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Esperei por ti
À entrada da porta
Procurei-te
E em redor nada encontro
Aguardo um sinal teu
Ou doutro de quem eu sou
Algo que anuncie a tua chegada
Uma mudança, algo novo
Para quem
Já tanto sangrou
Outro caminho
Para este povo
À minha volta
Não almejo senão natureza morta
Linhas rectas
Linhas tortas em confronto
Com o aconchego
O calor que este lugar
Outrora viveu
Antes, contigo
Montra iluminada
Com projectores
De brilho intenso
Memórias que, no meu baú, adenso
De companheiro para amigo
De honesto para solidário
De quem faz do trabalho, arma
E do rigor, o seu caminho
Procurei-te na mesma rua
Onde juntos, sorrimos
Vagueei abaixo e acima
Na esperança de te olhar
Rebusquei-te na esperança
Que alguém alerte
Que estás perto
Bem perto
Logo ao virar da esquina
Deste tempo
Tempo triste, medonho
Vou até junto do mar
Quando está de bonança
Mas ele não me aponta
O caminho certo
Fora de qualquer rotina
Vem-me à ideia
Que sumiste
Mas não desisto
Longe vão os tempos
Que passeámos de mão dada
Tu e eu
Um Abril longínquo
Um Abril de menino
Chegaste pela mão
De quem não se resignou
Homem, capitão
Carregado de ambição
De entrega ao seu povo
E a revolta pela injustiça
Pela incultura
Obscurantismo
Deu lugar à libertação
De um povo
Sedento de oportunidade.
Cresceste em Maio
Amadureceste, anos a fio
Suplantaste adversidades
Deste forma ao rosto do talento
Subiste os degraus
Da escada da igualdade
Subiste ao planalto da cultura
E do mérito
Trepaste a montanha do saber
E do alto da colina
Espraiaste o olhar
Pela conquista de um povo
Quarenta anos a tua idade
Quarenta na província
E ainda na cidade
Quarenta anos em terra
E no mar
Quarenta anos após a guerra
Quarenta anos
E não vemos o teu olhar
Não sentimos o teu pulsar
E não sabemos onde cumpres
Uma pena de um crime
Que não cometeste
Não abraçaste nenhum mal
Ousaste ser livre
Não ouvimos tua voz serena
Em dias de vendaval
Tenho uma dor
Cravada no peito
Uma dor profunda
Uma dor que me corrói
E dói muito
Mas não…
Não me calo
Não aceito que me silenciem
Esta dor que a todos dói
Diz-nos onde estás retida
Sem ver a luz do dia
Se puderes, que podes
Grita bem alto
Que não estás perdida
Mas se estás amordaçada
Nós aqui, sem ti
Não somos nada
Nós aqui
Somos povo, somos gente
Somos malta
Nós aqui estamos todos
Todos sentimos a tua falta.
Nós aqui
Continuamos à tua espera
Não nos amedrontamos
Com o rugir
De uma qualquer fera
Nós aqui
Estamos prontos
Atentos
E para além da saudade
À noite, pela calada
Perseguimos-te
Pelo nascer da alvorada.
Nós aqui
Estamos famintos
Procuramos-te
Nós aqui
Queremos-te
Liberdade.
LUMAVITO
30/03/2014