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SABER PARA EXPORTAÇÃO

por avidarimar, em 12.04.15

 

 

Jovem combativo da minha pátria,

Como os que o eram em sessenta,

Gente com dignidade própria,

Vertical e sonhador se apresenta,

Transporta a dor, qual angústia,

Desta política arrasadora e cinzenta.

 

Crescemos a pulso, vivemos esperança,

Aprendemos democracia, liberdade,

A nós, impusemos espírito de mudança,

Fizemos com esta gente, solidariedade,

Do nosso destino, a liderança,

Tudo isto construímos com vontade.

 

História esta tão intrigante e estranha,

Se repete nos tempos, de modo igual,

Certos tipos, gente sem vergonha,

Pouco a pouco, modo informal,

Vão minando a montanha,

Do nosso sonho, outro Portugal.

 

Ensino para todos, fomentámos,

Igual saúde para todos, sim senhor,

Regras de trabalho, produzimos,

A todos pusemos ao dispor,

Que aos melhores, promovemos,

O saber, pelo mérito, sem favor.

Construção pedra a pedra desta gente,

Gente obreira, de garra, laboriosa,

De vontade férrea, ebuliente,

Cumprir a tarefa assaz, honrosa,

Recuperar do atraso patente,

De propositada incultura vergonhosa.

 

Se enchemos o peito de orgulho,

É pela cultura do saber,

Passámos o espartilho,

De tristes e sós, outro ser,

Passar de pai para filho,

A vontade de vencer.

 

Formação esta não se compara

À que outrora emigrou,

Gente que não se formara,

Nem outras sortes ganhou,

Ganhou quem foi embora,

Ar digno, simplicidade, imperou.

 

De piegas a novos emigrantes,

Já tudo foi dito, proposto

Por estes grilos gaiteiros, falantes,

Dizem essas caras sem rosto,

Que somos meras pedras rolantes,

Sem direito a trabalho digno, suposto.

 

Não mais jovens a partir,

Aquele não é sua escolha, seu país,

Gente que não consegue sorrir.

A partida, só por si, é infeliz,

Gente que prefere contribuir,

Estar na solução, sempre o quis.

 

Não mais braços musculados de valor,

Acenando, dizendo adeus,

Clamando pela dor,

Sofrimento seu, e dos seus,

Esta é a sua terra, seja o que for,

Forte, bradando à terra e aos céus.

 

Não mais França, Alemanha,

Só porque não temos lugar,

Nem em vale ou montanha,

Queremos viver, ir e voltar,

Sem que nos imponham a escolha

De morrer ou matar.

 

Querem estes jovens ter direito

De optar, e querer ou não, sair,

Quando o que lhes vai no peito,

Nos diz, de verdade, a sorrir,

A oportunidade é seu proveito,

Escolher quem quer partir.

 

LUMAVITO

21/07/2013

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publicado às 23:58

SÃO ROSAS MINHA GENTE

por avidarimar, em 12.04.15

Rosas brancas, amarelas,           

Vermelhas, rosas rosa,

Em quadro ou jardim, que belas,

São pra mim verso e prosa,

Pra ti palavras, pra elas,

Espadas do pensamento,

Em mãos cálidas, eu sustento.  

 

Rosas rosa, rosas brancas,

Amarelas e rosas vermelhas,

Em tuas mãos são alavancas

Da máquina do tempo que desfolhas,

Entre ideias e risos montas

Uso de emoções e razão,

Na palma da tua mão.

 

Amarelas e rosas rosa, 

Púrpuras e lilases,

Rosas verdes, bem formosas,

Para uns ideias, vozes,

Pra outros, sonhos que gozas,

De imaginar, bom de ver,

Na essência do teu ser.

 

Rosas, rosas de todas as cores,

De veludo, a gosto teu,

Sem mácula nem bolores,

De solidão não sofreu,

No jardim, outros amores,

Com elas outros sonhos,

Flores rosáceas, todos os tamanhos.

 

Rosa murcha vermelha,

Neste canto do cravo,

Esta realidade espelha,

De mel, vazio o favo,

Nesta manha já velha,

Duas galinhas pra um, sem rédea,

Dá uma galinha por média.

 

LUMAVITO

18/07/2013.

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publicado às 23:13

DISTRAÍDOS SURPREENDIDOS TEIMOSOS E CEGOS

por avidarimar, em 12.04.15

Distraído é este, aquele, o outro

Este momento que vive com paixão

Arrebata ilusões

Ontem foi pura distração

Destrói e ergue corações

O agora tudo ergue

Pensar outro momento ainda não serve

Para criar convicção

Esquecer o passado

É útil

Preparar o logo é fútil

Preparar o futuro é sofrer antecipado

 

Distraído não recorda,

Não aprende com o erro,

Meu, teu, nosso, de todos, Para malhar o ferro, usa gelo,

Faz dos outros, tolos,

Só ele está certo,

Todos os outros, na parada,

Marcham de passo enganado,

Só ele marcha de forma acertada.

 

Surpresa grande se encarrega

De o chocar de frente com o real,

Da verdade, o importante segrega,

E o transforma idiota animal

 

Dia a dia, acontece,

Já nada é anormal,

O estranho é previsível,

Como se tudo previsse,

Esta atitude é terrível

Forma de ver, surreal.

 

O dia todo, todos os dias

Te mentem descaradamente

Ontem era irrevogável,

Hoje já é aceitável,

Posso dizer adeus aos estrangeiros,

Sem de lá sair, dias inteiros

A intrujar,

Dançarino com pés de chumbo,

Acha fácil enganar todo o mundo.

Directo entrar para longos voos

Entre Lisboa, Bruxelas,

São Bento ,

Belém e Bucelas,

Qual branco vinho delirante,

Que traga novos amuos,

Perante o outro farsante.

 

Que se cuidem os distraídos,

E mais os teimosos,

Por nada são colhidos,

Os chavelhos partidos,

De nada vale o ar colérico,

Sem eles ficaram, afinal.

