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Sentado esquiço uma enxada
Para cavar umas palavas enterroadas
Assisto ao nascer da alvorada
Aguardo a manhã fresca da horta
Para regar a semente do poema
Lanço o adubo na terra austera da dor enquistada
Sacho a página engelhada da sebenta
Queimada pela torreira do sol
Aleiro as ideias perfiladas do momento
Apoio-me no calheiro sedento
Como uma bucha De acentos tónicos
E pétalas de rosa que guardei na lapela
Bebo água gelada do poço da inspiração
E aguardo fixamente o despontar dos acontecimentos
Hoje é Abril
E na horta florescem as cores duma revolta
Corro a Santarém espero paciente
Ver sair os carros de combate e os soldados
Ver brotar nas armas o poema
Com o cravo ataviado no metálico negro da espingarda
A arma que conquistou a liberdade
Abril é hoje
É sangue que corre nas veias de quem sonha
Abril é o voo rasante da gaivota
Que ecoa na Praça do Comércio
É ave veloz modo picado
Subiu ao Carmo Ver partir a ditadura
Abril é ponto de exclamação
Da coragem de Salgueiro Maia
É o grito que corre nas gargantas sequiosas
Abril é o jardim florido da esperança
Abril cresceu e é adulto
Querem-no matar Sem que ninguém note
Basta não o tratar
Recorrendo à ideia apregoada
De que a água não chega a todo lado
Dizem que Abril se celebra só na rua
E não na casa da democracia
Por mim vou regá-lo todos os dias
Para os que não o viram nascer
Nem viveram os traços do medo
Não sentiram a dor profunda o estado de miserável pobreza
Para os que não souberam as marcas
E os nódulos da ignorância
Foram quarenta e dois por cento de analfabetos
A cultura ao nível de lixo
Como classificação fidedigna de agências de Rating
A saúde em estado mórbido
Só acessível a meia dúzia dos donos do país
Para a gentalha comprimidos para a s dores e febre
Quando muito quando cadavéricos
Umas chapas aos pulmões
Aos que não sentiram na carne
Na alma de quem não se verga
Aos que hoje sentem outros idênticos
Como se fossem os mesmos sintomas
Os tempos não são os mesmos
Mas os processos não moram distantes
A esses eu hei de cantar
Não calo o aviso
Que para chegar a um pequeno ditador
Bastar dar poder a um remediado
Coelho renascido
Aos que agora se sentem injustiçados
E oportunidade é emigrar
Direi que vale a pena parar
E perceber
Que compensa saber Abril
Sentir a sua origem conhecer a sua espécie
Alimentá-lo
Fonte de inspiração pra muitos
A ele
Todos devemos a liberdade
Doem-me as palavras
Que me atingem de arremesso
Toldam-me as ideias
Que são vendidas a qualquer preço
Choro o despudor dos gentios
Que por uma casca d’alho
Se viram do avesso
LUMAVITO
09/04/2015
Desponta o sol pela matina
Rasgando a força da neblina
O dia despontou risonho
Evoluiu rapidamente
Com aspeto bem mais medonho
Das nuvens e do vento
Se colhe chuva com o tempo
Se sabiamente se diz em Abril
Não sei se por sorte
Estranhamente água em funil
Já que me bateu bem forte
Olha se fossem notas de mil
Já se torna obsessivo
Em vez de espírito criativo
Entranhado está o vício
De escrever coisas d’ofício
Rimando ou não
Alinhado ou em confusão
É tamanho do correr
Não atinge qualquer ser
Mas se sofre do contágio
É como barco em naufrágio
Dali só para o estaleiro
Não tem outro paradeiro
Correr é como ir sem destino
É um prazer clandestino
Que da gente corta casaca
Nem que seja de ressaca
Parar é meio morrer
Para quem busca prazer
E cuidar a saúde escolhe
Seja ao sol ou se molhe
O outro meio
Deixar de comer
Como o burro do espanhol
Com a arca cheia de favas
Morreu de fome
Ao pôr do sol
Chova a cântaros ou faça sol
Terra batida ou piso mole
Entranhado está o bicho
Sem tomar algum capricho
Em cima da relva
Fugindo ao lixo
Não sei se loucura
Ou obsessão
Só sei que me molhei
Mas quando a vontade
Toma força de lei
Pode ser tempestade
Mas desistir eu não sei
Escrever é resistir
É não ter para onde ir
Sem se levar a caneta
Na peleja do dia a dia
É a nossa baioneta
Numa constante idolatria
Bem terrível é lutar
De forma desigual
É correr o olhar
À volta do caniçal
Fixar a vista no chão
Ver torvar a razão
Travar o passo repentino
Sem saber qual o destino
Daquelas criaturas expeditas
Umas tais hermafroditas
Que se cruzam em confusões
Trocam tripas esquisitas
Que me causam alucinações
Vê-los passar modo apressado
Sem olhar para o lado
E sem tomar qualquer cuidado
E no trânsito em contramão
Está lançada a confusão
Avançam centímetros a fio
Em tresloucado desafio
Com os cornos espetados
Como não liguei à rima
Não sei se ainda por cima
Serão cornos ou serão chifres
Não creio que decifres
O sexo do animal
A velocidade é tal
Que em caminhos distantes
O que é agora
O agora já foi antes
É estranho mas é espantoso
Mais parece
Injetado intravenoso
Na pele causa erupção
Uma perfeita obstinação
Será bactéria ou uma virose
Será do ar ou overdose
Ou influência do Trancão
E a corrida já vai longa
Como longa a novela
Em tudo o que à volta vejo
Onde este rio
Toma banho no Tejo
Correr e declamar
Na caminho para o mar
Não se quedam os encantos
Sonhar e correr à chuva
Quem contém as emoções
Nos aprazíveis recantos
Pelo Parque das Nações
LUMAVITO
06/04/2015
Hoje as palavras esvoaçam pela cidade
Circulam altas e em pregão
Nas ruas há gente diferente
Na descoberta deste mundo agitado
As ruas estranham os dialetos atrapalhados
Hoje há gente nova na cidade
Vieram ter com os parentes
Hoje não há gente na aldeia
O som das pedras ecoa sem limite
E as águas do rio recitam alegremente
Os desvarios do vale cavado
O cão é dono da planície
E lá longe
O sino declama uma estrofe do poema
Hoje brilha o som metálico do espantalho
E o sibilar das velas do moinho
Evidentes
Só os limões amarelos de maduros
Carregados de acne facial
E o sol que vigia os movimentos
Da sombra das casas vazias
Nos quintais
Escuta a brisa ao som da arpa
As cordas rangem docemente
Atenta o som dos violinos
Nas árvores que se agitam
No largo da aldeia
Observa a orquestra sinfónica
Instalada no anfiteatro
Do sopé da serra
Na encosta virada a Sul
Cantarolar
Só aos pássaros compete
Na sinfonia do silêncio
LUMAVITO
05/04/2015
Um sorriso de alívio
Uma breve caricia na face
O respirar fundo
Sinal de acalmia
Sintomas de um caminho
Desníveis acentuados
Com subidas escarpadas
Dificuldades assumidas
Por vezes
A mão escorrega na saliência da rocha
O pé escapa do apoio na reentrância
O corpo treme de susto
Estatela-se no socalco
Dois metros abaixo
Esfolado nos cotos da mão
