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Jovem combativo da minha pátria,
Como os que o eram em sessenta,
Gente com dignidade própria,
Vertical e sonhador se apresenta,
Transporta a dor, qual angústia,
Desta política arrasadora e cinzenta.
Crescemos a pulso, vivemos esperança,
Aprendemos democracia, liberdade,
A nós, impusemos espírito de mudança,
Fizemos com esta gente, solidariedade,
Do nosso destino, a liderança,
Tudo isto construímos com vontade.
História esta tão intrigante e estranha,
Se repete nos tempos, de modo igual,
Certos tipos, gente sem vergonha,
Pouco a pouco, modo informal,
Vão minando a montanha,
Do nosso sonho, outro Portugal.
Ensino para todos, fomentámos,
Igual saúde para todos, sim senhor,
Regras de trabalho, produzimos,
A todos pusemos ao dispor,
Que aos melhores, promovemos,
O saber, pelo mérito, sem favor.
Construção pedra a pedra desta gente,
Gente obreira, de garra, laboriosa,
De vontade férrea, ebuliente,
Cumprir a tarefa assaz, honrosa,
Recuperar do atraso patente,
De propositada incultura vergonhosa.
Se enchemos o peito de orgulho,
É pela cultura do saber,
Passámos o espartilho,
De tristes e sós, outro ser,
Passar de pai para filho,
A vontade de vencer.
Formação esta não se compara
À que outrora emigrou,
Gente que não se formara,
Nem outras sortes ganhou,
Ganhou quem foi embora,
Ar digno, simplicidade, imperou.
De piegas a novos emigrantes,
Já tudo foi dito, proposto
Por estes grilos gaiteiros, falantes,
Dizem essas caras sem rosto,
Que somos meras pedras rolantes,
Sem direito a trabalho digno, suposto.
Não mais jovens a partir,
Aquele não é sua escolha, seu país,
Gente que não consegue sorrir.
A partida, só por si, é infeliz,
Gente que prefere contribuir,
Estar na solução, sempre o quis.
Não mais braços musculados de valor,
Acenando, dizendo adeus,
Clamando pela dor,
Sofrimento seu, e dos seus,
Esta é a sua terra, seja o que for,
Forte, bradando à terra e aos céus.
Não mais França, Alemanha,
Só porque não temos lugar,
Nem em vale ou montanha,
Queremos viver, ir e voltar,
Sem que nos imponham a escolha
De morrer ou matar.
Querem estes jovens ter direito
De optar, e querer ou não, sair,
Quando o que lhes vai no peito,
Nos diz, de verdade, a sorrir,
A oportunidade é seu proveito,
Escolher quem quer partir.
LUMAVITO
21/07/2013
http://avidarimar.blogs.sapo.pt/
Rosas brancas, amarelas,
Vermelhas, rosas rosa,
Em quadro ou jardim, que belas,
São pra mim verso e prosa,
Pra ti palavras, pra elas,
Espadas do pensamento,
Em mãos cálidas, eu sustento.
Rosas rosa, rosas brancas,
Amarelas e rosas vermelhas,
Em tuas mãos são alavancas
Da máquina do tempo que desfolhas,
Entre ideias e risos montas
Uso de emoções e razão,
Na palma da tua mão.
Amarelas e rosas rosa,
Púrpuras e lilases,
Rosas verdes, bem formosas,
Para uns ideias, vozes,
Pra outros, sonhos que gozas,
De imaginar, bom de ver,
Na essência do teu ser.
Rosas, rosas de todas as cores,
De veludo, a gosto teu,
Sem mácula nem bolores,
De solidão não sofreu,
No jardim, outros amores,
Com elas outros sonhos,
Flores rosáceas, todos os tamanhos.
Rosa murcha vermelha,
Neste canto do cravo,
Esta realidade espelha,
De mel, vazio o favo,
Nesta manha já velha,
Duas galinhas pra um, sem rédea,
Dá uma galinha por média.
LUMAVITO
18/07/2013.
http://avidarimar.blogs.sapo.pt/
Distraído é este, aquele, o outro
Este momento que vive com paixão
Arrebata ilusões
Ontem foi pura distração
Destrói e ergue corações
O agora tudo ergue
Pensar outro momento ainda não serve
Para criar convicção
Esquecer o passado
É útil
Preparar o logo é fútil
Preparar o futuro é sofrer antecipado
Distraído não recorda,
Não aprende com o erro,
Meu, teu, nosso, de todos, Para malhar o ferro, usa gelo,
Faz dos outros, tolos,
Só ele está certo,
Todos os outros, na parada,
Marcham de passo enganado,
Só ele marcha de forma acertada.