 

Toma cuidado, não durmas

Não te deixes surpreender

Há sempre gente que te pode

Desse verbo poder

Que no final tem a ver

Com o acto sexual

Sem que seja vontade tua

Seja em casa ou na rua

E a forma              é brutal

 

LUMAVITO

08/07/2013

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publicado às 23:04

FÁBRICA DE SER E VIVER

por avidarimar, em 12.04.15

Tenho uma fábrica de fazer

Fazer nuvens    alegria                 chuva e sonhos

Fábrica virada para o mar

Ondas na praia a morrer

Uma fábrica de fazer e desfazer

Ódio      dor         angústia

Tal fel que não deixa amar

 

Tenho fábrica de acordar

Para a vida simples         alegre  e de querer

Que olhes para mim

Com esses olhos do teu ser

Essa atenção de escutar              enfim

Por entre teu choroso olhar

 

Carta aberta do coração

Fábrica de interpretação

Dos recados do vento

Nada me contas de teus segredos

Que são produto dos teus medos

Para qualquer ser atento

 

Tenho fábrica, e eu lamento

Não poder decretar

Com rigor e lealdade

Aos meus assalariados

Que só se fabrica felicidade

Nos pontos mais variados

 

Tenho fábrica de fazer

Contos de fadas              e adormecer

Uma fábrica de fabricar

Histórias de faca e alguidar

Contos de amor apaixonado

Com este mesmo coração irado

Lábios secos de mirar

Que olha outro coração vidrado

Ódio que assalta sem falar

 

Tenho fábrica de coser

Com linhas, trapos rotos

Fábrica que faz fazer

Linha de coser versos soltos

 

A minha fábrica de fazer

Revolta com palavras

Palavras com rosto

Constrói armazéns de ideias

São doutrinas sérias

E no meio da tua praça

Constrói também o desgosto

 

Na minha linha de montagem

O artigo a sair é a esperança

Juntei-lhe nove grãos de amor

Seguem à câmara de calor

Com vontade, nada cansa

Seguiu à zona de arrefecer

Passei com o ferro a vapor

Que é meu por herança

Minha avó se lembrou

A este rebelde, o meu ferro

Lembrou-me também

Que os filhos dos meus netos

Serão avós mais além

 

A minha fábrica de fazer

Faz estradas e caminhos

Rios rasgados pelas águas

Corações fritos em mágoas

Produz urzes e rosmaninhos

Que confere aroma ao meu correr

 

O meu engenho de queimar

De destilar e refinar

Das mãos usar e fazer lume

Dissipar os restos da desgraça

Usar o braço que abraça

O teu ser             teu sentir

Arrancar simulada mordaça

De forma livre                  falar

Sem se fazer ouvir

Quero usar a voz

E entoar um hino à revolta

O descontentamento descontente

Bater a qualquer porta

Juntar gente

Para engrossar o coro

Do protesto

Dizer aos que constroem

E alimentam

A desigualdade                                vivem dela

Haja barraca ou favela

Dizer aos que são feitos desta pasta

Não queremos mais

BASTA

 

Na minha fábrica de pensar

Planeei

Este mundo é injusto

Não quero mais fabricar

Ódio      vingança              tristeza

Quero ter a certeza

Que na minha fábrica de fazer

Só sairá produto

Que não amargue a alma

Não lhe dê fel

Não lhe ponha muito sal

E a tempere com alegria

De manhã à tarde, à noite

Faça sol ou enxovia

Quero júbilo todo o dia

 

Na minha fábrica de decisões

Resolvi…

Vou ter com o chefe

Da linha de montagem

Sentar-me frente a ele

Em tom de coragem

Direi:

Decreto que na nossa fábrica de empreender

Não se fabrica mais fome            desgraça             miséria

Tortura, ameaça

Fuligem

Não mais produtos tóxicos

Vida indigna já é coisa séria

Vamos usar outros propósitos

Para maior conforto da raça

Linhagem

 

Espantado, boquiaberto

O meu chefe de linha

Ficou aterrado de tal decreto

Fitou-me nos olhos        fundo respirou…

E disparou:

Mas       patrão...

Temos de mudar toda a linha de produção

Os nossos processos

Vão sofrer retrocessos

E não vai dar resultado

Se não alterarmos

Os componentes do produto acabado

 

A reacção química será outra

E o artigo deterior

Só temos uma saída

A solução afirma

Que só a coisa melhora

Se alterarmos matéria-prima

A minha fábrica é imperfeita

Não tinha previsto desfeita

Do equilíbrio do produto

Ideia que refuto

Temos que alterar a ideia

A obra final

Não pode sair coisa feia

Será saudável, amiga do ambiente

Equilibrada e sustentável

Sem dúvida, sem mal

 

Na minha fábrica de conjeturar,

Imaginei:

O que vamos alterar

É o barro do tijolo

A água do gelo

A massa do bolo

E o tapete sem pelo

 

Ideia genial

Da minha fábrica de aparvalhar

Mas que ignorância fatal

Da minha causa de complicar

 

Da fábrica de telefonar

Liguei ao meu fornecedor

De ambição

Comuniquei-lhe:

Do alto do meu saber lhe digo

Quero trocar o seu artigo

Por outro artigo

Um que não provoque maldade

Não tenha acidez

Tenha suficiente liquidez            e promova igualdade

 

Do outro lado da linha

Ouvi

No meio daquela vozinha

Vacilante             tremida

O fornecedor do mercado

Alvitrar:

Cada produto é formado

Por substâncias ativas                   Compostos simples

Simples compostos

E bem complicados compostos

De base de néctar de fel

De ácido              vinagre e mel

Cada um de calculada quantia

Em cada produto do mercado

Juntando pitadas de fado

E folia

 

Que o mercado assim estabeleça

Que há químicas formas

De moldar o pensamento

Com inúmeras peças

Que em vez de sorrir

Entornas

As lágrimas do teu tormento.

 

Sem que, por qualquer comando

Da minha fábrica de ruminar…

Não…    não cogitei

A natureza se encarregou

De, nestas alturas, quando

A derrocada de neve deslizou

Soterrado           gelei

E calei…

As unhas roí

Só parei no metatarso

Em tudo o que há de mim

Não estava preparado

Bem tento          e não disfarço

Entender que o mal do mundo

Não se pode      de todo

Banir tal fado

 

Percebi…

Pode-se pôr lá no fundo

Do poço fundo

Nem que vá ao fim do mundo

Mas matá-lo?

O meu fornecedor

Chamou-me burro         ou cavalo

 

Cristalina que sai

Da nascente bem profunda

Bem perto de gelada

Em contacto com o fel

Matéria amarga e imunda

Só por si              intragável

Faz a água contaminada

Tornar-se intolerável

Numa sala pouco usada

Da minha fábrica             encontrei o medo

Alma minha assustada

 

Assustada?        Porquê?

