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SEMENTES DE ABRIL

por avidarimar, em 14.04.15

Sentado              esquiço uma enxada

Para cavar umas palavas              enterroadas

Assisto ao nascer da alvorada

Aguardo a manhã fresca da horta

Para regar a semente do poema

 

Lanço o adubo na terra austera                da dor enquistada

Sacho a página engelhada da sebenta

Queimada pela torreira do sol

Aleiro as ideias perfiladas do momento

 

Apoio-me no calheiro sedento

Como uma bucha            De acentos tónicos

E pétalas de rosa             que guardei na lapela

Bebo água gelada           do poço da inspiração

E aguardo fixamente     o despontar dos acontecimentos

 

Hoje é Abril

E na horta           florescem as cores duma revolta

Corro a Santarém            espero paciente

Ver sair os carros de combate                   e os soldados

Ver brotar nas armas o poema

Com o cravo ataviado                   no metálico negro da espingarda

A arma que conquistou a liberdade

 

Abril é hoje

É sangue que corre nas veias de quem sonha

Abril é o voo rasante da gaivota

Que ecoa na Praça do Comércio

É ave veloz modo picado

Subiu ao Carmo                               Ver partir a ditadura

 

Abril é ponto de exclamação

Da coragem de Salgueiro Maia

É o grito que corre nas gargantas sequiosas

Abril é o jardim florido da esperança

Abril cresceu e é adulto

 

Querem-no matar          Sem que ninguém note

Basta não o tratar

Recorrendo à ideia apregoada

De que a água não chega a todo lado

Dizem que Abril se celebra só na rua

E não na casa da democracia

Por mim              vou regá-lo todos os dias

 

Para os que não o viram nascer

Nem viveram os traços do medo

Não sentiram a dor profunda    o estado de miserável pobreza

Para os que não souberam as marcas

E os nódulos da ignorância

Foram quarenta e dois por cento de analfabetos

A cultura ao nível de lixo

Como classificação fidedigna     de agências de Rating

 

A saúde em estado mórbido

Só acessível a meia dúzia             dos donos do país

Para a gentalha                                comprimidos para a s dores e febre

Quando muito  quando cadavéricos

Umas chapas aos pulmões

 

Aos que não sentiram na carne

Na alma de quem não se verga

Aos que hoje sentem outros idênticos

Como se fossem os mesmos sintomas

Os tempos não são os mesmos

Mas os processos não moram distantes

A esses                                eu hei de cantar

Não calo o aviso

Que para chegar a um pequeno ditador

Bastar dar poder a um remediado

Coelho renascido

 

Aos que agora se sentem injustiçados

E oportunidade é emigrar

Direi que vale a pena parar

E perceber

Que compensa saber Abril

Sentir a sua origem        conhecer a sua espécie

Alimentá-lo

Fonte de inspiração pra muitos

A ele

Todos devemos a liberdade

 

 

150411 IMG_0004.JPG 

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publicado às 23:04

INFIÉIS

por avidarimar, em 14.04.15

Doem-me as palavras

Que me atingem de arremesso

Toldam-me as ideias

Que são vendidas a qualquer preço

Choro o despudor dos gentios

Que por uma casca d’alho

Se viram do avesso

 

LUMAVITO

09/04/2015

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publicado às 23:02

RAPSÓDIA OBSESSIVA

por avidarimar, em 14.04.15

Desponta o sol pela matina

Rasgando a força da neblina

O dia despontou risonho

Evoluiu rapidamente

Com aspeto bem mais medonho

 

Das nuvens e do vento

Se colhe chuva com o tempo

Se sabiamente se diz em Abril

Não sei se por sorte

Estranhamente água em funil

Já que me bateu bem forte

Olha se fossem notas de mil

Já se torna obsessivo

Em vez de espírito criativo

 

Entranhado está o vício

De escrever coisas d’ofício

Rimando ou não

Alinhado ou em confusão

É tamanho do correr

Não atinge qualquer ser

Mas se sofre do contágio

É como barco em naufrágio

Dali só para o estaleiro

Não tem outro paradeiro

 

Correr é como ir sem destino

É um prazer clandestino

Que da gente corta casaca

Nem que seja de ressaca

Parar é meio morrer

Para quem busca prazer

E cuidar a saúde escolhe

Seja ao sol ou se molhe

 

O outro meio

Deixar de comer

Como o burro do espanhol

Com a arca cheia de favas

Morreu de fome

Ao pôr do sol

 

Chova a cântaros ou faça sol

Terra batida ou piso mole

Entranhado está o bicho

Sem tomar algum capricho

Em cima da relva

Fugindo ao lixo

Não sei se loucura

Ou obsessão

Só sei que me molhei

Mas quando a vontade

Toma força de lei

Pode ser tempestade

Mas desistir eu não sei

 

Escrever é resistir

É não ter para onde ir

Sem se levar a caneta

Na peleja do dia a dia

É a nossa baioneta

Numa constante idolatria

 

Bem terrível é lutar

De forma desigual

É correr o olhar

À volta do caniçal

Fixar a vista no chão

Ver torvar a razão

Travar o passo repentino

Sem saber qual o destino

Daquelas criaturas expeditas

Umas tais hermafroditas

Que se cruzam em confusões

Trocam tripas esquisitas

Que me causam alucinações

Vê-los passar modo apressado

Sem olhar para o lado

E sem tomar qualquer cuidado

 

E no trânsito em contramão

Está lançada a confusão

Avançam centímetros a fio

Em tresloucado desafio

Com os cornos espetados

Como não liguei à rima

Não sei se ainda por cima

Serão cornos ou serão chifres

Não creio que decifres

O sexo do animal

A velocidade é tal

Que em caminhos distantes

O que é agora

O agora já foi antes

 

É estranho mas é espantoso

Mais parece

Injetado intravenoso

Na pele causa erupção

Uma perfeita obstinação

Será bactéria ou uma virose

Será do ar ou overdose

Ou influência do Trancão

 

E a corrida já vai longa

Como longa a novela

Em tudo o que à volta vejo

Onde este rio

Toma banho no Tejo

 

Correr e declamar

Na caminho para o mar

Não se quedam os encantos

Sonhar e correr à chuva

Quem contém as emoções

Nos aprazíveis recantos

Pelo Parque das Nações

 

LUMAVITO

06/04/2015

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publicado às 23:01

NATURALMENTE O SILÊNCIO

por avidarimar, em 14.04.15

Hoje as palavras esvoaçam pela cidade

Circulam altas e em pregão

Nas ruas há gente diferente

Na descoberta deste mundo agitado

As ruas estranham os dialetos atrapalhados

Hoje há gente nova na cidade

Vieram ter com os parentes

 

Hoje não há gente na aldeia

O som das pedras ecoa sem limite

E as águas do rio recitam alegremente

Os desvarios do vale cavado

 

O cão é dono da planície

E lá longe

O sino declama uma estrofe do poema

Hoje brilha o som metálico do espantalho

E o sibilar das velas do moinho

 

Evidentes

Só os limões amarelos de maduros

Carregados de acne facial

E o sol que vigia os movimentos

Da sombra das casas vazias

Nos quintais

 

Escuta a brisa ao som da arpa

As cordas rangem docemente

Atenta o som dos violinos

Nas árvores que se agitam

No largo da aldeia

Observa a orquestra sinfónica

Instalada no anfiteatro

Do sopé da serra

Na encosta virada a Sul

 

Cantarolar

Só aos pássaros compete

Na sinfonia do silêncio

 