As calças rasgadas no joelho
Cabeça zonza
De costas ergue o corpo doído
Lentamente…
Estamos vivos
O pé mexe
A mão sangra um pouco
Não é importante
Importante é estarmos de pé
E caminharmos
Essencial é o prazer de viver
O percurso é irregular
Mas segue em frente
Não volta atrás
O cansaço acumula
Até perto da exaustão
Um medronho uma amora silvestre
Um qualquer outro fruto do mato
Encostado a uma qualquer árvore
Arbusto ou inclinação de pedra
Ou de terra
Suave e inconsciente Desliza até ao chão
Sentado desconcertado
Da sacola pendurada nas costas
Sorve um gole de água
Um olhar à sua volta
Tudo está mais longe difuso
Percetível só o movimento da forfolha
De ramo em ramo
Movimentos bruscos repentinos
Difíceis de acompanhar
A vista tolda
O sol vai-se O corpo cede
E o sono profundo instala-se
Por ali Num local ermo
Como se da sua casa se tratasse
Ali mesmo brota um sonho
Que cresce em cada segundo
Lança-se a planar
Em registo supersónico
Sobrevoando as copas das árvores
Na encosta
E as que crescem frondosas
Junto ao riacho que desliza fluente
No vale que ergue perfilado
O aqueduto que outrora
Matava a sede à cidade
O corpo perde o peso
E flutua
Basta bater os braços alados
E impele subida vertiginosa
Até ao longínquo zénite
Do paraíso
Por ali se demora e vagueia
Como falcão predador
Em círculos esvoaçantes
À procura de uma presa
Que lhe dê o alimento
Rapina fogo que aconchega a alma
Parte singela de resistência
Sobreviver ou sucumbir
O corpo ave levita
E assiste ao romper do sol
No oriente
Nova fase desperta
Restabelecido da jornada
Ergue-se lenta
E compassadamente
Retoma a marcha
Pelos trilhos irregulares da serra
O meio mais aprazível
Bem longe do borburinho
LUMAVITO
15/04/04
Nas pedras empoeiradas da calçada
O sol torna-se baço
Nas passadas lentas arrastadas
A rudeza da vida emerge lei
Na poeira solta do caminho
Os passos ficam marcados
Pela força agreste das botas cardadas
Um velho caminha sozinho
Irrompe por entre os silêncios estios
Talvez água
Decerto mágoa
Dor em movimento
Quem sabe por quanto tempo…
LUMAVITO
15/04/03
Pelas ruas da aldeia Passo a passo poste a poste
Caminha no silêncio da noite escura Mensageira de luz
A pauta passa suspensa no silêncio
Transporta a essência do aconchego
Para os corpos Corpos encolhidos regelados
Para que na noite fria O Inverno fique mais acolhedor
Quando revelar o milagre ao ligar o interruptor
Poste a poste Passo a passo
Por entre a penumbra da noite Construindo partitura
Carrega notícias do mundo devoção religiosa diversão e cultura
Enche o ecran de sete anos de RTP
Pelas ruas da aldeia a pauta de música Alimenta saber
Pela pauta na povoação chega o tempo de lazer
Emoção para quem a vê
Pelos caminhos empedrados da aldeia
Circula uma pauta de música que pensava retilínea
Por entre as linhas À luz do dia
Saltitam os pássaros em cadeia
Nas linhas de pauta poisam casais de rolas
Loucamente apaixonadas
Envolvidas na conquista como em contos de fadas
Entre as linhas de pauta Chilreiam notas encantadas
Arrulhar de um pombo corteja a sua noiva
Por entre as linhas de pauta Os raios de sol esbatem-se
Na estrada empoeirada da aldeia
Por entre as linhas do pentagrama
A vida flui como canto de sereia
As notas pulam soltas Na pauta da aldeia
Clave de sol oitavas dó ré mi semicolcheia
Passarada em voo pipilante
Meigas irrequietas doces criaturas
Em mágica vida em grupo comitiva ambulante
Por este roteiro de notas de música
À aldeia chegou mais vida os putos boquiabertos
Os desenhos animados filmes de cowboys
Histórias de encantar
No alto destes postes corre a alegria
Que dá cor aos corpos solitários
Aos corações amargurados de uma jornada difícil
Nas linhas desta pauta corre suspensa
Nova página de esperança
Talvez por estas linhas chegue o fim do abandono
Talvez estes postes uniformemente espaçados
Que soletram em uníssono “CAVAN -mil novecentos e sessenta e três”
Nos arranquem da solidão
Talvez estes postes apontem alguma vez
Para um céu mais risonho
Talvez esta pauta cante a sonata
E o caminho do futuro deixe de ser mero sonho
LUMAVITO
03/04/2015
As emoções são como ferro incandescente
Apenas elas toldam o ar em seu redor
Marcam fundo tudo o que tocam como gado bravo
No rubor intenso flamejante Ecoam no silêncio do tempo
Por vezes só a água as arrefece
Por vezes…
LUMAVITO
02/04/2015
No dia em que a certeza chegou
Com mais dúvidas fiquei
Sorri E parado Sonhei
No dia em que acordado
Fiquei De incertezas Enleado
Certo certinho O espanto Em redor
Das montanhas Carregadas de emoção
Que bem cheiram a loucura
No meio de farta e rara beleza
Se encontra a paz que se procura
Certo certinho não é
E não sei bem como será
Se aquilo que mais acredito
Não toma forma de senso
Sem estar em permanente conflito
Certo certinho sem dúvida
O certo é que eu não sei
Se usando as armas leais
Nesta luta tão desigual
Alguma vez vencerei
LUMAVITO
29/03/2015
Sonhei que acordei de olho arregalado
E corria pela estrada Entre as mãos
Um sonho macio como velo de algodão
Preso a partir do céu Um fio de linho
Que liga o meu sonho Ao infinito
E o sonho subiu Subiu
Agarrado àquela linha Cordão umbilical
Do paraíso E não mais o vi
Juntou-se a tantos outros Que se esfumaram
Com um salto Agarrei um outro Que esvoaçava à minha frente
Não o soltei mais Dobrei-o em quatro
Como boletim de voto Ou de protesto
Coloquei-o Bem no fundo Da primeira gaveta
Da mesa de cabeceira Da minha cama
De sonhar Ou de acordar
E o fechei Com a velha chave De S Francisco
Para que não se evaporasse
Fechados nesta gaveta escura Para que não acordem
Apenas os sonhos fantásticos Que acalentam o espírito
Tornam leve o pensamento e a vida corre suave
Como a aragem matinal fresca e deliciosa
Sonhei Sentado Na borda da minha cama
Que o sonho Não era fantasia
E o sonho era real Autêntico Palpável
Que vivíamos neste cantinho Tão solarengo
Bafejado pela brisa do mar
Cavalgávamos As nuvens esvoaçantes
Azáfama permanente Árduo trabalho
Banhado de satisfação Pelo dever cumprido
Realizados
Julgava-me acordado E sonhei
Que as nossas chefias Neste paraíso
Transbordavam de competência
Navegavam no desapego
Inspiravam tolerância E confiança
Pensava Acordado E sonhei
Que voltávamos a casa Felizes
Que entre nós A fome não pairava
A saúde era pujante
A educação era dinâmica E a cultura Extravasava
Sonhei Que a emigração jovem não existia
Alimentada Pelo desemprego
Sonhei que o Pai Natal….