Assim que tal percebi

Não tarde           mas cedo

Pus pés ao caminho

A insegurança provoca medo

Como tratar este mal que há em mim

 

Nos meus tempos de rapaz

Alta noite            noite ofusca

De Assentis a Fungalvaz

Lá fui eu em busca

De bicho ou fantasma

Daquilo que assusta

Qual matéria prima que traz

Esse sentir atónito

De coisa que se não vê

E se sente

Angústia

Provoca calor    náusea                 vómito

 

Terra batida, a estrada

Irregular, empedrada

Em contínuo sobe e desce

Estreitam as margens

Sem a lua condutora

Matos rasteiros

De belos cheiros

Morangueiros e azevinhos

Cenário bem natural

Arbustos de pequenos raminhos

E ramos

No escuro           a íris reconhecia

Caminhos por onde

Várias vezes fora

De carroça ao Agroal

Bem aprazível                   de extasiar

Onde aprendi os primeiros banhos

Fora do alguidar

 

Pinheiros altos e rebentos

Sobreiros            eucaliptos           sebe

Mato real            caruma crepitante

Meus pés estalavam

Eram os únicos sons barulhentos

No meio da passada constante

Outro som não se percebe

 

Repentino…

Asa curta             bater forte

Mocho aquele não me assustou

Na oliveira          mais à frente     poisou

Não foi ali que medo encontrei

 

Rumo definido a norte

Em breu embrenhado

Passei vale         passei ponte

Em busca de novo medo             falhei

 

Desisti de alimentar o medo

Fui noutras direções

O medo não me deu pistas

Presenteou-me com bandeja das convicções

De início              ideias mistas

Que me chegam suficientes razões

Medo é insegurança

É falta de crença

Em nós e nos nossos

Somos capazes de entender o mundo

Para mais confiar

Com sentimento profundo

Que, do ofício   não são os ossos

Esses medos fantasmas

D minha fábrica de amar

 

Perdido o medo da razão

Cresci a emoção

Nova fábrica de ser

Ser autêntico    corajoso

Dizer-me a mim               e ao meu botão

Quanto me falta para ser ambicioso

De dar tudo o que há em mim

Verdade, satisfação de partilhar

E nunca contabilizar o que dei e recebi

 

O mundo é tão grande, tão díspar

Tão diferente invulgar

Tal o critério interesseiro

Com que é olhado

A julgar

Por qualquer facto materialista

Daninho

De qualquer nosso parceiro

Ou nós próprios

Tentação

Aos outros apontar o dedo

Sem que fabrique manipulação

Peso na consciência       concebo

Acompanhado ou sozinho

 

Mundo este      imperfeito

Não depende só de nós

Nem da nossa vontade

 

É assim                 não aceito

O que hoje é verdade

Pode amanhã não o ser

Talvez possa parecer

Mas não há produto

Que não provoque dano

É assim                 é humano

 

Corre    corre     paixão

Ganha asas e voa

Não desistas      vai em frente

Segue caminho à toa

Teu coração chora

Não mente

Vai amarar na lagoa

Lagoa de espraiar a esperança

Cheia de boa gente        aquela rua

 

Coração               não desistas

Muitos sonhos a conquistar

Quantas alegrias nas pistas

Da tua paixão de arder

O teu destino não é fado

Na minha fábrica de fazer

 

Na minha fábrica

A roda não para

Avós      pais        netos e bisnetos

Hão de criar

Nova fábrica de sonhar

Hão de ver seres concretos

Sair da nova fábrica de segredos

Que já não fabrica receios e medos

 

Na minha fábrica

A ideia não para

A ideia e o turbilhão

Estão associados

Para continuar a ilusão

Que vamos transformar o mundo

E o vamos filtrar               de todos os males

Escavar bem fundo        Nos vales

E enterrá-los

Atravessar as pontes

Subir por entre árvores                               nos Intervalos

Até ao cume dos montes

Olhar o mundo                 imponente         assombroso

Gritar alto           forte     poderoso

Só fabricamos o que pretendemos        nos pedem

Este mundo é nosso      é de todos

É do humilde     do indigente

Como do perverso         do indecente

Fabriquemos o nosso mundo

À medida que caibam todos      toda a gente

 

LUMAVITO

07/07/2013

 

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publicado às 22:52

PATRIA TRISTE

por avidarimar, em 12.04.15

A tua dor é a minha dor,

O teu choro, meu lamento,

Maltratada, pálida, sem cor

Tu lastimas, não me contento

Que tenhas filhos, de seja quem for,

Filhos sem pão nem sustento,

Pariste-los com tanto fervor.

 

Não quero, estou farto

Percorro as vielas do teu corpo,

Olho teus olhos,

Recuso-me, e não parto,

Os teus olhos tristes

Procuro que me fites

De frente, e dizer-te,

A lua está triste, a lua está nua

Cinzento pardacenta.

 

Minha mão está fria

Como a tua, regelada

Mas não está sangrenta

Tua mão é carinho,

Desejoso que ela me afague

Sem algemas de sangue,

Este coração sozinho.

 

O PIB, o défice, a dívida,

O estado e o privado,

O privado que é dos outros,

Porque o teu privado é de todos.

Discurso habituado

Nosso, só as ruas desertas,

As noites escuras,

O peso do fisco, o deve

E o nada tem a haver,

Embebedam falando de praias belas,

O caminho é o das estrelas

E o ciclo vai inverter,

Mas não inverte,

E é dez virgula seis e não cinco e meio,

É só mais um sacrifício, um esforço,

Não estando brilhante, sustentável

Está mesmo feio,

Não há qualquer reforço

Para uma dívida impagável.

 

Choras, pátria nossa, pátria forte,

A dor dos teus filhos,

A dor profunda na carne,

Esfaqueada pelos brilhos

Dos canivetes dos artistas do golpe!

Tudo tresanda a sangue jorrante,

Nesta democracia representativa,

Tu votas, e eu decido

O que, de forma certeira e constante

Com texto belo, forma substantiva,

O que há de melhor para o partido.

 

Choras, pátria minha,

Com estes artistas, representantes,

Hoje há a mais função pública,

Amanhã saúde a mais

Antes era demais ensino

Voz altiva de distintos figurantes

Em tão sujas mãos

O teu e o meu destino.