Surpresa grande se encarrega
De o chocar de frente com o real,
Da verdade, o importante segrega,
E o transforma idiota animal
Dia a dia, acontece,
Já nada é anormal,
O estranho é previsível,
Como se tudo previsse,
Esta atitude é terrível
Forma de ver, surreal.
O dia todo, todos os dias
Te mentem descaradamente
Ontem era irrevogável,
Hoje já é aceitável,
Posso dizer adeus aos estrangeiros,
Sem de lá sair, dias inteiros
A intrujar,
Dançarino com pés de chumbo,
Acha fácil enganar todo o mundo.
Directo entrar para longos voos
Entre Lisboa, Bruxelas,
São Bento ,
Belém e Bucelas,
Qual branco vinho delirante,
Que traga novos amuos,
Perante o outro farsante.
Que se cuidem os distraídos,
E mais os teimosos,
Por nada são colhidos,
Os chavelhos partidos,
De nada vale o ar colérico,
Sem eles ficaram, afinal.
Toma cuidado, não durmas
Não te deixes surpreender
Há sempre gente que te pode
Desse verbo poder
Que no final tem a ver
Com o acto sexual
Sem que seja vontade tua
Seja em casa ou na rua
E a forma é brutal
LUMAVITO
08/07/2013
http://avidarimar.blogs.sapo.pt/
Tenho uma fábrica de fazer
Fazer nuvens alegria chuva e sonhos
Fábrica virada para o mar
Ondas na praia a morrer
Uma fábrica de fazer e desfazer
Ódio dor angústia
Tal fel que não deixa amar
Tenho fábrica de acordar
Para a vida simples alegre e de querer
Que olhes para mim
Com esses olhos do teu ser
Essa atenção de escutar enfim
Por entre teu choroso olhar
Carta aberta do coração
Fábrica de interpretação
Dos recados do vento
Nada me contas de teus segredos
Que são produto dos teus medos
Para qualquer ser atento
Tenho fábrica, e eu lamento
Não poder decretar
Com rigor e lealdade
Aos meus assalariados
Que só se fabrica felicidade
Nos pontos mais variados
Tenho fábrica de fazer
Contos de fadas e adormecer
Uma fábrica de fabricar
Histórias de faca e alguidar
Contos de amor apaixonado
Com este mesmo coração irado
Lábios secos de mirar
Que olha outro coração vidrado
Ódio que assalta sem falar
Tenho fábrica de coser
Com linhas, trapos rotos
Fábrica que faz fazer
Linha de coser versos soltos
A minha fábrica de fazer
Revolta com palavras
Palavras com rosto
Constrói armazéns de ideias
São doutrinas sérias
E no meio da tua praça
Constrói também o desgosto
Na minha linha de montagem
O artigo a sair é a esperança
Juntei-lhe nove grãos de amor
Seguem à câmara de calor
Com vontade, nada cansa
Seguiu à zona de arrefecer
Passei com o ferro a vapor
Que é meu por herança
Minha avó se lembrou
A este rebelde, o meu ferro
Lembrou-me também
Que os filhos dos meus netos
Serão avós mais além
A minha fábrica de fazer
Faz estradas e caminhos
Rios rasgados pelas águas
Corações fritos em mágoas
Produz urzes e rosmaninhos
Que confere aroma ao meu correr
O meu engenho de queimar
De destilar e refinar
Das mãos usar e fazer lume
Dissipar os restos da desgraça
Usar o braço que abraça
O teu ser teu sentir
Arrancar simulada mordaça
De forma livre falar
Sem se fazer ouvir
Quero usar a voz
E entoar um hino à revolta
O descontentamento descontente
Bater a qualquer porta
Juntar gente
Para engrossar o coro
Do protesto
Dizer aos que constroem
E alimentam
A desigualdade vivem dela
Haja barraca ou favela
Dizer aos que são feitos desta pasta
Não queremos mais
BASTA
Na minha fábrica de pensar
Planeei
Este mundo é injusto
Não quero mais fabricar
Ódio vingança tristeza
Quero ter a certeza
Que na minha fábrica de fazer
Só sairá produto
Que não amargue a alma
Não lhe dê fel
Não lhe ponha muito sal
E a tempere com alegria
De manhã à tarde, à noite
Faça sol ou enxovia
Quero júbilo todo o dia
Na minha fábrica de decisões
Resolvi…
Vou ter com o chefe
Da linha de montagem
Sentar-me frente a ele
Em tom de coragem
Direi:
Decreto que na nossa fábrica de empreender
Não se fabrica mais fome desgraça miséria
Tortura, ameaça
Fuligem
Não mais produtos tóxicos
Vida indigna já é coisa séria
Vamos usar outros propósitos
Para maior conforto da raça
Linhagem
Espantado, boquiaberto
O meu chefe de linha
Ficou aterrado de tal decreto
Fitou-me nos olhos fundo respirou…
E disparou:
Mas patrão...