…
Mal atinjo o despertar cravo as mãos no lençol
Dou um pulo na cama não encontro a chave
Oh uma dor lancinante rasga-me a meio
Frustração Alma desventrada
De quatro anos De inexplicável castigo
LUMAVITO
28/03/2015
Rescrevendo a elipse Sulca o céu
Desce calmo Sorrateiro Resplandecente
Um volátil desejo de fruir
E de fluir Pelos confins do infinito
Dilui-se no horizonte
Entre leves azuis celestes
Pincelado por etéreos flocos brancos
Das nuvens esvoaçantes
O contraste cinzento
Das teimosas Últimas folhas secas
Que se soltam das árvores espantadas
Quase nuas Desventradas
E por entre os ramos esguios
O círculo Amarelo intenso Torrado
Do astro maior Marca o meão
E ao fundo
Sulcos dos raios vermelhos de luz
Diluídos nos confins
Qual osmose em solução
LUMAVITO
14/03/2015
A noite de ontem
Foi passada à lareira
Olhares cruzados
Reacenderam
A outra fogueira
Como se estes corpos
Pela noite de ontem
Recuassem no tempo
Paixão a voar
Como nuvens ao vento
Como putos novos
Na ansia e ardor
A noite de ontem
Carregou de fulgor
Na noite de ontem
Ficámos os dois
A sala pra nós
E o resto do mundo
Ficou pra depois
Na noite de ontem
O frio era quente
O ar escaldava
E o espírito dormente
Da noite de ontem
Ao final da noite
Acordámos presos
Em singelo acoite
Ao final da noite
Da noite de ontem
As cinzas em monte
Sem que nada contem
LUMAVITO
02/03/2015
Tu que olhas em redor
E me fitas com desdém
Tu que me encaras
Com um misto de simpatia E rancor
Deixas-me angustiado Agarrado à minha dor
Tu que me motivas Ou me assaltas
No que tenho de mais íntimo
Tu que me viras costas
Carregado de desprezo
Ou agressivo Me enfrentas
Assemelho-te Ao Cabo das Tormentas
Tu Figura nojenta Infernal
Tu que fugiste ao mundo real
E percorres os corredores da vergonha
Só reconheces na coronha
A caneta da tua mão
Tu que fizeste do fundamentalismo
O fundamental da tua razão
Tu hediondo bombista suicida
Que te deixaste manipular
És criatura perdida
Para ti não há sol Não há luar
De ti Ninguém tem dó
Nem pode ter
Podes à vontade morrer
Mas vai só
Vai pra bem longe do mundo
Se quiseres No deserto profundo
E sabes que mais
Não te escondas na cobardia
Corre sem parar
Vai-te matar
Tu que me olhas nos olhos
Ou me contornas Alterado
Obrigado por seres tu
Por estares ao meu lado
Quando sentes que deves estar
E quando eu não quero que estejas
Só te digo Embasbacado
Apesar de tudo
Obrigado
Tu que fazes de inconveniente
E que tens atitudes Que entendo irracionais
Tu que me dás na cabeça
E me irritas Com esse teu ar refinado
Por tudo isso Obrigado
Tu que me chateias E me aborreces
Quando me chamas à razão
Porque não sei quem a tem
Apesar de tudo Pese o vinagre da vida
Desafias-me forma atrevida
Abandonas-me Deixas-me a falar sozinho
Fico a girar em roda livre como as velas do moinho
Mas nunca vais pra longe
Permaneces à distância Inteligente
Rondas-me E incomodas-me
Com essa sombra permanente
Arde-me a cara pela ânsia
Obrigado por me dares essa sombra
Debaixo dum sol tão tórrido E abrasador
E me livras de tanto calor
A ti compreendo-te
O teu lado paciente
Tu que Frequente Lidas comigo
Não te centras No teu umbigo
Quase sempre Me vês exposto
Fraquezas Nota-las todas No meu rosto
De longe sabes os meus limites
Ainda assim não desistes E insistes
Que posso fazer bem melhor
Se usar de persistência E mais rigor
A ti Amigo Amiga
Digo-te Com todo o fervor
Não me chateies
Sem qualquer favor
E de modo emocionado
Acrescento Obrigado
LUMAVITO
02/03/2015
Eu…
Eu quero saber quem sou
Esta forma insistente de questionar
Eu Que não vejo em mim
Uma fórmula regular
Com estes genes Que não conheço
Quero saber porque sou eu
Quero Por tudo o que olho Ter apreço
E saber que Apesar de tudo
Esse ser não parou E cresceu
Atingir o limite do porquê
E para lá da ilusória aparência
Para além de olhar Ainda vê
E eu cresci Pensando
Não recordo o trajeto de início
Nem sei que caminho Desde quando
Sei que estive bem perto do precipício
E todos os dias sem parar Pergunto
Mais de mil coisas por saber
Mil questões de qualquer assunto
Todos os dias Mais perguntas num enredo
Em casulo
Tantas questões em segredo
Sei apenas Que quero ir do horizonte para além
Tantas coisas eu formulo
Sem que para partilhar Tenha alguém
Todos aqueles em que chorei
Os dias todos sem fim
Todos os dias em que ri
E os sonhos
Os sonhos que de facto Sonhei
Os sonhos que pelo caminho Perdi
Todos eles Deram força Deram alento
Quando acordado Me encontrei
Quando exausto Sonolento
Mas não descurei
Fixando-me com olhar atento
Eu…
Eu sonho
Que quero ser mais alguém
Quero continuar a ter sonhos
Muitos mais Tantos
Mas quero também
Uma cabeça pensante
Dois pés assentes
Que me aflige desequilibrar
Nem que seja por um instante
Tenho desejos prementes
Que me fazem despertar
Sem que me obriguem a obedecer
Eu quero ser…
Eu quero ser eu Quero ser alguém
Que Para lá do material Se sente ser
Alguém que Para lá do mortal Deixe perguntas
A que alguém consiga responder
Nem é preciso que mo diga
Mas se quiser Me indique o caminho
Todos os dias quero aprender
E alimentar este bichinho
Mesmo depois dum dia cheio
No limite da fadiga
Desfrutar de mim no que creio
Haja alguém que me diga
Que há muito por saber
Quero saber porquê
Porque nada tendo Me sinto bem
Me sinto cómodo
Posso ter frio Posso não estar agasalhado
Mas fome Não
A fome não me deixa pensar
Não suporto Não aguento
Provoca-me ansiedade Paralisação
Mais que o conforto Careço de alimento
E assim
Sinto-me confortável Sinto-me muito bem
Já que perguntas Não me faltam
Para tentar responder
É como Comer
Saborear tal prazer
Viver sabe-me tão bem É tão agradável
Estar aqui neste degrau Desta escada
Tão ingreme E irregular
Esta escada da vida Que é interminável
Mas sei também que há para mim
Um último degrau
Não sei se é o fim
Não me agoniza
Nem o sinto mau
Sabemo-lo É a natureza a funcionar
Tudo nasce E tudo acaba
Não temo esse último degrau
Onde hei de tropeçar
Sinto-me convicto E não minto
Desconheço se é instinto
Que quando acontecer
Mais perguntas Terei por fazer.