 

Pátria guerreira, ousada,

Sempre usaste

Tratar vilão e repressor,

Com filigrana cuidada,

Invasor e traidor,

Não com vingança, mas justiça moderada

 

Não magoas quem te magoa,

São todos teus filhos,

Para uns, valores é coisa boa,

Outros seguem outros trilhos,

Não baralhes, não confundas,

Repressor não é da tua veia,

Chegou cá por outra via

Chupa-te o suco maior

A que chamam economia.

 

Pátria és tu, sou eu,

O teu amigo, e familiar meu,

Pátria somos nós todos,

Diferentes as gentes

Tantas formas de pensar

Não somos pera doce, doces tolos.

Tolerantes, pacientes,

Isso somos…

Mas quando os filhos da mãe

Usam do abuso,

Ah sim!

Qual Conde de Andeiro

Ficou em ponto de mira,

E com um tiro certeiro,

É da varanda que se atira

Um traidor forasteiro.

 

Ao lado de um grande homem

Há sempre um grande traidor.

Traidores, penso,

Apontá-los, nem importa,

Nem é preciso!

Busquemos os grandes homens,

Quem são?

Onde andam?

Não dei que tenham por aí aparecido!

 

Ou esse desígnio se cumprirá

Da nossa iniciativa deste povo,

Mais uma vez história se fará

E teremos a nossa pátria, de novo!

 

Quero voltar a ver o teu sorriso

Esse sorriso nos teus lábios

Quero voltar ao paraíso

Ouvir teus conselhos sábios

Para te ver radiante, feliz

Farei o que for preciso

 

 

LUMAVITO

30/06/2013

 

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publicado às 22:48

O SILÊNCIO DO VALE DOS AMIGOS

por avidarimar, em 12.04.15

As rochas param

Os montes fitam

As nuvens pairam

O chão desliza

Passo a passo

A trote                 Ou a galope

O amigo pisa

Impelido pelo vento

Que é contrário

Corre contra o tempo

Contra a maré

Vai mundo fora

Montes e vales

Empedrados e areal

Não chega ainda

Nem para agora

 

Há sempre mais uns metros

Decâmetros       hectómetros

Quilómetros

Pés a correr estrada além

Qual fome de descobrir

Mais um canto                  um caminho

Uma surriba

Não dá fome     a corrida

Dá fome de corrida

Pés de éter        de veludo

O chão não os sente

Ri de contente

Este pensar a que aludo

Por saber que esta gente

Tem o prazer na ponta dos pés

É isto que ele sente

É isto que aquele conta

É isto que tu és

 

No meio do silêncio do vale

Tantas vozes

Vozes silenciosas

Sussurram

Palavras pingadas

A rasgar a cara

A paisagem te admira

Olha essas pingas de safira

Que evaporam

Em cada pedalada

A mata te atira

Uma seta de orgulho

De sabor, de prazer

Por saber

Que estás a limpar o entulho

Do teu corpo,

Que, esse sim

Te levará a bom porto

 

Orgulho no que fazemos

Com os pés        com as mãos

Pernas                  braços  e cabeça

Qual palato da vida

O gostinho especial

Estar com os amigos

Aqui, neste local

Ou noutro lado

Cumprir sonhos antigos

De menino

Passar à realidade

Com esse teu porte fino

Deslizar pelas nuvens

Sonho corrido e cantado

Seres o campeão

Do mundo          da alegria

Axioma de satisfação

 

No teu silêncio

Vais aos outros contando

Sem palavras

Eles entendem esta linguagem

Ao José                                ao Fernando

Ao Joaquim        ao Leonel

Ao António        ao Armando

Ao João                               e ao Manel

A todos

Por entre frondosa folhagem

Por tanta história seguida

O silêncio do vale para

E siga a vida!

 

LUMAVITO

22/6/2013

 

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publicado às 22:42

NÃO HÁ INVERNO

por avidarimar, em 12.04.15

Espelho do ânimo

Semblante sorridente

Conheci tal furacão

Cantando cada minuto da hora

Dia         semana                               mês a fio

Porte sagaz        competente

Tudo rodava na sua mão

Pela vida fora

Em constante desafio

 

Quem a conhece

E eu mal a conhecia

Sabe o encanto

Que naquele espírito empolgada

Ritmo louco todo o dia

Aos afazeres de quem não cede

Milímetro ao ócio

Jornada toda, ar de cansada,

Palavra nunca usada

 

Tempos loucos

Loucos tempos de trabalho

Agruras

Os dias eram curtos

Tanta azáfama                  se esquecia

Que       na terra

O limite não é o céu

Nem em bicos de pés

Lhe chegamos com a mão

A razão estava alta

Não fizesse nada falta

Aos que lhe ocupam o coração

 

Certo dia, ao virar da esquina

De tempos sem a ver

Aquela cara que todos fascina

Tinha algo diferente

Não lhe reconhecia        não era gente

De se vergar à dificuldade

O sorriso era o mesmo

Talvez mais desbotado

Mas era ela        vagueava pela cidade

Buscando da vida            o outro lado

 

Passo dorido     movimento sem chama

Olhos brilhantes              ombros descaídos

Desloca-se         ar cansado da vida

Longas noites e dias sofridos

Lágrimas gordas de dor                derrama

Suspira                 chora

Aquela alegria fingida

Que não é a mesma de outrora

 

Oh dor! Oh raiva!

A que antes andava       erguida a cabeça

Agora não tira os olhos do chão

Dona de uma vida plena

Haja o que houver

Helena

Essa não és tu

Tu és     tens muito mais

Para dar e vender

O que esta era te travou

Vai-se soltar, vais correr              gritar

Esta não sou eu

Nem quero por aqui ficar

 

Essa dor que ela sente

Também eu a senti

Olha em frente

A tua garra é maior

Que todas as patranhas

Que a vida nos oferece

 

Da lama dar o salto

Não sou crente

Mas, se quiseres

Por ti rezo uma prece

Se com isto te puder

Dar ar mais contente

Eu não falto

 

Compreendo, este momento

Para ti desconhecido

À noite                 todas as campainhas tocam

Badalam tantos sons

Tantos rumores

O amanhecer tem outros tons

Ao ritmo dos clamores

Vais voltar a mostrar

O teu sorriso rasgado

A quem mais te ama

Os teus esperam-te

Tens muito para lhes dar

Alguém que te reclama:

Acorda desse sonho mau

Verás que eles querem-te

Aquela mulher de intensa chama

 

Só uma coisa me empurrou

A sair do meu cantinho

Ver-te a sofrer uma dor

Não é só dor

É tormento.