Temos de mudar toda a linha de produção
Os nossos processos
Vão sofrer retrocessos
E não vai dar resultado
Se não alterarmos
Os componentes do produto acabado
A reacção química será outra
E o artigo deterior
Só temos uma saída
A solução afirma
Que só a coisa melhora
Se alterarmos matéria-prima
A minha fábrica é imperfeita
Não tinha previsto desfeita
Do equilíbrio do produto
Ideia que refuto
Temos que alterar a ideia
A obra final
Não pode sair coisa feia
Será saudável, amiga do ambiente
Equilibrada e sustentável
Sem dúvida, sem mal
Na minha fábrica de conjeturar,
Imaginei:
O que vamos alterar
É o barro do tijolo
A água do gelo
A massa do bolo
E o tapete sem pelo
Ideia genial
Da minha fábrica de aparvalhar
Mas que ignorância fatal
Da minha causa de complicar
Da fábrica de telefonar
Liguei ao meu fornecedor
De ambição
Comuniquei-lhe:
Do alto do meu saber lhe digo
Quero trocar o seu artigo
Por outro artigo
Um que não provoque maldade
Não tenha acidez
Tenha suficiente liquidez e promova igualdade
Do outro lado da linha
Ouvi
No meio daquela vozinha
Vacilante tremida
O fornecedor do mercado
Alvitrar:
Cada produto é formado
Por substâncias ativas Compostos simples
Simples compostos
E bem complicados compostos
De base de néctar de fel
De ácido vinagre e mel
Cada um de calculada quantia
Em cada produto do mercado
Juntando pitadas de fado
E folia
Que o mercado assim estabeleça
Que há químicas formas
De moldar o pensamento
Com inúmeras peças
Que em vez de sorrir
Entornas
As lágrimas do teu tormento.
Sem que, por qualquer comando
Da minha fábrica de ruminar…
Não… não cogitei
A natureza se encarregou
De, nestas alturas, quando
A derrocada de neve deslizou
Soterrado gelei
E calei…
As unhas roí
Só parei no metatarso
Em tudo o que há de mim
Não estava preparado
Bem tento e não disfarço
Entender que o mal do mundo
Não se pode de todo
Banir tal fado
Percebi…
Pode-se pôr lá no fundo
Do poço fundo
Nem que vá ao fim do mundo
Mas matá-lo?
O meu fornecedor
Chamou-me burro ou cavalo
Cristalina que sai
Da nascente bem profunda
Bem perto de gelada
Em contacto com o fel
Matéria amarga e imunda
Só por si intragável
Faz a água contaminada
Tornar-se intolerável
Numa sala pouco usada
Da minha fábrica encontrei o medo
Alma minha assustada
Assustada? Porquê?