Qual é a força motriz
A mola que impulsiona
Que a qualquer pergunta me diz
Para além do que questiona
Que a essência de viver
É o contínuo Questionando Aprender
LUMAVITO
22/02/2015
Noventa e quatro minutos Interrompidos
Por um lápis e uma sebenta
Mil ideias desfiadas
Em ritmo de passo corrido
E o prazer que se ostenta
Não é cansaço Antes Entusiasmo desmedido
Com sabor a liberdade
Num percurso campestre
Em que os minutos não contam
E dá jeito Agilidade
Mil ideias em turbilhão
Todas almejam chegar primeiro
O papel está receoso
De chegar à exaustão
Não importa o dinheiro
Nem tão pouco a sonhar
Palavra A palavra Faço que coso
Como se as palavras Se pudessem costurar
Mil ideias e uma cabeça
E a expressão de sentidos
Sem nada que nos impeça
De escrever todos os motivos
As terras cultivadas
Os terrenos de baldio
As culturas semeadas
Lançadas no tempo frio
A erva que cresce selvagem
E as ovelhas a comem frondosa
As canas baloiçam com a aragem
E a água do rio Corre buliçosa
A enxada Na horta Fica sozinha
E a lua Suspensa no céu caminha
E da ponta do fio que se puxa
Desata-se o novelo
Segue a estrada o trilho e a ponte
É a couve O olival E o bacelo
Sobe a serra A encosta E o monte
Precipita a cascata A água corre na fonte
Em redor Olhar com minúcia
Ao longe O troar da ambulância
Rodar veloz ao sabor do vento
Rasgar no céu o intenso cinzento
Contornar a cerca A rede Subir o muro
Ouvir a brisa em leve sussurro
Segue veloz o caminho
Levanta a cabeça Enquadra o moinho
Ouve o melro Fixa a vaca e o pato
Salta à frente do sapo e do rato
A correr passa o tempo
E que belo passatempo
Corre ao lado o rio
Parado fica mais frio
Para trás ficam O velho E o novo
Também eles são do povo
Sobe a Sul Desce a Norte
Correndo será mais forte
Em cada passada
Vai crescendo a jornada
Ao passar por cada flor
Floresce intenso odor
Toca o sino no cimo da igreja
A árvore do adro braceja
O galã A dama corteja
Sobe o tom do poema
Arrefece o corpo
Cresce o dilema
Como terminar o discurso
E atingir firme porto
Sem o perigo de acordar morto
Pelo tédio e apatia
Corrida dançada Ao som
De magistral sinfonia
Por entre vales E serrania
Sebes E arbustos
Saborosos Noventa e quatro minutos
LUMAVITO
22/02/2015
E se as águas do mar se libertassem
Subissem vales Corressem encostas
E lavassem por dentro Todas as mentes
Lhes arrancassem o calcário impregnado
Pela sede de domínio
Se a força das ondas lhes galgassem
As fétidas crostas da maldade
Quanto lixo se soltava
E assentaria no seu fundo
Se o sal da água do mar anulasse
A ação mecânica do fútil
Se a espuma das ondas
Ensaboasse a avareza
Talvez não houvesse tanta gente
Cogitando clamores de farsa
Batendo com a mão no peito
Se a lava do vulcão escorresse
Pelas encostas do cerebelo
E petrificasse primárias motivações
Talvez o fármaco da hepatite
Nos chegasse sem negociações
Se a força dum Tsunami
Sufocasse a ganância
Talvez não morresse tanta gente
Ao largo de Lampedusa
Se as tempestades tropicais
Se esticassem para Norte
E enterrassem interesses estratégicos
Quem sabe se a paz
Não visitaria a Ucrânia
E se a natureza se unisse
Com todas as suas forças
Se a força natural
Expurgasse a mente
E a devolvesse À condição de humano
Talvez o mundo fosse mais fraterno
Talvez fosse mais autêntico
Talvez houvesse mais respeito
Pela vida dos outros
Quem sabe se e talvez
As pessoas fossem mais iguais
Talvez fossem…
Talvez!
LUMAVITO
21/02/2015
Apetece-me voar
E espalhar a mensagem
Que há um amanhã pra viver
Depois dum hoje tão intenso
LUMAVITO
17/02/2015
Dias que o já foram
E o rasto fica
Para lá dos etéreos momentos
Na retina permanecem
Desprezando o talento
As batidas do coração
Alojado o timbre vocal
Que registou no intelecto
Doces recordações
No açafate das memórias
Partículas de vida Escorrem
Nas paredes do cálice de licor
O doce que fica O sabor
Dos laços apertados
Que cimentam o amor
E os dias vão
Esbate-se o ressalto
Do registo da voz
Consome-se a película das imagens
Que estão para além de nós
Do olho na retina Registadas
No ímpeto das vertigens
A paixão fica colada A sonhar
Como sola de sapato
Que se desgasta Com o andar
Perdida por entre o mato
Faz recuar Nos dias que já não são
E pensar que foi ilusão E já não é
Acordar noutro lado
Procurando firme pé
Mas a voz presente continua
Replicando os momentos
Recordando as imagens
Ao reflexo da luz da lua
O tempo passa O sorriso continua
Sabor a mel Deleite
Sempre presente
Cada vez mais forte
Mais leve que azeite
Paixão é labareda
É mais acha estaladiça
Crepita no cérebro da gente
Ateia qualquer coração
Que ouve a voz
E reflete a imagem
À medida que os dias passam
E se consomem
Em alta voltagem
Não choro o tempo Que o já não é
Pelo prazer de ser E sentir
Sorver mais um dia Expoente maior
Em crescentes alegorias
Nem que seja ao luar
Pra todos os dias
Termos mais um pra contar.