Mas...

Não há sentir igual

Ao emergir dessa água sem cor

Saborear a brisa do vento

E ver afinal

Esta Lena que vi               desencantada   triste

Agora já ri, já chora de alegria

Este já é outro tempo

À tua força, nenhum mal resiste

 

Quero saber que continuas a sorrir

Queria dar-te uma flor

Olha para estes versos

Pétalas carregadas dum tom maior

Para pores na lapela

Encara-os como do mato             flor selvagem

Não foi regada

Mas tem sentimentos

Que vale a pena a imagem

Gratos estes momentos

Dormir a Primavera desabrochada

 

 

LUMAVITO

21/06/2013

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publicado às 22:24

A MINHA AMIGA NICA

por avidarimar, em 12.04.15

Belo almoço de grelhado bacalhau

Adorada salada, tomate, pepino

Couve roxa, cenoura, alface

Correr estômago intestino

Assim nada mau

Coisa que a malta gosta

 

Café de bica que fora

Antes comprado

No supermercado

Prazer da vida no palato

A todos fiquei grato

 

Em redor, a sogra

De cara nada magra

Dos “remédios”, assim o encara

Família toda à mesa

Conversa nossa, vários temas

Cordata discussão acesa

Debate animado este

Tal era a paixão

Que foi adiando, e lançou natural teste

À vontade de levantar

E visitar o meu cão

 

Não é cão é cadela

“NICA” o nome dela

Não tem ordem de subir

Disciplina de hierarquia

Para a casa dos humanos

No piso de baixo, seu poiso

Arquitectei meus planos

Desci para o nosso cantinho,

Bem perto das garrafas de vinho,

Bem vazias, por sinal

 

Abri a porta, fui ao quintal,

Fitou-me de frente, admirada:

“Onde andaste tu?

Conversar eu queria

Com quem, não tive

Vida de cão, surreal”

 

De cão não, de cadela

Ripostei eu, tu não és qualquer cão

Tu és a minha cadela

Vá eu montanhas correr, ou ainda de barco à vela

Serás a conselheira

De quem vai estrada fora

 

Sempre atenta, cabeça erguida

Olhos brilhantes, comovida

Minha cadela nada disse

Sentou-se, deu-me a mão

Digo eu, pata da frente

Falar não era preciso

Estava radiante

 

Desafiei-a no olhar

Os olhos, de mim não desviou

Da cabeça lhe afagar

Foi coisa que a derreteu, seu focinho austero

Exclamou:

“O que é meu também é teu”

 

Conversas longas temos tido

De cima do seu porte altivo

Tal animal encorpado

Doutos conselhos me deu

Ânimo, desafios

Naqueles dias frios

E noites de céu assombrado

 

Fiel amiga, pois és

Tão grande teu coração

Deitou-se a meus pés

Se frio não tiveres

Eu no peal da porta

Controlo a emoção

Fico a olhar para ela

Qual frio que corta

Dos dois a respiração

 

A minha NICA já me ensinou

Que ser cão não basta

Para ser digno, verdadeiro

Preciso de ser fiel

Fiel ao meu sentimento

Fiel em bom e mau momento

Humilde que se farte

Para cumprir meu papel

 

E os dois adormecemos

No peal do nosso cantinho

Por quantas horas não sei

Só sei que regelei

Mas, ao acordar, senti o carinho

Da pata da NICA

Eu me vou, e ela fica

 

LUMAVITO

16/06/2013

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publicado às 00:23

PAIXÃO HISTÓRICA

por avidarimar, em 12.04.15

Tenho uma namorada

Graciosa, esbelta, sábia

Dormi esta noite com ela

Segredou-me que me ama

É gente de espécie daquela

Nos dá sofrer, mas clama

Que sofrer também é paixão

Paixão na dor, no viver

Paixão em tudo o que é ser

A dor arde e cura

A febre da minha loucura

Dor ardente que me consome

Dor da minha ilusão

Que falar com gente satura

 

Palavra mais palavra

Tenho uma namorada

Com novecentos anos

De história

É grata, fiel, sábia

Conhece os filhos da mãe

Que são seus filhos também

 

Já pariu vezes   muitas

Que o céu, para tanto

Estrelas não tem

São filhos deste, daquele

Filhos do além

Daqui e doutras paragens

Habituou-se a contá-los

Entre ramos, as folhagens

Que a floresta, ao entardecer, contém

 

São flores do matagal

Tal como as são do jardim

Lírios, acácias, cravos, jardineiras

Peças soltas da minha jarra

Eu não choro por mim

Meu canto de emoções

Das rosas, sorridentes botões

Para outros, coisas inteiras

E dispensáveis, sem valor, descartáveis

A minha namorada tem novecentos

E tem coisas inestimáveis

 

A minha amada namorada

Namora com milhões

De gente como eu, e tu, igual a ele

Não é prostituta de nome

Alma cheia de paixão

Tem relações com todos

Servos e amos, sem e com fome

A minha namorada de novecentos anos

 

Ar grave tem aos pés

Por trás dos montes, farta cabeleira

Tem nos braços o Sado, e em Aveiro

Na ria, outra alegria

Cabeça, questão estrutural

Aqui e noutros locais

Nem sempre para todos, usual

Olhos brilhantes no Douro

No Ribatejo do estômago, o touro

Da garra, da força, de moer

A fartança

No choupal a esperança

E a certeza que, só beleza cansa

Intestino delgado

Mirem o Zêzere

Que desemboca no grosso Tejo

Longos vales percorridos

Entre ais e gemidos

Espraia seu cantarolar

Vai desembocar bem além

Para lá de Santarém

Pois é

Estão a ver a figura

Seja ela mole ou dura

Que, se de engolir complicado

Bem perto de Belém

Não se afigura desajustado

 

Além Tejo as pernas e coxas

Gémeos musculados

As emoções nada frouxas

Umbigo não encontrei

Coração como estrela

Palpitante e bem alta

Farta brisa no ar

Apetece por ali ficar

Afagar tão forte motor

Deste cantinho olhar

Para o olhar profundo do mar

Que nosso é

Até alguém do tabuleiro roubar

 

Foi neste mar

Que fui buscar ouvidos

Tão sentidos, magoados

De discursos que correm na praça

Da governança

Disse-me ela:

Não lhes dês ouvidos

Querem-nos ver sentidos

Haja gente de raça

Que faça ouvidos de mercador

Não mostres ar sofrido

Eles aproveitam nossa dor

 

Perguntar-me-ão:

Vagina, ela não tem?

