeito,
Fará de modo insuspeito,
Aquilo que o roedor teme sofrê-las.
A desordem substituirá a ordem,
Naquela trémula figura,
Após o ar elegante ficará na carcaça a finura,
Chumbada de palavras que cortem,
Alguém que nunca pronunciou ternura,
Doçura,
Antes “ruptura, força dura”,
Implacável perante quem está indefeso,
E à desgraça é preso,
Por quem não envergonha a psicológica tortura.
Há já quem diga, fartos de tal fado,
Que não há na sorte nada perfeito,
Que na escolha da sorte, no meio deste gado,
Tão nefasto é o efeito,
“Volta Sócrates, estás perdoado”.
A vingança, essa será natura,
Não será pela humana mão,
Depois de tanta fartura,
E perante tanta tesão,
(leia-se: Força, intensidade, ímpeto)
Ficará a triste alusão,
Que foi um mau bocado que passámos,
Depois de tanta esperança,
Que com Abril rejubilámos.
Com este estado de alma,
Na testa a mão serve de pala,
Olhando o passado, pesadelo,
Afagando o cabelo,
Nada merece perder a calma,
Em breve, ao povo chegará a fala,
E diremos o que justo é,
Se alguns quiserem, com fé,
Caçado entre montes,
Nas covas,
Aprenderemos a cozinhar
Coelho à Torres Novas.
Para quem não sabe, que saiba,
Que de feijoada se trata, com tenros grelos
À mistura,
Não é coisa dura,
Bem suculenta, porventura,
Com piri-piri ou pimenta,
Assim se cumpre a natura,
Cada macaco no seu galho,
O coelho só no tacho, pérfida criatura.
O tempo tudo ensina,
O tempo tudo apaga,
Não alimentes tanta sina,
A tua mão não me afaga,
Teu hábito, chacina
É alimento que agrada,
Do coelho não se faz canja,
Nem caldo que se sirva,
Destes tiranos, a sociedade tem uma franja,
Que na História de um povo não clama,
Registo teu, só na lama.
Gato preto da nossa vida,
Qual coelho escondido e assustado,
És para nós a ferida
De uma chaga maior,
De tanta verdade mentida,
Não prolongues este fado,
Sai desta coutada que não amas,
Que anseias envolta em chamas,
Para voltar a desabrochar,
Assim não é de modo digno cantar,
Nossos versos de amor,
Dá-nos esse favor,
Vai, e leva contigo esta tróica,
De males insanos e interesses profundos,
Liberta-nos desta andança paranóica,
Queremos partir para outros mundos.
Outros figurões agora poupados,
Histórias terão deles,
Não serão só peles,
Das maquinações dos visados,
Há muito tempo avisados,
Que da sorte não hão-de fugir,
Será a natureza também
Porque tristes figuras destas não mais seguirão,
Para os lados de Belém
Não esqueçamos que ali bem perto,
Para os lados do Restelo,
Os velhos pronunciaram desgraça
Por todos os lados do Além.
Avisada anda a plebe,
Que no logro, à primeira,
Não tendo jeito nem maneira,
Não há forma de não cair,
À segunda,
Já dor profunda,
Se lhe prometerem a melhor lebre,
Haverá, ainda assim, gente a sorrir,
À terceira, senhores espertalhaços,
Não façam de nós palhaços,
Se tiverem por onde,
Vão lá morrer longe,
Nem que da lepra sofram,
Batam a outras portas
Que agora vocês servem,
Decerto não se atrevem
A pedir-nos mais migalhas,
Da vingança espalhaste a cultura,
Esta é a cova que agora talhas
Para a tua sepultura.
Falta cumprir outro objecto,
Outro tipo de democracia,
Porque esta faca do bolo,
Para o outro lado tende o corte,
Com hábil mão, e forte,
Que a fatia da aristocracia
Tem mais largura que a tua,
A mão que trabalha nunca está nua,
Isto da partidarite,
Dizer que não tem artrite,
Que sofre de longa saúde,
Chegará o dia em que a luva cairá,
E justiça justa se ouvirá,
Em rara e festejada atitude.
LUMAVITO 9/06/2013
Estavas triste Maria
A sonhar com ida beleza,
Olho teu traje rasgado e falto
Nos teus anos carcomidos pelo tempo
Esse teu semblante descuidado e incauto
Deste banco de jardim em que me sento
Marcas da alegria só nas rugas
Velhas vaidades escritas na memória
Carcomida pela angustiante figura imunda
Longe vai o guerreiro espírito de vitória
Na tua mente cresce essa dor profunda
Quem diria poucos tempos idos
Essa carcaça impressionante de nocivos tratos,
Tua figura esbelta, bela e atraente
Fazia de peixe e carne, legumes
Belos pratos
O estômago encheste a muita gente.
Teu jeito cuidado para todos
Com um sorriso nos lábios servias
Em cada dose mais um presente
Podia ser amálgama de carnes frias
Ora uma recheada dose de prato quente.
O teu carinho e entrega a tantos presenteaste
Qual generosa criatura
Olho para ti agora, alguns anos depois
Marcada pela crueldade pura e dura
Do tosco farrapo que agora sois
Marcas impiedosas de quem não sofre
Do mal, do seu trabalho depender
Objecto fácil de conquista procura,
Pela ganância de rápida ida ao poder,
Forma de o conseguir, nem que seja a tortura.
Tortura pode ser chantagem, desemprego
Fome, humilhação, desprezo
Outra dor qualquer
Para o sádico governante não é terror
Como mera coisa se olha uma mulher
Que em troca procurava pitada de amor.
LUMAVITO 08/06/2013
Quem o vê não o ouve,
Não é atrevido mas sagaz
Não espera por ninguém,
Atirar-se ao trabalho sempre soube,
Sem olhar para trás
Ao olhar para isto, assim sem mais
De forma manhosa e matreira
A obra estaria funesta
É como se escolhêssemos a primeira
Entre a árvore e a floresta.
De aspecto fino e tímido
O louro cabelo ondulado
Astuto observador, teimoso,
Qual impossível que não há
E caracter bem vincado.
Os verdes anos da vida
Cedo revelaram persistência,
Ama o que melhor faz
Estudar e vencer desafios
Não desiste
Do que encontra resistência.
Assim é o Miguel
Prazenteiro, dedicado e sonhador
Eis que almejamos a meta no horizonte,
Só um grande lutador
Consegue beber desta fonte.
Vontade, inspiração não lhe falta
E aí está o resultado
Amargos dias e noites de fadiga
Não aceitou da vida o fardo,
Quem o conhece que o diga.
O rasgar do olhar
Por entre ramagens saltitantes do vento
Natureza, campo, ar livre, água, floresta
Conceitos de todo um pensamento
E quão simples lição de vida esta.
Ver, ouvir, sentir, aprender
Sem disto fazer alarde
É na mata a clareira
Saber que armazena que se farte
Só me apetece a ti dizer-te, Borges Vieira.
Das festas resta a memória
E o grato prazer de quem nos acompanha
Gratidão o sentimento, com certeza
É o grande degrau da montanha
Do caracter do Luís fica a nobreza.
No recato e no recanto da nossa conversa
Apetece-me gritar ao mundo
Que o Luís tem um singular condão
Que a ele ninguém vira a sua convicção
E que a todos cala bem fundo.
São coisas que se pensam e sentem
E não se dizem sem alma
Tiram da corrente do rio, o furor,
Lições que a vida não cala
E alenta quem à paixão não rouba o fervor.
LUMAVITO, 17/05/2013