LUMAVITO
20/02/2015
Como se o vento que sopra
Nos trouxesse ventura
Como se o entrudo nos levasse
Estes dias de amargura
E se a máscara do faz de conta
Eliminasse o cruel real
Eu riria o ano todo
E jogava o Carnaval
LUMAVITO
17/02/2015
Viver nesta pobreza não vale
Não escondo
Uma fúria me invade
Apetece-me disparar
Com o canhão de tamanha loucura
Um grito de revolta para o ar
E atingir em cheio
A trincheira desta tortura
LUMAVITO
17/02/2015
Deambulei como noutros dias
Rumo a meios Paisagens Em que o verde é cenário
E os regatos escorrem pelas colinas
Os tufos de erva crescem frondosos
Como crescem os rebentos das árvores
Agarrados aos ramos que suportaram despidos
A queda das folhas O rigor do Inverno
E a solidão dos dias e noites pardacentas
A passarada reaparece Saltita pelos ramos e rebentos
Cantarola Repete o mesmo refrão Espaçado por cada voo
O sol rasga timidamente Por entre os troncos eretos
Rugosos Impávidos Indiferentes
Já que ali estão Para dar corpo à vida
Que entra por todos os lados Marca presença imponente
Algumas com séculos Naquele lugar Sem cansaço.
Ovelhas e cabras desfrutam do manjar à disposição
Viçosa Húmida Verdejante
Escorre pela goela Remói
Na ovelha cresce a lã Na cabra os chavelhos
Que pelejam nas marradas
Na cabra como na ovelha Cresce o amojo
Ao fim do dia dão-nos mais leite
Piso a terra salto a erva Paro Contemplo
E o tempo passa E não damos pelo tempo que passa
E a memória da tasca que fica nos contrafortes da serra
Vem à baila E baila no espírito de transeunte
Deslizo encosta abaixo Com a sacola às costas
Nem me lembro o que lá vem Não recordo o que tem
A fome passou despercebida A memória visual
Está mais rica
À porta da tasca cinzenta Cinzento escuro
Tom predominante Nas paredes No chão
Nas pessoas à entrada Nos tampos das mesas
Toalhas cinzentas Pratos baços Copos baços
Nesta tasca cinzenta As pessoas à entrada
Trincam pevides Tremoços Mascam devagar
Como se o tempo assim Corresse mais devagar
Balbuciam pouco mais Que sílabas impercetíveis
Olhar esparramado no copo de tinto
À ponta da mesa Logo à entrada
E as pessoas à entrada regurgitam azedume
O boné cobre a careca E a mão coça por cima da boina
Por cima do cabelo que já não há
Na tasca cinzenta No sopé da serra
O sujo das paredes E do chão
Não se nota Porque as paredes são cinzentas
E a sujidade sente-se Mas não cheira
Porque o cheirinho do piano no churrasco
Sobrepõe-se ao fedor do chão
E à gordura das paredes
Do carvão incandescente Que grelha o robalo
A dourada As febras E a espetada mista
Dou por mim já sentado frente ao pires de azeitonas
Desfio pensamentos dispersos
Descasco imagens de há poucos minutos
Onde a sujidade não se nota
Os pensamentos correm rápido
Mais rápidos que a água do regato
Agora parado Estacionado naquela cadeira
Começo a desfiar o tempo
Aquele tempo que já passou
E permanece enraizado em imagens
Feitas as contas
A minha história tem setecentos meses
Menos doze dias
Ou doutra forma vinte e um mil
Duzentos e noventa e cinco dias
Depois da data em que Para mim
No mundo se fez luz
Uma luz que continua acesa Crepuscula
E que dá gozo ver alumiar O cinzento da vida
Pra que ele fique menos baço
Os macaquinhos do meu sótão
Saltitam alegremente de ramo pra ramo
De árvore pra a seguinte
Mantêm-me meditativo
Sinto que nestas quinhentas e onze mil
Horas de vida E mais algumas
Consegui aprender Que o melhor proveito da vida
Observando os pormenores
É todos os dias correr
Repentino Voltei à vida Com o bater do prato À minha frente
E o forte odor da costeleta de novilho Cor acastanhada Mal passada
Salada de verde e vermelho vivos Batata frita amarela dourada
E no copo Bem tinto
LUMAVITO
7/2/2015
Hoje não me apetece Dizer o que sinto
Nem contar O que me vai na alma
Não vou dar largas ao instinto
Desfilarei na maior calma
Num perfeito labirinto
Hoje que o céu esteve brilhante
E que a luz Resplandeceu
Não foi apenas por um instante
Clamei por Hipnos e por Morfeu
Por entre um sonho cintilante
Hoje Calo a revolta
De injustiçado me sentir
O pensamento anda à solta
A vontade Ereta como menir
E a espada sempre oculta
Hoje Hoje não
Não darei asas à clareza
Da falta de inspiração
Muito menos à certeza
Do porquê da desilusão
Por quem me menospreza
Hoje Hoje sim
Hoje esteve um lindo dia
Um belo dia Enfim
Foi real Ou por magia
Não sei Se foi por mim
Mas lá isso foi
Não fora o sol E terminaria
Numa brutal berraria
Este dia Que ainda dói
LUMAVITO
24/01/2015
Neste meio bucólico
Escorrendo das encostas
A água desce barrenta
Instala-se espírito melancólico
Só as sebes mais próximas dão mostras
Quando o nevoeiro cresce
E assenta
Aloja-se o frio das pedras
O ar despido das árvores
Pisando selvagens As ervas
Sem que se vislumbre o além
Em redor Ninguém
O casaco apertado
De quem deste desconforto
Medo não tem
Por viela Ou caminho torto
Errante A qualquer lado
Meio vivo Meio morto
Visível Só a sombra do nariz
À frente Mais dois palmos
Objetos Formas difusas
Indefinidas No olhar
Não há pássaros Não há flores
Não se ouve o chilrear
Não se sentem os odores
A não ser das coisas húmidas
Trespassadas de bolores
Gélido Registo o momento
Sem grandes energias
Sem luz que se veja
Sejam noites Sejam dias
Ar cansado Mãos frias
Arrepiante Calma a pairar
Por fora E por dentro
Não há sol Não há vento
Rosas murchas no quintal
E nos riachos A água corre
Alegremente
Forte é a torrente
Cada vez Com mais caudal
LUMAVITO
17/01/2015
Como as emoções esvoaçam
E se ligam a figuras
Correm o ciclo O hemiciclo lunar
Dão voltas Dão comigo às voltas
Escarafuncham as memórias
Que saltam como mola
Por entre lágrimas De satisfação
Ou causam dor De abrupta violência
Essas emoções Que não se conseguem congelar
Guardar pra outros momentos Mais próprios
Que as possamos receber
Ou enfiar na gaveta E esquecer
Por enquanto
Não
Elas ficam mais Massacram
Lançam ácido na minha caixa
De memórias
E vão-se Consomem-se
Emoções são um avião
Rapidamente Com impacto
Faz-se à pista
Resguarda-se no hangar do meu cérebro
Por ali permanece
Reabastece-se Levanta voo
E vai Célere Desaparece no horizonte
Rumo ao infinito
O rasto só a borracha queimada Na pista
A marca Essa ficou Na memória
Que deixou Por apagar alguém o há de ou não
Eu fiquei com a imagem que se esfuma
No fogo dos dias que sucedem
E consomem os neurónios.