Tem….. tem!…..

Um pouco por toda a parte

Tal é a dita sorte

De parir um qualquer

No lugar que ela deseja

Mas ela sabe também

Que vai despejar entre são bento e belém

Os outros filhos da mãe

 

Seios, qual quê

Estão no meio do atlântico

Flutuam despidos pela brisa do mar

Tal pregador romântico

São fortes e robustos

De pequeninos todos mamam

Mas à luz da vela

Ou candeia apagada

Tanta passada sem som

Outros graúdos mamam dela

Pelos vistos, o leite é bom

 

Símbolos, mais que todas as medalhas

Todos os combatentes de guerra

Que tal peito encerra

Dizê-los todos

Não tenho saber

Lembrando alguns

Sem desprimor para os outros

Pois é de símbolos que cumpre enaltecer:

 

Aristides de Sousa Mendes

Alexandre Herculano

Geraldo sem Pavor,

Humberto Delgado,

D. Afonso Henriques

Pedro Hispano

Sobrinho Simões

Zé do Telhado,

Vieira da Silva

Vasco da Gama,

Afonso de Albuquerque

Bocage

António Silva

Elias Garcia

Ary dos Santos

Prata Soares

Maria da Fonte

Fontes Pereira de Melo

Fernão Mendes Pinto

Gago Coutinho

Carlos Lopes

António Teixeira Rebelo

Egas Moniz,

Joaquim Agostinho

Nuno Álvares Pereira

Maria João Pires

Salgueiro Maia

Eça de Queiroz

Miguel Torga

Almada Negreiros

Siza Vieira

Fernão de Magalhães,

Fernando Lopes Graça

Luís de Camões

Zeca Afonso

Grândola,

Fernando Pessoa

Damião de Góis

António Lobo Antunes

Rosa Mota

Paula Rego

Almeida Garrett

Francisco Lázaro

Viriato

Gentil Martins

Sacadura Cabral

Sousa Martins

Miguel Corte Real

MARIZA

João Garcia

Santo António

Padeira de Aljubarrota

Carolina Beatriz Ângelo

Edgar Cardoso

Catarina Eufémia,

Gil Vicente

Natália Correia

Bartolomeu Dias

Alves Barbosa

A Portuguesa

Eusébio Silva Ferreira

A BANDEIRA

 

 

Olhei para a minha namorada

Que tinha muitos anos

Não a senti cansada

Tantos nomes, mas tão poucos

Da sua lista elaborada

Vi-a calma, tranquila

Sem rancor

É tal o sentimento de perseverança

Temperança

Solidez no falar, complacência no olhar

Humildade no saber

São estes alguns dos atributos

Que dela permanente, me enamoram

Quais animais astutos

Esperam baixos, o momento

De captar no tempo

Sinais ao contrário do vento

E a minha namorada

Chamou-me à atenção

Não esqueças os outros

 

A minha namorada é jovem

Jovem de novecentos

Dorme com todos na cama

Gente que a ama

Gente que não ama

Nunca saberá amar

Partilhar é preciso

Entrega até mais não haver

Ocioso, ficarás pobre

Não vivas só de materiais proveitos

Para teres caracter, ser nobre

 

À minha namorada inteligente

Eu vi abordagens loucas

Prometerem-lhe o céu e a terra

Tretas de quem berra

Vocifera, urdindo tantas patranhas

A nossa namorada sempre soube

Quem é seu

Quem tolera

Não tolera, não

Quem mais barriga tem que olho

Mais conversa que razão

Areia só atira, para a vista

De quem engana

Não está avisado, que resista

 

A minha namorada de

Novecentos anos

Viajou por montes

E vales rasgados

Desceu rio, foi por mares

Agora já muito navegados

Foi além deste cantinho

Procurou todas as sortes

Viu ao largo, esvoaçando

Uns Açores, adornou forte Madeira

Mais tarde, do alto das ameias

Alguém gritou:

Verde Cabo para São Tomé

Qual pântano da Guiné

A Angola um saltinho

Qual onda que pique

Estes mares não resistem

Virou costas, celebrou com tinto vinho

Foi aos camarões com fresco verde branco

A Moçambique

Às especiarias mais um salto

Qual forte cravinho

Não sendo uso, abastança

Ali viu sustento farto

Com primor

E quem descobre uma dúzia

Descobre mil

Só parou em Timor

Noutra rota diferente, os brasis

A namorada descobrir, os quis!

Em cada um deixou marcas

Não vai o tempo apagar

Saber, parecer, língua

Dignidade na luta frontal

Quem quer viver que resista

Ao lado fácil e formal

Do que simples é, e será

Opinar de fácil moda

Vociferar a vida toda

Que tudo foi mal

 

Adamastores, velhos do restelo

Sempre os houve

E os haverá

Não é hoje que matamos

O destruir da construção

Construir a destruição

Sobre cinzas não há

Espírito que rejuvenesça

Essa moda fatal

Que é estar, não ser

Que é tudo mal, afinal

 

Lírico canto eu não entoo

Para tal não tenho garganta

Meu canto, meu encanto

A minha caneta vibra

Com a palavra que pranta

Da minha namorada

Tal corda de fibra

Para convocar enamorados dela

O que sei é escrever

O que medita, e me dita a mente

É esta a minha forma     de agradecer

Aquilo que sou, foi ela

 

Enamorados, mobilizem

Motorista, cozinheiro, professor

Mineiro, artista, polícia

Reformado e pensionista

Cada um que eleja

Arma limpa e leal

De lutar contra quem

Este quintal quer suspender

De respirar

De uma só vez desfalecer

E a vender

Por trinta moedas de prata

Tal Judas Iscariotes renascido

Neste canto querido,

Que é Portugal

 

A minha namorada mandou-me último recado:

Este não é o fado desfeito

Não se envolvam em desgraças e prantos

Quem luta terá efeito

A última palavra não é dos insanos”

Da minha namorada de novecentos anos

 

 