LUMAVITO

05/04/2015

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publicado às 22:59

CAMINHANTE SOLITÁRIO

por avidarimar, em 14.04.15

Um sorriso de alívio

Uma breve caricia na face

O respirar fundo

Sinal de acalmia

Sintomas de um caminho

Desníveis acentuados

Com subidas escarpadas

Dificuldades assumidas

 

Por vezes

A mão escorrega na saliência da rocha

O pé escapa do apoio na reentrância

O corpo treme de susto

Estatela-se no socalco

Dois metros abaixo

Esfolado nos cotos da mão

As calças rasgadas no joelho

Cabeça zonza

De costas            ergue o corpo doído

Lentamente…

 

Estamos vivos

O pé mexe

A mão sangra um pouco

Não é importante

Importante é estarmos de pé

E caminharmos

Essencial é o prazer de viver

 

O percurso é irregular

Mas segue em frente

Não volta atrás

O cansaço acumula

Até perto da exaustão

 

Um medronho                 uma amora silvestre

Um qualquer outro fruto do mato

Encostado a uma qualquer árvore

Arbusto ou inclinação de pedra

Ou de terra

Suave e inconsciente    Desliza até ao chão

Sentado              desconcertado

Da sacola pendurada nas costas

Sorve um gole de água

Um olhar à sua volta

Tudo está mais longe    difuso

Percetível           só o movimento da forfolha

De ramo em ramo

Movimentos bruscos    repentinos

Difíceis de acompanhar

A vista tolda

O sol vai-se        O corpo cede

E o sono profundo instala-se

Por ali                   Num local ermo

Como se da sua casa se tratasse

 

Ali mesmo          brota um sonho

Que cresce em cada segundo

Lança-se a planar

Em registo supersónico

Sobrevoando as copas das árvores

Na encosta

E as que crescem frondosas

Junto ao riacho que desliza fluente

No vale que ergue perfilado

O aqueduto que outrora

Matava a sede à cidade

 

O corpo perde o peso

E flutua

Basta bater os braços alados

E impele subida vertiginosa

Até ao longínquo zénite

Do paraíso

Por ali se demora            e vagueia

Como falcão predador

Em círculos esvoaçantes

À procura de uma presa

Que lhe dê o alimento

 

Rapina                  fogo que aconchega a alma

Parte singela de resistência

Sobreviver ou sucumbir

O corpo ave levita

E assiste ao romper do sol

No oriente

 

Nova fase           desperta

Restabelecido da jornada

Ergue-se lenta

E compassadamente

Retoma a marcha

Pelos trilhos irregulares da serra

O meio mais aprazível

Bem longe do borburinho

 

LUMAVITO

15/04/04

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publicado às 22:55

POEIRA

por avidarimar, em 14.04.15

Nas pedras empoeiradas da calçada

O sol torna-se baço

Nas passadas lentas arrastadas

A rudeza da vida emerge lei

Na poeira solta do caminho

Os passos ficam marcados

Pela força agreste das botas cardadas

Um velho caminha sozinho

Irrompe por entre os silêncios estios

Talvez água

Decerto mágoa

Dor em movimento

Quem sabe        por quanto tempo…

 

LUMAVITO

15/04/03

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publicado às 22:54

MÁGICA PAUTA DE MÚSICA

por avidarimar, em 14.04.15

Pelas ruas da aldeia        Passo a passo    poste a poste

Caminha no silêncio da noite escura      Mensageira de luz

A pauta passa suspensa               no silêncio

Transporta a essência do aconchego

Para os corpos                  Corpos encolhidos          regelados

Para que na noite fria    O Inverno fique mais acolhedor

Quando revelar o milagre           ao ligar o interruptor

 

Poste a poste                    Passo a passo   

Por entre a penumbra da noite                               Construindo partitura

Carrega                notícias do mundo         devoção religiosa diversão e cultura    

Enche o ecran   de sete anos de RTP

Pelas ruas da aldeia        a pauta de música           Alimenta saber

Pela pauta          na povoação      chega o tempo de lazer

Emoção para quem a vê

 

Pelos caminhos empedrados da aldeia

Circula uma pauta de música                     que pensava retilínea

Por entre as linhas          À luz do dia

Saltitam os pássaros      em cadeia

Nas linhas de pauta        poisam casais de rolas

Loucamente      apaixonadas

Envolvidas na conquista               como em contos de fadas

 

Entre as linhas de pauta               Chilreiam notas encantadas

Arrulhar de um pombo                corteja a sua noiva

Por entre as linhas de pauta      Os raios de sol esbatem-se

Na estrada empoeirada da aldeia

Por entre as linhas do pentagrama

A vida flui como canto de sereia

 

As notas pulam soltas   Na pauta da aldeia

Clave de sol       oitavas                 dó ré mi               semicolcheia

Passarada em voo          pipilante

Meigas                 irrequietas         doces criaturas

Em mágica vida em grupo           comitiva ambulante

 

Por este roteiro                               de notas de música

À aldeia chegou mais vida          os putos boquiabertos

Os desenhos animados                               filmes de cowboys

Histórias de encantar                   

No alto destes postes                   corre a alegria

Que dá cor aos corpos solitários

Aos corações amargurados       de uma jornada difícil

Nas linhas desta pauta                 corre suspensa

Nova página de esperança

 

Talvez por estas linhas  chegue o fim do abandono

Talvez estes postes                        uniformemente              espaçados

Que soletram    em uníssono    “CAVAN -mil novecentos e sessenta e três”

Nos arranquem da solidão

Talvez estes postes                       apontem alguma vez

Para um céu mais risonho

Talvez esta pauta            cante a sonata

E o caminho do futuro                  deixe de ser mero sonho

 

LUMAVITO

03/04/2015

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publicado às 22:53

APENAS AS EMOÇÕES

por avidarimar, em 14.04.15

As emoções são como ferro incandescente

Apenas elas       toldam o ar em seu redor

Marcam fundo                 tudo o que tocam           como gado bravo

No rubor intenso flamejante    Ecoam no silêncio do tempo

Por vezes só a água as arrefece      

Por vezes…

 

LUMAVITO

02/04/2015

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publicado às 22:51

CERTO CERTINHO NÃO SEI

por avidarimar, em 14.04.15

No dia em que a certeza chegou

Com mais dúvidas fiquei

Sorri      E parado              Sonhei

No dia em que acordado

Fiquei   De incertezas    Enleado

 

Certo certinho O espanto Em redor

Das montanhas                Carregadas de emoção

Que bem cheiram a loucura

No meio de farta e rara beleza

Se encontra a paz que se procura

 

Certo certinho não é

E não sei bem como será

Se aquilo que mais acredito

Não toma forma de senso

Sem estar em permanente conflito

Certo certinho sem dúvida

O certo é que eu não sei

Se usando as armas leais

Nesta luta tão desigual

Alguma vez vencerei

 

LUMAVITO

29/03/2015

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publicado às 22:50

SONHOS

por avidarimar, em 14.04.15

Sonhei que acordei de olho arregalado

E corria pela estrada      Entre as mãos

Um sonho macio             como velo de algodão

Preso a partir do céu                     Um fio de linho

Que liga o meu sonho                   Ao infinito

 

E o sonho subiu                               Subiu

Agarrado àquela linha                   Cordão umbilical

Do paraíso                          E não mais o vi

Juntou-se a tantos outros           Que se esfumaram

 