Correm nuas Pelos labirintos
Deste quintal
Agitando as asas
Que já não são suas
Roubadas durante a noite
Levantam voo picado
O pescoço Inclinado à ré
Procurando o zénite
Perdido do alcance da vista
Ah se as emoções fazem chorar
Deixam no ar um perfume
De violeta ou rosa
Jasmim
E quando o cinzento do céu Nos invade
E os olhos se fecham Percorrendo o infinito
Giram em torno do jarrão
Aperaltado Com as pétalas secas do cardo
Que por aí colhi Não pelo odor
Antes pelo rigor da forma
E temperamento.
Ali estão Quietas
Tristes À minha frente
Se lhes toco Picam
E partem-se Desfazem-se
No chão Já nada significam
Ensombradas Pardacentas
Escondidas na penumbra da noite
Até que uma vassourada As remova
E na memória permanecem
Oh as emoções
Já são amarelas Icterícias
Cadavéricas
Já não me surpreendem
O coração está mais duro Mirrado
Não bate tantas vezes
E a alma? Será que ainda anima?
Será que a tenho?
Não sei Não a vejo Não a sinto
Nebuloso ou transcendente?
Abstrato?
Mas sinto vida E entendo-me criatura
Não sopra como a brisa de norte
Que talvez me traga outra emoção
Arrepia-me Cutânea
Do momento
Deixo o coração Deixo a alma
Largo tudo Procuro razão
E parto em busca do “eu”
Disfarçado de “imperturbável”
E “valentão das dúzias”
Não… Não quero dizer
Que estou emocionado
Por não saber quem sou
Nem ao que vou
Não me atrevo a pronunciar
Que outra me invadiu
Isso agora Já é coisa de fracos
Homem que o é Não mostra
Esse lado piegas
Faz-se forte Aguenta Estoico
E se não conseguir Se fraquejar
Quando a dor é maior que o furor
Esconde-se E berra Grita
Chora
Sem que ninguém note
E bem longe do mundo
De circunstância
Assalta-me a melancolia
Sentado no morro Junto à praia
A olhar o mar
O céu charmoso Salpicado
De leves flocos de algodão
As gaivotas que sobrevoam
E nada me dizem Passam indiferentes
Não me ligam E continuam.
Ao final da tarde
Vejo lá longe Bem longe
Passar uma cidade flutuante
Dizem Um paquete
Vi-o n cais A despejar gente
Como formigas famintas
Apressadas
Agora ruma ao oceano
Com sete mil olhos Que comeram todas as ruas
Tasquinhas da baixa E do bairro
Da Sé d’Alfama e Mouraria
Esses sete mil Que me observam
Eles correm mundo
Vieram saber Lisboa
E já se vão
À tona Deslizam Ébrias
Injetadas pela brisa do Tejo
Dizem que o oceano
Não se mede em quilómetros
Será que tem fim?
Oh emoção!
Os minutos não contam
As pedras não mexem
O céu escurece E assalta-me
Um remoinho de ansia
Um reflexo de despertar
Uma flecha de Cupido
Reboliço De paixão
Olho esbugalhado Holofote
Reconhecido Sempre disfarcei
Publicamente Não assumi
Desde o primeiro projeto De vida
Puto inconformado Já não consigo reprimir
Permaneço apaixonado.
Rebusco E encontro motivação
Sentir Respirar Observar
Luz do sol Água Mar Céu azul
Ar Horizonte Infinito
Rios de pensamentos corridos
Interligados Entrelaçados
“Kamasutram” No gozo dos sentidos
Preceito moral Ritual Desejo
Amo a Vida
Amo as pessoas Que se permitem amar.
LUMAVITO
12/01/2015
Simples como palhas E fenos
Doces como corações amenos
Claras como as águas dos rios
Pilar de todos os desafios
Estrada de todas as pontes
Buscando outros horizontes.
Concretas como os sonhos
Distantes Nos pesadelos medonhos
Reais como as nuvens
Enérgicas como os jovens
Brilhantes Como as estrelas
Pintadas com aguarelas.
Escondidas como as vergonhas
Se tristes Não as proponhas
Apaixonadas Por seres perfeitos
Livres de preconceitos
Leves como as gaivotas
Elásticas quanto afoitas.
São as indomáveis vontades
De nós Singelas verdades
São-no a nossa espada guerreira
A estrutura primeira
Da afirmação consciente
Do ser enquanto gente.
É o elemento primário
Do percurso diário
Razão que sustenta o mundo
Para o sentir mais profundo
É de mim concurso justo
Para o deixar mais robusto.
LUMAVITO
08/01/2015
Nesta época festiva
Celebra-se Pobreza
Fome Desemprego
Mentiras dos políticos Desassossego
Neste Natal de loucos
Arrastando-se Compassadamente
Nos corredores Do centro comercial
Nos vidros embaciados pelo bafo
Esta gente
Que morre aos poucos
Sendo que pouco tenha
Na mesa ao jantar
Na lareira arde a lenha
No bolso apenas trocos.
Euforia desmedida
Compra consolas Peluches Chocolates
Gomas de consumir o tempo
E o bicho da ansiedade contida
Esta gente Triste gente
Aparentando toda a calma
Com cara sorridente
Disfarçando o que lhe vai na alma.