Assim que tal percebi
Não tarde mas cedo
Pus pés ao caminho
A insegurança provoca medo
Como tratar este mal que há em mim
Nos meus tempos de rapaz
Alta noite noite ofusca
De Assentis a Fungalvaz
Lá fui eu em busca
De bicho ou fantasma
Daquilo que assusta
Qual matéria prima que traz
Esse sentir atónito
De coisa que se não vê
E se sente
Angústia
Provoca calor náusea vómito
Terra batida, a estrada
Irregular, empedrada
Em contínuo sobe e desce
Estreitam as margens
Sem a lua condutora
Matos rasteiros
De belos cheiros
Morangueiros e azevinhos
Cenário bem natural
Arbustos de pequenos raminhos
E ramos
No escuro a íris reconhecia
Caminhos por onde
Várias vezes fora
De carroça ao Agroal
Bem aprazível de extasiar
Onde aprendi os primeiros banhos
Fora do alguidar
Pinheiros altos e rebentos
Sobreiros eucaliptos sebe
Mato real caruma crepitante
Meus pés estalavam
Eram os únicos sons barulhentos
No meio da passada constante
Outro som não se percebe
Repentino…
Asa curta bater forte
Mocho aquele não me assustou
Na oliveira mais à frente poisou
Não foi ali que medo encontrei
Rumo definido a norte
Em breu embrenhado
Passei vale passei ponte
Em busca de novo medo falhei
Desisti de alimentar o medo
Fui noutras direções
O medo não me deu pistas
Presenteou-me com bandeja das convicções
De início ideias mistas
Que me chegam suficientes razões
Medo é insegurança
É falta de crença
Em nós e nos nossos
Somos capazes de entender o mundo
Para mais confiar
Com sentimento profundo
Que, do ofício não são os ossos
Esses medos fantasmas
D minha fábrica de amar
Perdido o medo da razão
Cresci a emoção
Nova fábrica de ser
Ser autêntico corajoso
Dizer-me a mim e ao meu botão
Quanto me falta para ser ambicioso
De dar tudo o que há em mim
Verdade, satisfação de partilhar
E nunca contabilizar o que dei e recebi
O mundo é tão grande, tão díspar
Tão diferente invulgar
Tal o critério interesseiro
Com que é olhado
A julgar
Por qualquer facto materialista
Daninho
De qualquer nosso parceiro
Ou nós próprios
Tentação
Aos outros apontar o dedo
Sem que fabrique manipulação
Peso na consciência concebo
Acompanhado ou sozinho
Mundo este imperfeito
Não depende só de nós
Nem da nossa vontade
É assim não aceito
O que hoje é verdade
Pode amanhã não o ser
Talvez possa parecer
Mas não há produto
Que não provoque dano
É assim é humano
Corre corre paixão
Ganha asas e voa
Não desistas vai em frente
Segue caminho à toa
Teu coração chora
Não mente
Vai amarar na lagoa
Lagoa de espraiar a esperança
Cheia de boa gente aquela rua
Coração não desistas
Muitos sonhos a conquistar
Quantas alegrias nas pistas
Da tua paixão de arder
O teu destino não é fado
Na minha fábrica de fazer
Na minha fábrica
A roda não para
Avós pais netos e bisnetos
Hão de criar
Nova fábrica de sonhar
Hão de ver seres concretos
Sair da nova fábrica de segredos
Que já não fabrica receios e medos
Na minha fábrica
A ideia não para
A ideia e o turbilhão
Estão associados
Para continuar a ilusão
Que vamos transformar o mundo
E o vamos filtrar de todos os males
Escavar bem fundo Nos vales
E enterrá-los
Atravessar as pontes
Subir por entre árvores nos Intervalos
Até ao cume dos montes
Olhar o mundo imponente assombroso
Gritar alto forte poderoso
Só fabricamos o que pretendemos nos pedem
Este mundo é nosso é de todos
É do humilde do indigente
Como do perverso do indecente
Fabriquemos o nosso mundo
À medida que caibam todos toda a gente
LUMAVITO
07/07/2013
http://avidarimar.blogs.sapo.pt/
A tua dor é a minha dor,
O teu choro, meu lamento,
Maltratada, pálida, sem cor
Tu lastimas, não me contento
Que tenhas filhos, de seja quem for,
Filhos sem pão nem sustento,
Pariste-los com tanto fervor.
Não quero, estou farto
Percorro as vielas do teu corpo,
Olho teus olhos,
Recuso-me, e não parto,
Os teus olhos tristes
Procuro que me fites
De frente, e dizer-te,
A lua está triste, a lua está nua
Cinzento pardacenta.
Minha mão está fria
Como a tua, regelada
Mas não está sangrenta
Tua mão é carinho,
Desejoso que ela me afague
Sem algemas de sangue,
Este coração sozinho.
O PIB, o défice, a dívida,
O estado e o privado,
O privado que é dos outros,
Porque o teu privado é de todos.
Discurso habituado
Nosso, só as ruas desertas,
As noites escuras,
O peso do fisco, o deve
E o nada tem a haver,
Embebedam falando de praias belas,
O caminho é o das estrelas
E o ciclo vai inverter,
Mas não inverte,
E é dez virgula seis e não cinco e meio,
É só mais um sacrifício, um esforço,
Não estando brilhante, sustentável
Está mesmo feio,
Não há qualquer reforço
Para uma dívida impagável.