Com um salto    Agarrei um outro            Que esvoaçava à minha frente

Não o soltei mais             Dobrei-o em quatro

Como boletim de voto                 Ou de protesto

Coloquei-o         Bem no fundo                  Da primeira gaveta

Da mesa de cabeceira                   Da minha cama

De sonhar           Ou de acordar

E o fechei            Com a velha chave         De S Francisco

Para que não se evaporasse

 

Fechados nesta gaveta escura                  Para que não acordem

Apenas os sonhos fantásticos                   Que acalentam o espírito

Tornam leve o pensamento       e a vida corre suave

Como a aragem matinal               fresca e deliciosa

 

Sonhei                 Sentado              Na borda da minha cama

Que o sonho                     Não era fantasia

E o sonho era real           Autêntico           Palpável

Que vivíamos neste cantinho                    Tão solarengo

Bafejado pela brisa do mar

Cavalgávamos                 As nuvens esvoaçantes

Azáfama permanente                  Árduo trabalho

Banhado de satisfação                 Pelo dever cumprido

Realizados

 

Julgava-me acordado                    E sonhei

Que as nossas chefias                   Neste paraíso

Transbordavam de competência

Navegavam no desapego

Inspiravam tolerância                   E confiança

Pensava              Acordado            E sonhei

Que voltávamos a casa                                Felizes

Que entre nós                  A fome não pairava

A saúde era pujante

A educação era dinâmica             E a cultura           Extravasava

Sonhei                 Que a emigração jovem                              não existia

Alimentada        Pelo desemprego

Sonhei que o Pai Natal….

Mal atinjo o despertar                  cravo as mãos no lençol

Dou um pulo na cama                   não encontro a chave

Oh uma dor lancinante                 rasga-me a meio

Frustração          Alma desventrada         

De quatro anos                De inexplicável castigo

 

LUMAVITO

28/03/2015

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publicado às 22:49

PÔR DO SOL

por avidarimar, em 14.04.15

Rescrevendo a elipse                    Sulca o céu

Desce calmo      Sorrateiro           Resplandecente

Um volátil desejo de fruir

E de fluir              Pelos confins do infinito

Dilui-se no horizonte

Entre leves azuis celestes

Pincelado por etéreos flocos brancos

Das nuvens esvoaçantes

O contraste cinzento

Das teimosas                    Últimas folhas secas

Que se soltam das árvores espantadas

Quase nuas        Desventradas

E por entre os ramos esguios

O círculo              Amarelo intenso             Torrado

Do astro maior                 Marca o meão

E ao fundo

Sulcos dos raios vermelhos de luz

Diluídos nos confins

Qual osmose em solução

 

LUMAVITO

14/03/2015

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publicado às 22:05

A NOITE DE ONTEM

por avidarimar, em 14.04.15

A noite de ontem

Foi passada à lareira

Olhares cruzados

Reacenderam

A outra fogueira

 

Como se estes corpos

Pela noite de ontem

Recuassem no tempo

Paixão a voar

Como nuvens ao vento

 

Como putos novos

Na ansia e ardor

A noite de ontem

Carregou de fulgor

 

Na noite de ontem

Ficámos os dois

A sala pra nós

E o resto do mundo

Ficou pra depois

 

Na noite de ontem

O frio era quente

O ar escaldava

E o espírito dormente

 

Da noite de ontem

Ao final da noite

Acordámos presos

Em singelo acoite

Ao final da noite

Da noite de ontem

As cinzas em monte

Sem que nada contem

 

LUMAVITO

02/03/2015

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publicado às 22:04

TU

por avidarimar, em 14.04.15

 

Tu que olhas em redor

E me fitas com desdém

Tu que me encaras

Com um misto de simpatia         E rancor

Deixas-me angustiado  Agarrado à minha dor

 

Tu que me motivas        Ou me assaltas

No que tenho de mais íntimo

Tu que me viras costas

Carregado de desprezo

Ou agressivo     Me enfrentas

Assemelho-te   Ao Cabo das Tormentas

 

Tu           Figura nojenta                  Infernal

Tu que fugiste ao mundo real

E percorres os corredores da vergonha

Só reconheces na coronha

A caneta da tua mão

Tu que fizeste do fundamentalismo

O fundamental da tua razão

 

Tu hediondo bombista suicida

Que te deixaste manipular

És criatura perdida

Para ti não há sol             Não há luar

De ti      Ninguém tem dó            

Nem pode ter

Podes à vontade morrer

Mas vai só

Vai pra bem longe do mundo

Se quiseres        No deserto profundo

E sabes que mais

Não te escondas na cobardia

Corre sem parar

Vai-te matar

 

Tu que me olhas nos olhos

Ou me contornas            Alterado

Obrigado por seres tu

Por estares ao meu lado

Quando sentes que deves estar

E quando eu não quero que estejas

Só te digo           Embasbacado

Apesar de tudo

Obrigado

 

Tu que fazes de inconveniente

E que tens atitudes        Que entendo irracionais

Tu que me dás na cabeça

E me irritas         Com esse teu ar refinado

Por tudo isso                     Obrigado

 

Tu que me chateias        E me aborreces

Quando me chamas à razão

Porque não sei quem a tem

Apesar de tudo                               Pese o vinagre da vida

Desafias-me forma atrevida

Abandonas-me                               Deixas-me a falar sozinho

Fico a girar em roda livre como as velas do moinho

Mas nunca vais pra longe

Permaneces à distância                               Inteligente

Rondas-me        E incomodas-me

Com essa sombra permanente

Arde-me a cara pela ânsia

Obrigado por me dares essa sombra

Debaixo dum sol tão tórrido      E abrasador

E me livras de tanto calor

 

A ti         compreendo-te

O teu lado paciente

Tu que                 Frequente          Lidas comigo

Não te centras                 No teu umbigo

Quase sempre                 Me vês exposto

Fraquezas           Nota-las todas                  No meu rosto

De longe sabes os meus limites

Ainda assim não desistes            E insistes

Que posso fazer bem melhor

Se usar de persistência                E mais rigor

A ti         Amigo                  Amiga

Digo-te                                Com todo o fervor

Não me chateies

Sem qualquer favor

E de modo emocionado

Acrescento                        Obrigado

 

LUMAVITO

02/03/2015

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publicado às 22:02

EU

por avidarimar, em 14.04.15

Eu…

Eu quero saber quem sou

Esta forma insistente de questionar

Eu           Que não vejo em mim

Uma fórmula regular

Com estes genes            Que não conheço

Quero saber porque sou eu

Quero   Por tudo o que olho       Ter apreço

E saber que        Apesar de tudo

Esse ser não parou         E cresceu

Atingir o limite do porquê

E para lá da ilusória aparência

Para além de olhar         Ainda vê

 

E eu cresci          Pensando

Não recordo o trajeto de início

Nem sei que caminho   Desde quando

Sei que estive bem perto do precipício

E todos os dias sem parar            Pergunto

Mais de mil coisas por saber

Mil questões de qualquer assunto

Todos os dias                    Mais perguntas num enredo

Em casulo

Tantas questões em segredo

Sei apenas          Que quero ir do horizonte          para além

Tantas coisas eu formulo

Sem que para partilhar                 Tenha alguém

 

Todos aqueles em que chorei

Os dias todos sem fim

Todos os dias em que ri

E os sonhos

Os sonhos que de facto                               Sonhei

Os sonhos que pelo caminho    Perdi

Todos eles          Deram força      Deram alento

Quando acordado           Me encontrei

Quando exausto             Sonolento

Mas não descurei

Fixando-me com olhar atento

 