Preces ao menino
Ai que ouse algum cretino
Não entrar no ritual
Da imagem do Natal.
Alguns vão à missa do galo
Cativos Fervorosamente
Do Jesus menino
O poder inconsciente
Da fralda de linho
E da vaca indolente
Dos camelos em pleno deserto
Com a estrela por bem perto.
Vêm da missa do galo
Que amanhã já é assado
Vão pra casa Trocam presentes
Comem fritos
Bailarotes Pimpolhos
Filhoses quentes
Sonhos benditos.
Animam-se
Do diário tédio que subsiste
As escuras nuvens do dia
Dos dias invariáveis
Que nada trazem de novo
A não ser mais tortura
Imutável horizonte deste povo.
É Natal Ou já não
Já passou
E a louca euforia por cima
Para esconder a monotonia
E novo ano se aproxima
Celebrado Em estridente cacofonia.
As lojas voltam a encher
Champanhe Marisco
Mais comida Bem bebida
Irrompe pelas gargantas
Empanturram-se
Coca cola Cerveja
Outras bebidas de estalo
Animados Empolgam-se
Abraçam-se beijam-se
Ao tocar as badaladas
O ano vai ser novo Vai ser muito bom
Nestas gargantas bem regadas.
Bandulho atulhado
Cérebro perturbado
Perduram até à exaustão
Romper da aurora
Traz securas
Fazendo das tábuas Colchão.
O que resta todo o ano
Olheiras Mau estar
O desejo de coisas novas
Na vida do quotidiano
Rápido virou azedume
Nada mudou As mesmas trovas
Nem o calor de algum lume
Poderá estas mentes arribar
Já que de pensamento velho
Não se faz bom conselho.
LUMAVITO
05/01/2015
Tenho uma vontade indomável
De sorver vida a pulmões escancarados
Devorar os dias aos bocados
Rumo ao interminável
Sonhar que o prazer é como luz
Vai-se quando o sol se esconde
Pestaneja com a lua
Que o olhar seduz
Que não tem fugir por onde
Até que o astro celeste resplandeça
E o dia seguinte substitua
O lixo da minha cabeça
LUMAVITO
04/01/2015
LÁGRIMA SOLITÁRIA
Porque me deixas de rastos
Tu que eras minha
Abandonas-me
E expões-te ao vento
Fico sem jeito
Quando a emoção me escapa
Entre os dedos da mão
Eu que me queria afigurar de forte
Só me paras nos socalcos da face
E deixas-me mudo a olhar
Para dentro de mim
Sem saber se me destroças De vez.
Mas não, não me deixas esvair
Em tristezas corridas Cinzentas
A tua avenida rasgada cara abaixo
Salgou o leito da emoção
Que me invadiu
De ver uma criança
Fixar os olhos num mendigo
Que habita um cartão
Debaixo da varanda dum prédio.
Libertou a mão
Fugiu
Envolto em comovente ternura
Dá uma corrida apressada
E afaga ao velho o rosto dormente
Marcado pela dor de tal vida
Amargura.
Porquê a criança
Porquê um marginalizado
Por esta sociedade
Olho humedecido Brilhante
Porquê o seu sorriso
Arrancado neste dia
Em troca duma carícia?
Deste mundo
Neste momento
Esta imagem
Cala-me bem fundo
Não quero
Não consigo dizer mais que…
Este é o meu Natal.
LUMAVITO
27/12/2014
Para ti, que viajaste, faz hoje vinte e oito anos
Tem piada, passaste este Natal comigo
inundaste o bacalhau de azeite, couves do quintal
Bebeste um copo de vinho, disseste que um só não faria mal
E animaste-me como sempre
Que giro eu a enrolar-me em lamechas
Carpindo mágoas, e tu sempre a encorajares-me
Obrigado.
Amanhã continuamos a conversa.
LUMAVITO
27/12/2014
Germina a semente o rebento de estaca
O ramo submerso na terra Fixa raízes
Parto vegetal Natural
Sem ferros Nem cesarianas
Com o resplandecer do sol
Os raios rasgam a neblina
Húmidos ficam os óvulos
E o esperma
Da vontade de desabrochar
Gema que rompe a pele da semente
E ergue-se Rumo à luz do dia
A crosta da terra estala lenta
Em sinal de águas rebentadas
Desabrocha jovem Atrevida
Rumo à dureza dos dias Das noites
Em permanência Olhar atento
Como sentinela Firme Não dorme
Postura ereta Imponente Vertical
Constante Eminente
Sedentária e dinâmica
Atenta Interventiva
Porque não altiva Senhora do seu espaço
Acompanha a sua sombra rodopiante
Vira-se ao sol verga-se ao vento
Indiferente à chuva e ao tempo
Floresce Tal como a Primavera
Reveste-se de plumas verdejantes
Aloira as vestes Ao longo do Verão
Despe-se em público Acompanhando O austero Outono
Segue os passos gelados Do rigor do Inverno.
