Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]


UTOPIA

por avidarimar, em 24.06.17

Se eu tivesse a certeza de quem sou

Talvez me pudesse conhecer um pouco mais

E saber porque ando por aqui

E para perceber o que posso vir a ser

Pois o acaso apenas conduz a nenhures

Mas não posso querer ser um outro eu

Só para me sentir cómodo

E não ser esse eu

Que não sei quem é

E o desconhecido é o prelúdio do abismo

 

Sei que a luta é a de um rio a desbravar caminho

E sempre que acaba o ciclo

A mesma água volta a calcorrear o mesmo percurso

E o sentimento é de quem não reúne simpatias

Certamente até de incompreendido

Mas a crença por algo mais superior

Retira-nos até a lucidez

 

Nos bancos de jardim do meu quarto

Sentam-se esse outro eu

Que desconheço

Com os seus comparsas de rotina

E todos desfilam silenciosos na sombra

Incluindo esse eu

Que olha em redor

E vê através da janela

Os transeuntes que passam céleres pela rua

Apinhada de coisas tão irreais

Como se a realidade fosse uma verdade única

E se a verdade se transformasse

Numa única e pura realidade

 

A verdade é às vezes real

Porque a ficção é um amontoado

De imagens que queremos engolir

Mas não faz da realidade a única verdade a ingerir

 

Cheira a febris e pútridas conversas de faz de conta

Latejam realidades arrepiantes e assustadoras

E o amargo que regela a garganta

E a torna seca como rocha

Como se trampa deslizasse até ao estômago

 

Verdadeiramente possível mas improvável

É o sonho do mundo com um pensamento lúcido

Transparente lógico e emotivo

 

Em cada passo de cada vagabundo

Solta-se a amarra duma palavra muda

Trémula e prenha de vácuo

E o diálogo que se suporia acolhedor e envolvente

É uma vozearia de sons esmagados pelos tacões

E um vazio de sentido e senso

Uma algazarra de absurdos

Um matraquear de monossílabos metálicos constantes

E a confusão gerada naquela ordem

Que ninguém conhece

Nem como funciona

 

As palavras resvalam húmidas

Como as paredes das cavernas

E alojam-se como lama

No chão escorregadio

Deste charco

Labirinto imundo

Que é a urbanidade selvagem e impiedosa

E o meu eu transforma-se no umbigo do mundo

 

Realisticamente possível

Mas dramaticamente improvável

É o pensamento se metamorfosear

Na realidade mais lírica e louca

De que o humano se consegue desprender

E continuar a lutar por ideais

E só por ideais

Apenas assistido pela metafísica

Ambígua e pobre

Como se Lázaro uma força divina

Que nos mantém ingénuos e puros

 

Matematicamente possível

Mas vergonhosamente improvável

É qu se cumpra

Que a sorte se pode buscar em qualquer quartilho da roleta

E que ela se queda

Sempre de igual modo do lado da fantasia

Como se o mundo material e físico

Não fosse comandado pelo campo magnético

Que faz  parar a bola da sorte

Sempre no mesmo quadrante

 

Contabilisticamente possível

Mas tristemente improvável

É a justiça que se diz cega

Não levante a venda

Para saber se este eu no banco dos réus

Não é um outro bafejado

Que mereça uma cega ajudinha

Por ser “gente respeitável e boa”

À luz da justiça criada pelo rasteiro humano

 

Irremediavelmente improvável

É este eu sentir

Que vale a pena não se deixar abater

Nesta luta desigual

E no entanto

Continuar a acreditar

Que vale a pena lutar

Pra mudar o imutável mundo manipulado.

 

 

LUMAVITO

20170624

CXC

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 23:01

CRÓNICAS DE UM PESCADOR

por avidarimar, em 22.06.17

Se há dias, a faina estava intensa, nesta altura, a azáfama do lançar das redes à mesa, e a ânsia por uma boa pescaria, dão o mote a um momento buliçoso e apaixonante. Os olhos do pescador brilham, como brilha o reflexo do sol nas águas calmas,e o vento está ausente. Talvez a sobremesa seja uma iguaria amiga da diabetes. Cheiro a sal e mar são o digestivo apaziguador. A seguir, o sossego ajudará a fechar este dia calorento, mas deveras saboroso.

20170622 IMG_0004.JPG

20170622 IMG_0007.JPG

 

 

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 22:10

À MESA, A FAINA

por avidarimar, em 18.06.17

IMG_0007.JPG

 

Em plena sala se faz ao mar

A faina é dura

Mas não pode parar

Não dão descanso ao pescador

A família e o dever

Cavalga uma brisa marinha

Pelas narinas o seu odor

Se à rede não vem sardinha

Não há pão na mesa pra comer

 

LUMAVITO

20170617

CLXXXIX

Autoria e outros dados (tags, etc)

publicado às 00:14


Pretendo abordar diversos temas da vida de um país, em claro desespero de sintonia entre governados e governantes. A forma pretende ser a poesia, com mais preocupação pelo conteúdo da mensagem que pela forma de estilo.

Mais sobre mim

foto do autor


Pesquisar

Pesquisar no Blog  

calendário

Junho 2017

D S T Q Q S S
123
45678910
11121314151617
18192021222324
252627282930

Posts mais comentados



Arquivo

  1. 2017
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2016
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2015
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D