Eu…

Eu sonho

Que quero ser mais alguém

Quero continuar a ter sonhos

Muitos mais                      Tantos

Mas quero também

Uma cabeça pensante

Dois pés assentes

Que me aflige desequilibrar

Nem que seja por um instante

Tenho desejos prementes

Que me fazem despertar

Sem que me obriguem a obedecer

Eu quero ser…

 

Eu quero ser eu                               Quero ser alguém

Que Para lá do material                                Se sente ser

Alguém que       Para lá do mortal             Deixe perguntas

A que alguém consiga responder

Nem é preciso que mo diga

Mas se quiser   Me indique o caminho

Todos os dias quero aprender

E alimentar este bichinho

Mesmo depois dum dia cheio

No limite da fadiga

Desfrutar de mim no que creio

Haja alguém que me diga

Que há muito por saber

 

Quero saber porquê

Porque nada tendo        Me sinto bem

Me sinto cómodo

Posso ter frio    Posso não estar agasalhado

Mas fome           Não

A fome não me deixa pensar

Não suporto      Não aguento

Provoca-me ansiedade                                Paralisação

Mais que o conforto      Careço de alimento

 

E assim

Sinto-me confortável                    Sinto-me muito bem

Já que perguntas            Não me faltam

Para tentar responder

É como Comer

Saborear tal prazer

Viver sabe-me tão bem               É tão agradável

Estar aqui neste degrau                               Desta escada

Tão ingreme      E irregular

Esta escada da vida        Que é interminável

Mas sei também             que há para mim

Um último degrau

Não sei se é o fim

Não me agoniza

Nem o sinto mau

Sabemo-lo         É a natureza a funcionar

Tudo nasce        E tudo acaba

Não temo esse último degrau

Onde hei de tropeçar

Sinto-me convicto          E não minto

Desconheço se é instinto

Que quando acontecer

Mais perguntas                Terei por fazer.

 

Qual é a força motriz

A mola que impulsiona

Que a qualquer pergunta me diz

Para além do que questiona

Que a essência de viver

É o contínuo      Questionando  Aprender

 

LUMAVITO

22/02/2015

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publicado às 22:00

RAPSÓDIA CORRIDA

por avidarimar, em 14.04.15

Noventa e quatro minutos         Interrompidos

Por um lápis e uma sebenta

Mil ideias desfiadas

Em ritmo de passo corrido

E o prazer que se ostenta

Não é cansaço                  Antes                   Entusiasmo desmedido

Com sabor a liberdade

Num percurso campestre

Em que os minutos não contam

E dá jeito             Agilidade

 

Mil ideias em turbilhão

Todas almejam chegar primeiro

O papel está receoso

De chegar à exaustão

Não importa o dinheiro

Nem tão pouco a sonhar

Palavra                                A palavra             Faço que coso

Como se as palavras      Se pudessem costurar

 

Mil ideias e uma cabeça

E a expressão de sentidos

Sem nada que nos impeça

De escrever todos os motivos

As terras cultivadas

Os terrenos de baldio

As culturas semeadas

Lançadas no tempo frio

 

A erva que cresce selvagem

E as ovelhas a comem frondosa

As canas baloiçam com a aragem

E a água do rio                  Corre buliçosa

A enxada            Na horta              Fica sozinha

E a lua                   Suspensa no céu             caminha

 

 

E da ponta do fio que se puxa

Desata-se o novelo

Segue a estrada o trilho e a ponte

É a couve            O olival                 E o bacelo

Sobe a serra      A encosta           E o monte

Precipita a cascata          A água corre na fonte

Em redor             Olhar com minúcia

Ao longe             O troar da ambulância

Rodar veloz ao sabor do vento

Rasgar no céu o intenso cinzento

Contornar a cerca           A rede                  Subir o muro

Ouvir a brisa em leve sussurro

Segue veloz o caminho

Levanta a cabeça             Enquadra o moinho

Ouve o melro    Fixa a vaca e o pato

Salta à frente do sapo e do rato

 

A correr passa o tempo

E que belo passatempo

Corre ao lado o rio

Parado fica mais frio

Para trás ficam                O velho                E o novo

Também eles são do povo

Sobe a Sul           Desce a Norte

Correndo será mais forte

Em cada passada

Vai crescendo a jornada

Ao passar por cada flor

Floresce intenso odor

Toca o sino no cimo da igreja

A árvore do adro braceja

O galã                   A dama corteja

Sobe o tom do poema

Arrefece o corpo

Cresce o dilema

Como terminar o discurso

E atingir firme porto

Sem o perigo de acordar morto

Pelo tédio e apatia

Corrida dançada              Ao som

De magistral sinfonia

Por entre vales                                E serrania

Sebes                   E arbustos

Saborosos          Noventa e quatro minutos

 

 

LUMAVITO

22/02/2015

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publicado às 21:59

TALVEZ

por avidarimar, em 14.04.15

E se as águas do mar se libertassem

Subissem vales                               Corressem encostas

E lavassem por dentro  Todas as mentes

Lhes arrancassem o calcário impregnado

Pela sede de domínio

Se a força das ondas lhes galgassem

As fétidas crostas da maldade

Quanto lixo se soltava

E assentaria no seu fundo

 

Se o sal da água do mar anulasse

A ação mecânica do fútil

Se a espuma das ondas

Ensaboasse a avareza

Talvez não houvesse tanta gente

Cogitando clamores de farsa

Batendo com a mão no peito

 

Se a lava do vulcão escorresse

Pelas encostas do cerebelo

E petrificasse primárias motivações

Talvez o fármaco da hepatite

Nos chegasse sem negociações

 

Se a força dum Tsunami

Sufocasse a ganância

Talvez não morresse tanta gente

Ao largo de Lampedusa

 

Se as tempestades tropicais

Se esticassem para Norte

E enterrassem interesses estratégicos

Quem sabe se a paz

Não visitaria a Ucrânia

 

E se a natureza se unisse

Com todas as suas forças

Se a força natural

Expurgasse a mente

E a devolvesse                 À condição de humano

Talvez o mundo fosse mais fraterno

Talvez fosse mais autêntico

Talvez houvesse mais respeito

Pela vida dos outros

Quem sabe se e talvez

As pessoas fossem mais iguais

Talvez fossem…

Talvez!

 

LUMAVITO

21/02/2015

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publicado às 21:57

AOS SETE VENTOS

por avidarimar, em 14.04.15

Apetece-me voar

E espalhar a mensagem

Que há um amanhã pra viver

Depois dum hoje tão intenso

 

LUMAVITO

17/02/2015

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publicado às 21:55

OS DIAS PASSAM COMO NUVENS

por avidarimar, em 14.04.15

Dias que o já foram

E o rasto fica

Para lá dos etéreos momentos

Na retina permanecem

Desprezando o talento

As batidas do coração

Alojado o timbre vocal

Que registou no intelecto

 

Doces recordações

No açafate das memórias

Partículas de vida            Escorrem

Nas paredes do cálice de licor

O doce que fica                               O sabor

Dos laços apertados

Que cimentam o amor

 

E os dias vão

Esbate-se o ressalto

Do registo da voz

Consome-se a película das imagens

Que estão para além de nós

Do olho na retina            Registadas

No ímpeto das vertigens

A paixão fica colada        A sonhar

Como sola de sapato

Que se desgasta              Com o andar

Perdida por entre o mato

 

Faz recuar           Nos dias que já não são

E pensar que foi ilusão                 E já não é

Acordar noutro lado

Procurando firme pé

Mas a voz presente continua

Replicando os momentos

Recordando as imagens

Ao reflexo da luz da lua

 

O tempo passa                                O sorriso continua

Sabor a mel        Deleite

Sempre presente

Cada vez mais forte

Mais leve que azeite

Paixão é labareda

É mais acha estaladiça

Crepita no cérebro da gente

Ateia qualquer coração

Que ouve a voz

E reflete a imagem

À medida que os dias passam

E se consomem

Em alta voltagem

 

Não choro o tempo        Que o já não é

Pelo prazer de ser          E sentir

Sorver mais um dia         Expoente maior

Em crescentes alegorias

Nem que seja ao luar

Pra todos os dias

Termos mais um pra contar.

