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Era um dia entre muitos
Todos os dias
Todos os minutos
Daqueles
Que a vida consome
Um dia diferente
Mas só aquele
Envolveu toda a gente
Não mais se falou
Da cinzenta tristeza
Da miséria
Da fome
Era um dia de Abril
Manhã cedo
Momento talismã
Dia em que o medo morreu
Se apagou outra gente
Gente vil
Naquela manhã
Entre sussurros despertou
E veio a luz do dia
O dia em que
O filho, o neto, o pai e o avô
Se olharam de frente
Selaram o abraço
Com o adeus
A vinte e quatro
Rasgaram a tristeza
Agarraram a alegria
Foi nesse dia de Abril
Esse dia vinte e cinco
Que olhámos para trás
Esse fantasma da opressão
Angústia
Estômago sem pão
Esse bicho malvado
Jazia prostrado
No meio da cidade
Na mira
Da arma da coragem
Que disparou
Cravos de liberdade
No tempo em que respiramos Abril
Nos dias em que
O gelo evaporou
E
Do frio das noites escuras
Vislumbrámos o raiar do sol
Entre tantos, tantos mil
Gritos de revolta
Palavras de alento
Disparadas pelo
Brilho dos olhos
Do soldado que sorria
Cavalo à solta
Dentro daquela farda
Libertou-nos
da guilhotina
Das torturas
E vingou o cravo espetado
No cano da espingarda.
Foi nesse Abril
Que despertou a liberdade
Essa primavera do sorriso
Abril que nos trouxe verdade
Foi esse mês preciso
Foi esse mesmo soldado
Entendamos, deixou aviso
Liberdade não se compra
Conquista-se com sangue
Vive-se com entrega
Longe dos holofotes
Dormindo com a ousadia
Erguendo-se com a honra
Com braços mais fortes
Combatendo os farsantes
E a sua cobardia
Sem Abril
Igualdade será ausente
Sem Abril
Não teremos liberdade
Que possa seguir em frente
Abril é luta
É conquista
Abril é disputa
Permanente
Abril é e será sempre
O farol de quem sentiu
Que antes de Abril
Nenhuma voz sorriu
Mas este ainda é
O nosso Abril florido
LUMAVITO
01/03/2014