Choras, pátria nossa, pátria forte,
A dor dos teus filhos,
A dor profunda na carne,
Esfaqueada pelos brilhos
Dos canivetes dos artistas do golpe!
Tudo tresanda a sangue jorrante,
Nesta democracia representativa,
Tu votas, e eu decido
O que, de forma certeira e constante
Com texto belo, forma substantiva,
O que há de melhor para o partido.
Choras, pátria minha,
Com estes artistas, representantes,
Hoje há a mais função pública,
Amanhã saúde a mais
Antes era demais ensino
Voz altiva de distintos figurantes
Em tão sujas mãos
O teu e o meu destino.
Pátria guerreira, ousada,
Sempre usaste
Tratar vilão e repressor,
Com filigrana cuidada,
Invasor e traidor,
Não com vingança, mas justiça moderada
Não magoas quem te magoa,
São todos teus filhos,
Para uns, valores é coisa boa,
Outros seguem outros trilhos,
Não baralhes, não confundas,
Repressor não é da tua veia,
Chegou cá por outra via
Chupa-te o suco maior
A que chamam economia.
Pátria és tu, sou eu,
O teu amigo, e familiar meu,
Pátria somos nós todos,
Diferentes as gentes
Tantas formas de pensar
Não somos pera doce, doces tolos.
Tolerantes, pacientes,
Isso somos…
Mas quando os filhos da mãe
Usam do abuso,
Ah sim!
Qual Conde de Andeiro
Ficou em ponto de mira,
E com um tiro certeiro,
É da varanda que se atira
Um traidor forasteiro.
Ao lado de um grande homem
Há sempre um grande traidor.
Traidores, penso,
Apontá-los, nem importa,
Nem é preciso!
Busquemos os grandes homens,
Quem são?
Onde andam?
Não dei que tenham por aí aparecido!
Ou esse desígnio se cumprirá
Da nossa iniciativa deste povo,
Mais uma vez história se fará
E teremos a nossa pátria, de novo!
Quero voltar a ver o teu sorriso
Esse sorriso nos teus lábios
Quero voltar ao paraíso
Ouvir teus conselhos sábios
Para te ver radiante, feliz
Farei o que for preciso
LUMAVITO
30/06/2013
http://avidarimar.blogs.sapo.pt/
As rochas param
Os montes fitam
As nuvens pairam
O chão desliza
Passo a passo
A trote Ou a galope
O amigo pisa
Impelido pelo vento
Que é contrário
Corre contra o tempo
Contra a maré
Vai mundo fora
Montes e vales
Empedrados e areal
Não chega ainda
Nem para agora
Há sempre mais uns metros
Decâmetros hectómetros
Quilómetros
Pés a correr estrada além
Qual fome de descobrir
Mais um canto um caminho
Uma surriba
Não dá fome a corrida
Dá fome de corrida
Pés de éter de veludo
O chão não os sente
Ri de contente
Este pensar a que aludo
Por saber que esta gente
Tem o prazer na ponta dos pés
É isto que ele sente
É isto que aquele conta
É isto que tu és
No meio do silêncio do vale
Tantas vozes
Vozes silenciosas
Sussurram
Palavras pingadas
A rasgar a cara
A paisagem te admira
Olha essas pingas de safira
Que evaporam
Em cada pedalada
A mata te atira
Uma seta de orgulho
De sabor, de prazer
Por saber
Que estás a limpar o entulho
Do teu corpo,
Que, esse sim
Te levará a bom porto
Orgulho no que fazemos
Com os pés com as mãos
Pernas braços e cabeça
Qual palato da vida
O gostinho especial
Estar com os amigos
Aqui, neste local
Ou noutro lado
Cumprir sonhos antigos
De menino
Passar à realidade
Com esse teu porte fino
Deslizar pelas nuvens
Sonho corrido e cantado
Seres o campeão
Do mundo da alegria
Axioma de satisfação
No teu silêncio
Vais aos outros contando
Sem palavras
Eles entendem esta linguagem
Ao José ao Fernando
Ao Joaquim ao Leonel
Ao António ao Armando
Ao João e ao Manel
A todos
Por entre frondosa folhagem
Por tanta história seguida
O silêncio do vale para
E siga a vida!