Juntas Fazem a floresta
Enigmática silenciosa solidária
Constatam em assembleia Geral Ordinária
A presença por perto Do bicho humano
Mau vizinho Quezilento Interesseiro
Egoísta Vingativo Manipulador
O único ente traiçoeiro Que mora por baixo do sol
E todas crescem Agarradas ao chão Que as sustenta
Suporta Impávido acolhendo a folhagem solta
De Outono Dá-lhes alimento Todos os dias
Sem interrupção Incansável da companhia solitária
Porque até na morte Agarradas a terra cara
Olham o céu As árvores
Continuam de pé
Só o machado os separa
LUMAVITO
21/12/2014
EMOÇÕES
Nesta face arredonda das emoções estou do lado da emoção
Fico ao lado da emoção sou o pretenso conquistador das palavras
O escrivão das palavras as palavras com
As emoções que sobem com as palavras
As sentidas num arrepio dum corpo nu em quarto com uma janela
A janela das palavras viagens
tão perto e tão longe Nesta viagem de emoções
Palavras palavrões O Judas da razão
Como o Pilatos de todas as decisões
A emoção Lavando as mãos
Não sei quem me deu tanta comoção que se agarra a mim
Sinto uma quando o lápis sulca o papel longa estrada
Do poema de cantar de sorrir
Percorrer o mundo Espalhando razão das emoções brilho Abrilhantado
Da alma de Pessoa no Chiado
Loa a Camões desde Sagres até ao Oriente
Gente discreta alma ereta júbilo
Trovador desconhecido neste mundo perdido estou bem junto das vou à noite pela rua olho a lua
E sonho Armostrong aos saltos risonho
Entre tanta sensação Passo de gigante inspiração
Humanidade e a página vira A outra romagem
Carnagem em África América ilha selvagem
Rubor de corpos dormentes areia dourada Rolar
Enrolar extenuados adormecidos
Suados
Procuro emoção vejo guerra diplomacia
Persuasão
Talvez por isso Na paz vejo razão
LUMAVITO
20/12/2014
(À Lucinda Vieira, mãe sempre presente)
Espero e desespero
Na ânsia de encontrar
Lugar para saborear o conforto
É pesado complicado
Com dificuldade de acomodação
Prescindir da rotina confrangedora da cidade
São precisos comboios, composições
De vontade
Para deixar o meu cantinho
Deixa-me sem jeito Sem as muletas de precisão
Que a vida da cidade oferece
São os médicos e hospitais
Os transportes à porta de casa
O jardim onde levar o cão
O carro estacionado frente à janela do quarto
Os elevadores escadas rolantes
De subir na ilusão
São os cinemas os teatros
Os centros comerciais com as suas extravagâncias
Incluindo os aparatos
Para atrair o consumismo
Sede de requintado brilhantismo
Julgava-me iluminado
Imunizado a estas modernices
Eu que sempre acreditei Que a vontade
È mais forte que o vício
O vício é coisa de fracos E os fracos assim nasceram
E nunca serão fortes
Eu que sempre clamei
Que só é fraco quem não tem caráter
Eu que sempre procurei o exemplo
O padrão para os outros
Sem mácula que se aponte
Ser a água da fonte
Rosa dos ventos para os perdidos P
orto de ancoragem aos foragidos
Eis-me aqui
Com ar de palerma incompreendido
Armado em animal ferido
Porque não arranjei jeito para o falhanço
Sou eu que sinto esse fracasso Eu sou o fracasso
O que vive permanente
Atrás do nariz de palhaço
Dessa força anímica que apregoo
E todos são fortes quando expostos
À dificuldade manifesta
E agem com afronto à pressão
Que os contesta
Fortes são os que preveem o difícil
E se preparam para o aniquilar
São fortes os que se preparam na bonança
Para resistir à tempestade
Da falta de confiança
Não resiste quem veste a pele de génio
Nem triunfa quem se acha preparado
Só ultrapassa o obstáculo
Quem sentiu dor no exercício
Aquele que insiste que o trabalho é constante
Quem em caso algum diz "não" à entrega
Ao empenho militante
OH! quão fraca é a mente
Que não entende que a sua mestria
Será sempre relativa
Porque dependente da habituação
E não se prepara para a mudança
A vida em permanente conflito
Com os desafios de cada tempo.
Porque esta sociedade, sem confiança
Sem espírito guerreiro
Vai criando mecanismos de traição
Aos princípios Ideais Anseios
E vai-se auto mutilando Em devaneios
E frustrações
Somos filhos e somos pais
Enteados e padrastos Somos orgulho
E constrangimento
Somos entendimento Incompreensões
Certezas e contradições
Encarnamos atitude
E desistência
Auguramos o que entendemos o melhor
Construindo coisas incompletas Sofríveis
Desgastas pela utopia da perfeição
Por sentir que somos imperfeitos
Renunciamos ao espírito de entrega
Alegando imperfeições defeitos
Exaustos na refrega
LUMAVITO
19/12/2014
Procurava o silêncio
Fui em busca por todo o lado
Deixei para trás ruas e praças
Corri por entre a multidão
Olho em cada transeunte
Gente de todas as cores e raças
Alguém a quem pergunte
Se o viram ou não
Insisto na pergunta
Sem que resposta consiga
Toda esta gente segue apressada
Parece cerimónia defunta
Gente de paz em constante briga
Mais parece na parada
Mil e um carreiros de formiga
Olhos fixos na calçada
Expressão de distância
Manifesto de desprezo
Cúmulo de ignorância
Fustigada
Por fogo aceso
Soa a zumbido de gente
Num enxame cinzento
Coberto por nevoeiro denso
Gente triste, indiferente
Enredado pelo ar poeirento
Da distância, bem estranha
Manifesto desumano
Tristeza bem medonha
Cariz bacteriano
Não é deste silêncio que falo
Este é ensurdecedor
Não é paz de espírito
Não é cómodo nem indolor
Palavras, palavras Tantas palavras
Que sentido, que contexto
Que benefício
Se o produto, consequência
Tem sentido, ofício
Promove harmonia Solução
Se o não é Contributo de falência
Fatal prenúncio
Palavras em vão
O terror do silêncio
Que silêncio é este
Que me cala a ilusão
Que tipo de sumiço
Me retorna à realidade
Que especiaria me tempera
E me faz parar
No fervilhar destes dias loucos
Pensamentos de abrasar
Que silêncio é este
De momentos tão poucos
Tão
Que me dá serenidade
Na social confusão
De discursos tão ocos
Contraponto
Respiro pausado
No recato do silêncio
Inalo frescura na mente
Envolto num mundo sem gente
Longe do borburinho
De tanta gente errante
Dos mesmos hábitos Do lado mesquinho
Do mundo Que se acha perfeito
Me arrepiam
E me deixam sem jeito
Reconforta
Expressar com o silêncio
A dor O prazer
O sentir Que é ser
A sorte Que brota
Da sublime ausência da palavra
Entusiasta uso da razão
Saímos mais fortes desta lavra
Contagiado no fervor
Banhado na cor da emoção
Silêncio Solene silêncio
Épico Calmaria me arrebata
Me empolga Me transfigura
Que força esta que me ergue
E me faz suplantar
A ausência das palavras
Que doping este Me espicaça
E me faz pular
Para lá da monotonia
Das palavras vazias
Acão de verbos
Coisas de substantivos
Adjetivos de carregar textos
Que me dá a harmonia
Sem que nada se expresse
Que discurso é esse
Que não me deixa
Ensaiar nada diferente
E calo as palavras Que balbuciei
Sem articular amargas ideias
Calo o vazio da lei
Com o silêncio que plantei
Olhando à volta
Sinto aconchego
Pelas pedras que me olham
E sorriem em comunhão
Contemplo a vénia Idolatria
Das árvores ao vento
Relação de filogenia
Na loucura da solidão
Inclino-me Rendo-me
À cultura do silêncio
Assim olho a vida
Com existência infinda
Pois do silêncio a magia
Em caso algum Será contida
E extravasa qualquer medida
Forma singela Apaixonada
De sentir esta gente Este mundo
Objetivamente tentar
Analítico olhar Profundo
Despido de pretensas teorias
Sabendo Que vão parar ao mar
As águas das montanhas Das encostas
Das planícies E das rias
Prende-me cativa
Cerro os olhos
Em silêncio Fico a sonhar
LUMAVITO
14/12/2014