LUMAVITO

15/06/2013

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publicado às 00:12

CONFRARIA DOS PASTÉIS

por avidarimar, em 12.04.15

Certa velhinha distinta

Sábia, respeitosa, honrada

Olhar perdido na calçada

Húmida e escorregadia

Seguia leve, lenta

Escorregando os pés

Pelo ondulado do carril

Com distinta mania

Do eléctrico que já não rola

Já do tempo do novo estado

Julgando ser o dito amarelo

Que ecoava sonora badalada

Accionada pela corda de cabedal…

“Tlim……Tlim……”

Avisava rouca voz ensopada:

“O destino da viagem é a calçada do amparo

Sou a Maria do laranjal

Tenho bancos de pau

Costas de palha entrançada

Guarda-freios engravatado

Eu sou a carreira Madona

Que sobe e desce em cordel

Até à fábrica superior

Qual símbolo da economia

A fáfrica do pastel ”

 

Surpreso, olhei à volta

Perguntei-me se

Frente ao sessenta e nove daquela porta

Estaria em juízo meu

Belisquei-me, roí as unhas

Não seria que tu punhas

Muitos cheirinhos em café meu

Seria isto bebedeira minha

Tal era a pedrada que vinha

Daqueles ares do céu

 

Parei

Não pode jogar

O baralho todo

Ou sou eu quem endoideceu?

Ou já teria queimado

Os fusíveis da mona

Ou ela não teria a ousadia

De na rua gritar

Que era a carreira madona

 

Segundos graves estes

Não me tinha apercebido

Que a velha de tal sorte

Dançava no meio da estrada

Collants até ao pescoço

Até ao umbigo o decote

Gestos largos e bruscos

Qual dança orquestrada

De forma tão igual

À da grande cantora      afinal

Processo de loucura esta

Tal era aquela festa

Que punha o mundo tão louco

Não seria assim tão pouco

Sinal de alarme então

Não é normal uso da razão

 

Aquilo não estava a acontecer

Eu que tinha traçado

Ir dar uma voltinha

Ver se melhorava

O estado de alma minha

 

Lesta, a “madona” parou

Mudou a música

Entoou a marcha nupcial

Trombetas afinadas e imponentes

Coisa de cerrar os dentes

Tal a cabeça fervente.

Encostado ao mais próximo portal

Daquele sessenta e nove

Daquela rua pendente

 

Olhei à volta, agarrei-me

Ao batente daquela porta

Não vá eu escorregar

Não aguente, e queime

Os neurónios que ainda tenha

Tal é a loucura que corta

A respiração ofegante.

 

Tentei perceber se respirava….

Pois….

Ainda mexo os dedos,

Não afastou meus medos

Tentei levantar-me….

Consegui

Estava quase ereto

Passe quase certo

E dali me pirava

Corri calçada acima

Calcanhares esfumaçando

Tal a ansiedade com que,

Coisa sem par

Me pusesse ao ar fresco

Daquela loucura por perto

 

Dobrada a esquina, abrandei

O caminho percorrido

A madona afinal, não correu

Aliviado, olhei ao meu lado

Ergui os holofotes, vi de relance

Que tinha deixado à ré

A Rua do Alucinado

 

Passo apressado

Não viesse a madona, outra vez

Repetir o estrago que fez

Bem dentro do meu sobrado

Procurei orientação

Olho em redor

Que seja lá qual for

Esta rua seria

Uma viela estreita

O fim da via por perto

 

Mais calmo

Vi que estava em cima  pedra direita

Letra preta

A Travessa do Aperto

 

Zona assaz, estranha

Em poucos metros palmilhados

Estranho ensaio da madona

Entre o aperto e o alucinado

 

Aliviado desta pressão

Entendi o cenário intrigante

Que levaria a cantante

Figura desconcertante

Não fossem as marcas do tempo

Dançando desengonçada

Ao sabor da brisa do vento

 

Já recomposto do susto

Acalmei

Ganhei coragem, voltei à esquina

Espreitei, e………

“sou a presidencial menina

Rara beleza e formosa

Quero dançar alegria

No meio daquele palácio

Isto não é falácia

O meu amigo presidente

Da fábrica dos pastéis

Disse que tenho jeito

Para o distrair

Muito ensaiar tenho feito

Não o vou desiludir”

Quedou-se, de novo, a madona

Não me sentia

Mesmo bem da tola

Era caso de psiquiatria

Não me acho quem se idolatra

Não encaixa, à distância

Poder sofrer doença da moda

 

Mas deve haver

Elemento intrigante

Toda esta palhaçada

Seria algo importante

Para eu não perceber

Coisa tão deslocada

 

Rebolei

Virei-me para o outro lado

Esfreguei os olhos

Acordei, alto bocejar…..

Han…….??? UUUiiii!!!!!!!

 

Salto brusco

Dei um pulo na cama

Questionei,

Onde está a madona?

 

Oh pesadelo

Gesto violento

Puxei com força o cabelo

Não fosse eu

Voltar a adormecer

E de novo,

Não voltasse a assaltar-me

Figura mais sinistra

Me entrasse pelo quarto,

De tal história    tão farto

 

Fiz a barba

Tomei banho

Não esquecendo tal sonho

Ou tormento, que medo

Eu que afirmava

Que medo nunca tinha!

Fui até à cozinha

Disse para mim

O pior já passou

Espírito este que ousou

Assaltar a minha mente

E pôr-me pela frente

Coisa desfasada no tempo

Tão ridículo momento

 

Frente à malga de leite

Juntei-lhe os cereais

Roí uma pera, uma dentada

De colherada em colherada

Lá despachava…..

Parei……

A madona disse que é a menina………

Que o amigo presidente……..

Queria para se distrair…….

Mas……..

Qual presidente?

Dos pastéis? Dos anéis ?

Das gravatas de nó arredondado?

De facto, …não bate a bota

Com a madona

Desculpem, a bolota, ou a perdigota?

Ou lá o que é

Já nada sei

O que sei é que a fulana

Falou nos pastéis!

Quais pastéis?

Não seriam eles

Parecidos com os fofos

De Belas?

Queijadas de Sintra?

Outra questão me assalta

Com tolos se enganam os bolos

Ou serão os lobos?

Bom……

Vamos a isto

Eu não vivo disto

A vida não se ganha assim

 

Quedado

Ouvi voz do Além

Qual sala para concertos

Sussurrar…..

“Não, não…..

Há gente que vive assim!!

GENTE QUE VIVE DA LOUCURA DOS OUTROS!!!

E também do trabalho!!!!

Ah pois é!!!! Oh Zé!!” (ao amigo António Feio)

 

Emudeci…..