 

LUMAVITO

20/02/2015

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publicado às 21:53

FAZ DE CONTA

por avidarimar, em 14.04.15

 

 

Como se o vento que sopra

Nos trouxesse ventura

Como se o entrudo nos levasse

Estes dias de amargura

E se a máscara do faz de conta

Eliminasse o cruel real

Eu riria o ano todo

E jogava o Carnaval

 

LUMAVITO

17/02/2015

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publicado às 21:52

DISPARO CERTEIRO

por avidarimar, em 14.04.15

Viver nesta pobreza não vale

Não escondo

Uma fúria me invade

Apetece-me disparar

Com o canhão de tamanha loucura

Um grito de revolta para o ar

E atingir em cheio

A trincheira desta tortura

 

LUMAVITO

17/02/2015

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publicado às 21:50

AS CORES DA VIDA

por avidarimar, em 14.04.15

Deambulei como noutros dias

Rumo a meios   Paisagens           Em que o verde é cenário

E os regatos escorrem pelas colinas

Os tufos de erva crescem frondosos

Como crescem os rebentos das árvores

Agarrados aos ramos que suportaram despidos

A queda das folhas         O rigor do Inverno

E a solidão dos dias e noites pardacentas

 

A passarada reaparece Saltita pelos ramos e rebentos

Cantarola            Repete o mesmo refrão             Espaçado por cada voo

O sol rasga timidamente              Por entre os troncos eretos

Rugosos              Impávidos          Indiferentes

Já que ali estão                                Para dar corpo à vida

Que entra por todos os lados    Marca presença imponente

Algumas com séculos    Naquele lugar   Sem cansaço.

 

Ovelhas e cabras desfrutam do manjar à disposição

Viçosa   Húmida                               Verdejante

Escorre pela goela          Remói

Na ovelha cresce a lã     Na cabra os chavelhos

Que pelejam nas marradas

Na cabra como na ovelha            Cresce o amojo

Ao fim do dia dão-nos mais leite

 

Piso a terra         salto a erva        Paro      Contemplo

E o tempo passa                              E não damos pelo tempo que passa

E a memória da tasca     que fica nos contrafortes da serra

Vem à baila        E baila no espírito de transeunte

Deslizo encosta abaixo                 Com a sacola às costas

Nem me lembro o que lá vem  Não recordo o que tem

A fome passou despercebida    A memória visual

Está mais rica

 

À porta da tasca cinzenta            Cinzento escuro

Tom predominante        Nas paredes      No chão

Nas pessoas à entrada                 Nos tampos das mesas

Toalhas cinzentas            Pratos baços      Copos baços

 

Nesta tasca cinzenta      As pessoas à entrada

Trincam pevides              Tremoços           Mascam devagar

Como se o tempo assim              Corresse mais devagar

Balbuciam pouco mais  Que sílabas impercetíveis

Olhar esparramado        no copo de tinto

À ponta da mesa             Logo à entrada

E as pessoas à entrada regurgitam azedume

O boné cobre a careca  E a mão coça por cima da boina

Por cima do cabelo que já não há

 

Na tasca cinzenta            No sopé da serra

O sujo das paredes        E do chão

Não se nota       Porque as paredes são cinzentas

E a sujidade sente-se    Mas não cheira

Porque o cheirinho do piano no churrasco

Sobrepõe-se ao fedor do chão

E à gordura das paredes

Do carvão incandescente            Que grelha o robalo

A dourada          As febras            E a espetada mista

 

Dou por mim já sentado              frente ao pires de azeitonas

Desfio pensamentos dispersos

Descasco imagens de há poucos minutos

Onde a sujidade não se nota

Os pensamentos correm rápido

Mais rápidos que a água do regato

 

Agora parado    Estacionado naquela cadeira

Começo a desfiar o tempo

Aquele tempo que já passou

E permanece enraizado em imagens

 

Feitas as contas

A minha história tem setecentos meses

Menos doze dias

Ou doutra forma             vinte e um mil

Duzentos e noventa e cinco dias

Depois da data em que                                Para mim

No mundo se fez luz

Uma luz que continua acesa      Crepuscula

E que dá gozo ver alumiar O cinzento da vida

Pra que ele fique menos baço

 

Os macaquinhos do meu sótão

Saltitam alegremente de ramo pra ramo

De árvore pra a seguinte

Mantêm-me meditativo

Sinto que nestas quinhentas e onze mil

Horas de vida    E mais algumas

Consegui aprender        Que o melhor proveito da vida

Observando os pormenores

É todos os dias correr

 

Repentino          Voltei à vida       Com o bater do prato    À minha frente

E o forte odor da costeleta de novilho  Cor acastanhada              Mal passada

Salada de verde e vermelho vivos          Batata frita amarela dourada

E no copo            Bem tinto

 

LUMAVITO

7/2/2015

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publicado às 21:48

HOJE SIM

por avidarimar, em 14.04.15

Hoje não me apetece   Dizer o que sinto

Nem contar       O que me vai na alma

Não vou dar largas ao instinto

Desfilarei na maior calma

Num perfeito labirinto

 

Hoje      que o céu esteve brilhante

E que a luz          Resplandeceu

Não foi apenas por um instante

Clamei por Hipnos e por Morfeu

Por entre um sonho cintilante

 

Hoje      Calo a revolta

De injustiçado me sentir

O pensamento anda à solta

A vontade          Ereta como menir

E a espada sempre oculta

 

Hoje      Hoje não

Não darei asas à clareza

Da falta de inspiração

Muito menos à certeza

Do porquê da desilusão

Por quem me menospreza

 

Hoje      Hoje sim

Hoje esteve um lindo dia

Um belo dia       Enfim

Foi real                 Ou por magia

Não sei                Se foi por mim

Mas lá isso foi

Não fora o sol   E terminaria

Numa brutal berraria

Este dia         Que ainda dói

 

LUMAVITO

24/01/2015

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publicado às 21:46

NEVOEIRO

por avidarimar, em 14.04.15

Neste meio bucólico

Escorrendo das encostas

A água desce barrenta

Instala-se espírito melancólico

Só as sebes mais próximas dão mostras

Quando o nevoeiro cresce

E assenta

 

Aloja-se o frio das pedras

O ar despido das árvores

Pisando selvagens          As ervas

Sem que se vislumbre o além

Em redor             Ninguém

O casaco apertado

De quem deste desconforto

Medo não tem

Por viela              Ou caminho torto

Errante                A qualquer lado

Meio vivo           Meio morto

 

Visível   Só a sombra do nariz

À frente              Mais dois palmos

Objetos                               Formas difusas

Indefinidas         No olhar

Não há pássaros              Não há flores

Não se ouve o chilrear 

Não se sentem os odores

A não ser das coisas húmidas

Trespassadas de bolores

 

Gélido                  Registo o momento

Sem grandes energias

Sem luz que se veja

Sejam noites     Sejam dias

Ar cansado         Mãos frias

Arrepiante         Calma a pairar

Por fora               E por dentro

Não há sol          Não há vento

Rosas murchas no quintal

E nos riachos     A água corre

Alegremente

Forte é a torrente

Cada vez             Com mais caudal

 

LUMAVITO

17/01/2015

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publicado às 21:44

À FLOR DA PELE

por avidarimar, em 14.04.15

Como as emoções esvoaçam

E se ligam a figuras

Correm o ciclo   O hemiciclo lunar

Dão voltas          Dão comigo às voltas

Escarafuncham as memórias

Que saltam como mola

Por entre lágrimas          De satisfação

 

Ou causam dor                 De abrupta violência

Essas emoções                 Que não se conseguem congelar

Guardar pra outros momentos                Mais próprios

Que as possamos receber

Ou enfiar na gaveta       E esquecer

Por enquanto

Não

Elas ficam mais                 Massacram

Lançam ácido na minha caixa

De memórias

E vão-se              Consomem-se

 

Emoções             são um avião

Rapidamente                    Com impacto

Faz-se à pista

Resguarda-se no hangar do meu cérebro

Por ali permanece

Reabastece-se                 Levanta voo

E vai       Célere                  Desaparece no horizonte

Rumo ao infinito

O rasto                 só a borracha queimada              Na pista

A marca               Essa ficou            Na memória

Que deixou        Por apagar          alguém o há de ou não

Eu fiquei com a imagem               que se esfuma

No fogo dos dias             que sucedem

E consomem os neurónios.

 

Correm nuas     Pelos labirintos

Deste quintal

Agitando as asas

Que já não são suas

Roubadas durante a noite

Levantam voo picado

O pescoço          Inclinado à ré

Procurando o zénite

Perdido do alcance da vista

 

Ah se as emoções fazem chorar

Deixam no ar um perfume

De violeta           ou rosa

Jasmim

E quando o cinzento do céu       Nos invade

E os olhos se fecham     Percorrendo o infinito

Giram em torno do jarrão

Aperaltado         Com as pétalas secas do cardo

Que por aí colhi                               Não pelo odor

Antes pelo rigor da forma

E temperamento.

 

Ali estão              Quietas

Tristes                  À minha frente

Se lhes toco       Picam

E partem-se       Desfazem-se

No chão               Já nada significam

Ensombradas                    Pardacentas

Escondidas na penumbra da noite

Até que uma vassourada            As remova

E na memória permanecem

 

Oh as emoções

Já são amarelas                                Icterícias

Cadavéricas

Já não me surpreendem

O coração está mais duro            Mirrado

Não bate tantas vezes

E a alma?             Será que ainda anima?

Será que a tenho?

Não sei                Não a vejo          Não a sinto

Nebuloso ou transcendente?

Abstrato?

Mas sinto vida                  E entendo-me criatura

Não sopra como a brisa de norte

Que talvez me traga outra emoção

Arrepia-me        Cutânea

Do momento

 

Deixo o coração               Deixo a alma

Largo tudo          Procuro razão

E parto em busca do “eu”

Disfarçado de “imperturbável”

E “valentão das dúzias”

 

Não…    Não quero dizer

Que estou emocionado

Por não saber quem sou

Nem ao que vou

Não me atrevo a pronunciar

Que outra me invadiu

Isso agora           Já é coisa de fracos

Homem que o é              Não mostra

Esse lado piegas

Faz-se forte       Aguenta              Estoico

E se não conseguir          Se fraquejar

Quando a dor é maior que o furor

Esconde-se        E berra                 Grita

Chora

Sem que ninguém note

E bem longe do mundo

De circunstância

 

Assalta-me a melancolia

Sentado no morro          Junto à praia

A olhar o mar

O céu charmoso              Salpicado

De leves flocos de algodão

As gaivotas que sobrevoam

E nada me dizem             Passam indiferentes

Não me ligam    E continuam.

 

Ao final da tarde

Vejo lá longe     Bem longe

Passar uma cidade flutuante

Dizem                   Um paquete

Vi-o n cais           A despejar gente

Como formigas famintas

Apressadas

 

Agora ruma ao oceano

Com sete mil olhos         Que comeram todas as ruas

Tasquinhas da baixa       E do bairro

Da Sé d’Alfama e Mouraria

Esses sete mil   Que me observam

Eles correm mundo

Vieram saber Lisboa

E já se vão

À tona                  Deslizam             Ébrias

Injetadas pela brisa do Tejo

Dizem que o oceano

Não se mede em quilómetros

Será que tem fim?

Oh emoção!

Os minutos não contam

As pedras não mexem

O céu escurece                                E assalta-me

Um remoinho de ansia

Um reflexo de despertar

Uma flecha de Cupido

Reboliço              De paixão

Olho esbugalhado          Holofote

Reconhecido     Sempre disfarcei

Publicamente   Não assumi

Desde o primeiro projeto           De vida

Puto inconformado        Já não consigo reprimir

Permaneço apaixonado.

 

Rebusco              E encontro motivação

Sentir    Respirar               Observar

Luz do sol            Água     Mar       Céu azul

Ar           Horizonte           Infinito

Rios de pensamentos corridos

Interligados       Entrelaçados

“Kamasutram”                 No gozo dos sentidos

Preceito moral                 Ritual    Desejo

Amo a Vida

Amo as pessoas                              Que se permitem amar.

 

LUMAVITO

12/01/2015

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publicado às 21:41

VONTADES

por avidarimar, em 14.04.15

Simples como palhas     E fenos

Doces como corações amenos

Claras como as águas dos rios

Pilar de todos os desafios

Estrada de todas as pontes

Buscando outros horizontes.

 

Concretas como os sonhos

Distantes            Nos pesadelos medonhos

Reais como as nuvens

Enérgicas como os jovens

Brilhantes           Como as estrelas

Pintadas com aguarelas.

 

Escondidas como as vergonhas

Se tristes             Não as proponhas

Apaixonadas     Por seres perfeitos

Livres de preconceitos

Leves como as gaivotas

Elásticas quanto afoitas.

 

São as indomáveis vontades

De nós                 Singelas verdades

São-no a nossa espada guerreira

A estrutura primeira

Da afirmação consciente

Do ser enquanto gente.

 

É o elemento primário

Do percurso diário

Razão que sustenta o mundo

Para o sentir mais profundo

É de mim             concurso justo

Para o deixar mais robusto.

 

LUMAVITO

08/01/2015

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publicado às 21:39

FESTIVAMENTE

por avidarimar, em 14.04.15

Nesta época festiva

Celebra-se         Pobreza

Fome    Desemprego

Mentiras dos políticos   Desassossego

Neste Natal de loucos

Arrastando-se  Compassadamente

Nos corredores                               Do centro comercial

Nos vidros embaciados pelo bafo

Esta gente

Que morre aos poucos

Sendo que pouco tenha

Na mesa ao jantar

Na lareira arde a lenha

No bolso apenas trocos.

 

Euforia desmedida

Compra consolas             Peluches             Chocolates

Gomas de consumir o tempo

E o bicho da ansiedade contida

Esta gente          Triste gente

Aparentando toda a calma

Com cara sorridente

Disfarçando o que lhe vai na alma.