Pressenti o fim

No coração mais apertos

Dei um murro na mesa

Fui respirar para o jardim

 

Vamos acabar com a história

Limpar esta memória

Que cindo discos externos

De quinhentos gigas

Não chegam

Pelo bem da minha saúde

Devo jogar à defesa

 

Corri para o carro

Atrasado

Por esta maquinação

Fui andando em função

Do transito, que demorava

Entupido por todas as vias

 

Decididamente...

Hoje nem uma acerto

Pachorrentamente…

Liguei o rádio

Música de fundo era

Remédio prudente

Elevo o som, estico o ouvido

Qual cartucho,

De ar insuflado

……e apertado……

PUUMMMMMMMM………..

Estoiro final

Disco mais recente da “MADONNAAAAAA…..”

 

Este mundo, remédio já não tem

Tudo combinado

Não é só tortura

É maldade grossa

Para que caia na fossa,

E não me aguente…..

 

Murro no “off”

Murro no volante,

Não fosse

Ela dizer que ia ensaiar a valsa…….blá……blá…..blá!!

Irritado

Buzinadela para aqui

Gritaria acolá

Encostei o carro

No primeiro buraco

Que encontrei

Subi apressado

Escadaria que se cruzou

Frente ao meu olhar

Onde ia ter, não sabia

Mas sabia que não queria

Ali ficar

 

Acendi o cigarro

Que não fumo há trinta anos

Esqueci o sítio do carro

Fui procurar remédio

Para tão vastos danos

 

As mãos tremiam, não era eu

Pronto, não vale a pena

Francamente

Já não tinha cabelo

Cabelo no chão às mãos cheias

Para quê o pente?

Deitei-o escada abaixo

Degrau a degrau

Virei à esquerda, à direita

Para o lado, atrás, prá frente

Já não encaixo

Com o lugar onde estou

Mais acima uma tasca

Tasca ranhosa, ainda assim

Entrei

Portas doidas, qual cow-boy

Alguém, minha triste figura rasgou

De frente, perguntou:

“Vem assustado?”

Quem…. Eu?....eu não!!!

O sangue parou, o coração não palpitou

Já não era vibrar de cordas vocais

Antes, voz embargada, trémula

As pernas vergavam

Não era eu, nãããooo!.. não era!!

Claramente

Algum demónio que me atente

tentei disfarçar                já gemia……

Alguém riu

Veloz mas parado

Gaguejei…

“Vai prá lupa do tio! “

Senti vago clamor

Lá longe, bem longe, muito longe

Um clamor ~a ~~nadar~~ no gás~~ do~ meu~~~~ cérebro~~~~~~~~!!

Balbuciei qualquer coisa

Que não tive capacidade

De entender

Seria pela idade?

O primeiro aviso do colapso

Que deixa para trás a realidade

 

Já   f~i~z t~r~a~m~p~a

Cala-te, não reajas

Não dizes coisa com coisa

De facto, tão estranha

Nunca me tinha acontecido

Não comer os pastéis quentes

Ainda assim, me dar

A volta à tripa

 

Implorei…

Posso ir à casa de banho?

“tenha cuidado, é ao fundo

Do corredor

Carregue no interruptor ”

 

Com um aceno, agradeci

Arrastei-me, perna apertada

Empurrão na porta, rangeu

Desapertei o cinto

Manobra complicada, tão demorada

Aflita, à rasca

A coisa estava mesmo torta

Mesmo à tangente

Fica melhor que “rasquinha”!

Deu tempo

Sentei-me

Elevei o olhar

Forcei…..

A sanita rangeu

O edifício tremeu

O mundo estremeceu….~~nuvens,~~~pressões altas~~~~e baixas,

Chuva, trovoada

Relâmpagos, raios e coriscos

Quase adormeci, pensei

Se não fosse isto

Dava-lhe uns chutos no cagueiro redondo

Um murro na tromba

a quem não tem vergonha

E de mim zomba!

 

Imprevisto! Fuga de gás

Coisa grossa atrás!

Fez-se luuuuuuuz!!!

A madona, tinha dito

Grande matrafona,

Que a Fábrica Superior do Pastel

Era ideia afinal,

Símbolo de exportação

De alvarinho, a exortação

O país vai crescer, suas dívidas pagar

Não mais cair em crise

Esta ideia de trampa

Trampa enchouriçada

Talvez assim, a salvação

Que se frise, que é de ideias destas

Que este cantinho vive e vence

Finalmente

Não rima, mas é feliz

 

Oh senhor presidente

Da Fábrica Superior dos pastéis

Bem perto da governança

Aconselhe-os, segrede-lhes

Não deixe cair tal cagança

Garantirá futuro nosso

Não nos faltará caroço

Ricos seremos

Quais povos do norte do tabuleiro

Felizes estarrecemos

Brilhante ideia esta

Agora é que, que aguente

Não há mesmo rima

Olha!, agora!, …..é assim, “pessoal”

Ainda assim é uma festa

 

Percebi algo

Algo que tenho percebido

Lembrei-me de palavras

Expressões, palavrões

Quintal, laranjal               Pastel

Confraria, associação

Doces e amargas

Palavras               Com e sem aparente sentido

Não

A palavra sem produto                 Escorrido

Do turbilhão de ideias

Neste mar de teias

Interesses

Em que és apanhado, surdo

Sem energias                    Mudo

Será?

Associação-confraria

Pastel sem quadro

Conteúdo sem sabor

Juraria

Este não é o mundo que quero

Não é aquilo que busco

Quais pastéis amargos

Azedos

Nos presenteiam modo patusco

Dêem-me antes encargos

Com esses encanto        muitos tenho

De onde provenho

Não baixo os braços

Todos eles          na vida                 eu canto

Grito

Chegou a hora

De arregaçar mangas, correr, berrar

Esta terra, se não é para todos

Se alguém tem que sair

Não somos nós que estamos a mais

Morrer                 JAMAIS

Rua com tais ditadores

Ditadores da democracia dormente

Dorida                  ferida

Haja quem enfrente

De frente            olhar fixo nos olhos

É de nós todos

De todos nós

R U A!!!

Q'esta casa não é tua!

 

 

 

LUMAVITO

20130614

XI

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publicado às 00:11


Pretendo abordar diversos temas da vida de um país, em claro desespero de sintonia entre governados e governantes. A forma pretende ser a poesia, com mais preocupação pelo conteúdo da mensagem que pela forma de estilo.

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