 

Preces ao menino

Ai que ouse algum cretino

Não entrar no ritual

Da imagem do Natal.

 

Alguns vão à missa do galo

Cativos                                Fervorosamente

Do Jesus menino

O poder inconsciente

Da fralda de linho

E da vaca indolente

Dos camelos      em pleno deserto

Com a estrela por bem perto.

 

Vêm da missa do galo

Que amanhã já é assado

Vão pra casa      Trocam presentes

Comem fritos

Bailarotes           Pimpolhos

Filhoses quentes

Sonhos benditos.

 

Animam-se

Do diário tédio que subsiste

As escuras nuvens do dia

Dos dias invariáveis

Que nada trazem de novo

A não ser mais tortura

Imutável horizonte deste povo.

 

É Natal                 Ou já não

Já passou

E a louca euforia por cima

Para esconder a monotonia

E novo ano se aproxima

Celebrado                          Em estridente cacofonia.

 

As lojas voltam a encher

Champanhe       Marisco

Mais comida      Bem bebida

Irrompe pelas gargantas

Empanturram-se

Coca cola             Cerveja

Outras bebidas de estalo

Animados           Empolgam-se

Abraçam-se beijam-se

Ao tocar as badaladas

O ano vai ser novo          Vai ser muito bom

Nestas gargantas bem regadas.

 

Bandulho atulhado

Cérebro perturbado

Perduram até à exaustão

Romper da aurora

Traz securas

Fazendo das tábuas       Colchão.

 

O que resta todo o ano

Olheiras               Mau estar

O desejo de coisas novas

Na vida do quotidiano

Rápido virou azedume

Nada mudou     As mesmas trovas

Nem o calor de algum lume

Poderá estas mentes arribar

Já que de pensamento velho

Não se faz bom conselho.

 

LUMAVITO

05/01/2015

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publicado às 21:37

ESTAÇÃO DE TRATAMENTO

por avidarimar, em 14.04.15

Tenho uma vontade indomável

De sorver vida a pulmões escancarados

Devorar os dias aos bocados

Rumo ao interminável

 

Sonhar que o prazer é como luz

Vai-se quando o sol se esconde

Pestaneja com a lua

Que o olhar seduz

Que não tem fugir por onde

Até que o astro celeste resplandeça

E o dia seguinte substitua

O lixo da minha cabeça

 

LUMAVITO

04/01/2015

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publicado às 21:34

...

por avidarimar, em 14.04.15

LÁGRIMA SOLITÁRIA

 

Porque me deixas de rastos

Tu que eras minha

Abandonas-me

E expões-te ao vento

Fico sem jeito

Quando a emoção me escapa

Entre os dedos da mão

Eu que me queria afigurar de forte

Só me paras nos socalcos da face

E deixas-me mudo a olhar

Para dentro de mim

Sem saber se me destroças       De vez.

 

Mas não, não me deixas esvair

Em tristezas corridas                     Cinzentas

A tua avenida rasgada cara abaixo

Salgou o leito da emoção

Que me invadiu

De ver uma criança

Fixar os olhos num mendigo

Que habita um cartão

Debaixo da varanda dum prédio.

 

Libertou a mão

Fugiu

Envolto em comovente ternura

Dá uma corrida apressada

E afaga ao velho o rosto dormente

Marcado pela dor de tal vida

Amargura.

 

Porquê a criança

Porquê um marginalizado

Por esta sociedade

Olho humedecido           Brilhante

Porquê o seu sorriso

Arrancado neste dia

Em troca duma carícia?

 

Deste mundo

Neste momento

Esta imagem

Cala-me bem fundo

Não quero

Não consigo dizer mais que…

Este é o meu Natal.

 

LUMAVITO

27/12/2014

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publicado às 21:32

EM VIAGEM

por avidarimar, em 14.04.15

 

 

Para ti, que viajaste, faz hoje vinte e oito anos

Tem piada, passaste este Natal comigo

inundaste o bacalhau de azeite, couves do quintal

Bebeste um copo de vinho, disseste que um só não faria mal

E animaste-me como sempre

Que giro eu a enrolar-me em lamechas

Carpindo mágoas, e tu sempre a encorajares-me

Obrigado.

Amanhã continuamos a conversa.

 

LUMAVITO

27/12/2014

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publicado às 21:13

DE PÉ UMA VIDA

por avidarimar, em 14.04.15

Germina a semente       o rebento           de estaca

O ramo submerso na terra         Fixa raízes

Parto vegetal                    Natural

Sem ferros         Nem cesarianas

Com o resplandecer do sol

Os raios rasgam a neblina

Húmidos ficam os óvulos

E o esperma

Da vontade de desabrochar

Gema que rompe a pele da semente

E ergue-se          Rumo à luz do dia

 

A crosta da terra              estala lenta

Em sinal de águas rebentadas

Desabrocha jovem         Atrevida

Rumo à dureza dos dias                               Das noites

Em permanência             Olhar atento

Como sentinela                               Firme                    Não dorme

Postura ereta                   Imponente                        Vertical

Constante          Eminente

Sedentária         e dinâmica

Atenta                 Interventiva

Porque não        altiva                     Senhora do seu espaço

Acompanha a sua sombra           rodopiante

Vira-se ao sol    verga-se ao vento

Indiferente à chuva                       e ao tempo

Floresce              Tal como a Primavera

Reveste-se de plumas verdejantes

Aloira as vestes                               Ao longo do Verão

Despe-se em público    Acompanhando               O austero Outono

Segue os passos gelados             Do rigor do Inverno.

 

Juntas                  Fazem a floresta

Enigmática          silenciosa            solidária

Constatam em assembleia         Geral     Ordinária

A presença por perto                    Do bicho humano

Mau vizinho       Quezilento                         Interesseiro

Egoísta                 Vingativo            Manipulador

O único ente traiçoeiro                Que mora por baixo do sol

 

 

E todas crescem              Agarradas ao chão          Que as sustenta

Suporta                               Impávido            acolhendo a folhagem solta

De Outono         Dá-lhes alimento                            Todos os dias

Sem interrupção             Incansável          da companhia solitária

Porque até na morte     Agarradas a terra cara         

Olham o céu As árvores

Continuam de pé

Só o machado os separa

 

LUMAVITO

21/12/2014

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publicado às 21:08

...

por avidarimar, em 14.04.15

EMOÇÕES

 

Nesta face arredonda das emoções                       estou do lado da emoção

Fico ao lado da emoção                       sou o pretenso conquistador das palavras

O escrivão das palavras                         as palavras com

As emoções que sobem com as palavras

As                           sentidas num arrepio dum corpo nu                      em quarto com uma janela                       

A janela das palavras                                 viagens               

tão perto e tão longe                    Nesta viagem de emoções

Palavras               palavrões            O Judas da razão

Como o Pilatos de todas as decisões

A emoção               Lavando as mãos

 

Não sei quem me deu tanta comoção                                  que se agarra a mim

Sinto uma                                           quando o lápis sulca o papel      longa estrada

Do poema                          de cantar                            de sorrir

Percorrer o mundo                        Espalhando razão das emoções               brilho Abrilhantado     

Da alma de Pessoa                                no Chiado

Loa a Camões                    desde Sagres                    até ao Oriente 

Gente discreta                 alma ereta                          júbilo

Trovador desconhecido           neste mundo perdido   estou bem junto das          vou à noite pela rua                                olho a lua

E sonho                  Armostrong                       aos saltos         risonho

Entre tanta sensação                    Passo de gigante                            inspiração

Humanidade                     e a página vira                  A outra romagem

Carnagem em África                      América                               ilha selvagem

Rubor de corpos dormentes                      areia dourada                   Rolar

Enrolar                     extenuados                       adormecidos

Suados

 

Procuro emoção             vejo guerra      diplomacia

Persuasão

Talvez por isso                   Na paz          vejo razão

 

 

LUMAVITO

20/12/2014

(À Lucinda Vieira, mãe sempre presente)

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publicado às 20:58

ACOMODAÇÃO

por avidarimar, em 14.04.15

Espero e desespero

Na ânsia de encontrar

Lugar para saborear o conforto

É pesado         complicado                       

Com dificuldade de acomodação

Prescindir da rotina confrangedora da cidade

São precisos comboios, composições          

De vontade

 

Para deixar o meu cantinho

Deixa-me sem jeito    Sem as muletas de precisão

Que a vida da cidade oferece

São os médicos e hospitais   

Os transportes à porta de casa

O jardim onde levar o cão

O carro estacionado frente à janela do quarto

Os elevadores escadas rolantes       

De subir na ilusão

São os cinemas           os teatros   

Os centros comerciais com as suas extravagâncias

Incluindo os aparatos            

Para atrair o consumismo

Sede de requintado brilhantismo

Julgava-me iluminado          

Imunizado a estas modernices

Eu que sempre acreditei       Que a vontade           

È mais forte que o vício                    

O vício é coisa de fracos E os fracos assim nasceram 

E nunca serão fortes

 

Eu que sempre clamei       

Que só é fraco quem não tem caráter

Eu que sempre procurei o exemplo 

O padrão para os outros

Sem mácula que se aponte

Ser a água da fonte

Rosa dos ventos para os perdidos P

orto de ancoragem aos foragidos

Eis-me aqui

Com ar de palerma incompreendido

Armado em animal ferido

Porque não arranjei jeito para o falhanço

Sou eu que sinto esse fracasso Eu sou o fracasso      

O que vive permanente

Atrás do nariz de palhaço

Dessa força anímica que apregoo   

E todos são fortes quando expostos 

À dificuldade manifesta

E agem com afronto à pressão        

Que os contesta

 

Fortes são os que preveem o difícil

E se preparam para o aniquilar

São fortes os que se preparam na bonança

Para resistir à tempestade   

Da falta de confiança

 

 

Não resiste quem veste a pele de génio

Nem triunfa quem se acha preparado

Só ultrapassa o obstáculo     

Quem sentiu dor no exercício

Aquele que insiste que o trabalho é constante       

Quem em caso algum diz "não" à entrega  

Ao empenho militante

 

OH! quão fraca é a mente    

Que não entende que a sua mestria

Será sempre relativa

Porque dependente da habituação

E não se prepara para a mudança

A vida em permanente conflito       

Com os desafios de cada tempo.

Porque esta sociedade, sem confiança        

Sem espírito guerreiro

Vai criando mecanismos de traição

Aos princípios    Ideais   Anseios

E vai-se auto mutilando         Em devaneios           

E frustrações

 

Somos filhos e somos pais    

Enteados e padrastos Somos orgulho          

E constrangimento

Somos entendimento Incompreensões        

Certezas e contradições

Encarnamos atitude      

E desistência

Auguramos o que entendemos o melhor

Construindo coisas incompletas        Sofríveis      

Desgastas pela utopia da perfeição

Por sentir que somos imperfeitos    

Renunciamos ao espírito de entrega

Alegando imperfeições defeitos      

Exaustos na refrega

 

LUMAVITO

19/12/2014

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publicado às 20:45

SILÊNCIO

por avidarimar, em 14.04.15

Procurava o silêncio

Fui em busca por todo o lado

Deixei para trás ruas e praças

Corri por entre a multidão

Olho em cada transeunte

Gente de todas as cores e raças

Alguém a quem pergunte

Se o viram ou não

 

Insisto na pergunta

Sem que resposta consiga

Toda esta gente segue apressada

Parece cerimónia defunta

Gente de paz em constante briga

Mais parece na parada

Mil e um carreiros de formiga

Olhos fixos na calçada

 

Expressão de distância

Manifesto de desprezo

Cúmulo de ignorância

Fustigada

Por fogo aceso

 

Soa a zumbido de gente

Num enxame cinzento

Coberto por nevoeiro denso

Gente triste, indiferente

Enredado pelo ar poeirento

Da distância, bem estranha

Manifesto desumano

Tristeza bem medonha

Cariz bacteriano

 

Não é deste silêncio que falo

Este é ensurdecedor

Não é paz de espírito

Não é cómodo nem indolor

 

Palavras, palavras           Tantas palavras

Que sentido, que contexto

Que benefício

Se o produto, consequência

Tem sentido, ofício

Promove harmonia        Solução

Se o não é          Contributo de falência

Fatal prenúncio

Palavras em vão

O terror do silêncio

 

Que silêncio é este

Que me cala a ilusão

Que tipo de sumiço

Me retorna à realidade

Que especiaria me tempera

E me faz parar

No fervilhar destes dias loucos

Pensamentos de abrasar

Que silêncio é este

De momentos tão poucos

Tão

Que me dá serenidade

Na social confusão

De discursos tão ocos

 

Contraponto

Respiro pausado

No recato do silêncio

Inalo frescura na mente

Envolto num mundo sem gente

Longe do borburinho

De tanta gente errante

Dos mesmos hábitos     Do lado mesquinho

Do mundo          Que se acha perfeito

Me arrepiam

E me deixam sem jeito

 

Reconforta

Expressar com o silêncio

A dor     O prazer

O sentir               Que é ser

A sorte                                Que brota

Da sublime ausência da palavra

Entusiasta uso da razão

Saímos mais fortes desta lavra

Contagiado no fervor

Banhado na cor da emoção

 

Silêncio                Solene silêncio

Épico     Calmaria me arrebata

Me empolga      Me transfigura

Que força esta que me ergue

E me faz suplantar

A ausência das palavras

Que doping este             Me espicaça

E me faz pular

Para lá da monotonia

Das palavras vazias

Acão de verbos

Coisas de substantivos

Adjetivos de carregar textos

Que me dá a harmonia

Sem que nada se expresse

Que discurso é esse

Que não me deixa

Ensaiar nada diferente

E calo as palavras             Que balbuciei

Sem articular amargas ideias

Calo o vazio da lei

Com o silêncio que plantei

 

Olhando à volta

Sinto aconchego

Pelas pedras que me olham

E sorriem em comunhão

Contemplo a vénia         Idolatria

Das árvores ao vento

Relação de filogenia

Na loucura da solidão

 

Inclino-me          Rendo-me

À cultura do silêncio

Assim olho a vida

Com existência infinda

Pois do silêncio                a magia

Em caso algum                 Será contida

E extravasa qualquer medida

 

Forma singela   Apaixonada

De sentir esta gente      Este mundo

Objetivamente tentar

Analítico olhar   Profundo

Despido de pretensas teorias

Sabendo             Que vão parar ao mar

As águas das montanhas             Das encostas

Das planícies      E das rias

Prende-me        cativa

Cerro os olhos

Em silêncio         Fico a sonhar

 

 

LUMAVITO

14/12/2014

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publicado às 12:33


Pretendo abordar diversos temas da vida de um país, em claro desespero de sintonia entre governados e governantes. A forma pretende ser a poesia, com mais preocupação pelo conteúdo da mensagem que pela forma de estilo.

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