LUMAVITO
22/6/2013
http://avidarimar.blogs.sapo.pt/
Espelho do ânimo
Semblante sorridente
Conheci tal furacão
Cantando cada minuto da hora
Dia semana mês a fio
Porte sagaz competente
Tudo rodava na sua mão
Pela vida fora
Em constante desafio
Quem a conhece
E eu mal a conhecia
Sabe o encanto
Que naquele espírito empolgada
Ritmo louco todo o dia
Aos afazeres de quem não cede
Milímetro ao ócio
Jornada toda, ar de cansada,
Palavra nunca usada
Tempos loucos
Loucos tempos de trabalho
Agruras
Os dias eram curtos
Tanta azáfama se esquecia
Que na terra
O limite não é o céu
Nem em bicos de pés
Lhe chegamos com a mão
A razão estava alta
Não fizesse nada falta
Aos que lhe ocupam o coração
Certo dia, ao virar da esquina
De tempos sem a ver
Aquela cara que todos fascina
Tinha algo diferente
Não lhe reconhecia não era gente
De se vergar à dificuldade
O sorriso era o mesmo
Talvez mais desbotado
Mas era ela vagueava pela cidade
Buscando da vida o outro lado
Passo dorido movimento sem chama
Olhos brilhantes ombros descaídos
Desloca-se ar cansado da vida
Longas noites e dias sofridos
Lágrimas gordas de dor derrama
Suspira chora
Aquela alegria fingida
Que não é a mesma de outrora
Oh dor! Oh raiva!
A que antes andava erguida a cabeça
Agora não tira os olhos do chão
Dona de uma vida plena
Haja o que houver
Helena
Essa não és tu
Tu és tens muito mais
Para dar e vender
O que esta era te travou
Vai-se soltar, vais correr gritar
Esta não sou eu
Nem quero por aqui ficar
Essa dor que ela sente
Também eu a senti
Olha em frente
A tua garra é maior
Que todas as patranhas
Que a vida nos oferece
Da lama dar o salto
Não sou crente
Mas, se quiseres
Por ti rezo uma prece
Se com isto te puder
Dar ar mais contente
Eu não falto
Compreendo, este momento
Para ti desconhecido
À noite todas as campainhas tocam
Badalam tantos sons
Tantos rumores
O amanhecer tem outros tons
Ao ritmo dos clamores
Vais voltar a mostrar
O teu sorriso rasgado
A quem mais te ama
Os teus esperam-te
Tens muito para lhes dar
Alguém que te reclama:
Acorda desse sonho mau
Verás que eles querem-te
Aquela mulher de intensa chama
Só uma coisa me empurrou
A sair do meu cantinho
Ver-te a sofrer uma dor
Não é só dor
É tormento.
Mas...
Não há sentir igual
Ao emergir dessa água sem cor
Saborear a brisa do vento
E ver afinal
Esta Lena que vi desencantada triste
Agora já ri, já chora de alegria
Este já é outro tempo
À tua força, nenhum mal resiste
Quero saber que continuas a sorrir
Queria dar-te uma flor
Olha para estes versos
Pétalas carregadas dum tom maior
Para pores na lapela
Encara-os como do mato flor selvagem
Não foi regada
Mas tem sentimentos
Que vale a pena a imagem
Gratos estes momentos
Dormir a Primavera desabrochada
LUMAVITO
21/06/2013
avidarimar.blogs.sapo.pt/
Belo almoço de grelhado bacalhau
Adorada salada, tomate, pepino
Couve roxa, cenoura, alface
Correr estômago intestino
Assim nada mau
Coisa que a malta gosta
Café de bica que fora
Antes comprado
No supermercado
Prazer da vida no palato
A todos fiquei grato
Em redor, a sogra
De cara nada magra
Dos “remédios”, assim o encara
Família toda à mesa
Conversa nossa, vários temas
Cordata discussão acesa
Debate animado este
Tal era a paixão
Que foi adiando, e lançou natural teste
À vontade de levantar
E visitar o meu cão
Não é cão é cadela
“NICA” o nome dela
Não tem ordem de subir
Disciplina de hierarquia
Para a casa dos humanos
No piso de baixo, seu poiso
Arquitectei meus planos
Desci para o nosso cantinho,
Bem perto das garrafas de vinho,
Bem vazias, por sinal
Abri a porta, fui ao quintal,
Fitou-me de frente, admirada:
“Onde andaste tu?
Conversar eu queria
Com quem, não tive
Vida de cão, surreal”
De cão não, de cadela
Ripostei eu, tu não és qualquer cão
Tu és a minha cadela
Vá eu montanhas correr, ou ainda de barco à vela
Serás a conselheira
De quem vai estrada fora
Sempre atenta, cabeça erguida
Olhos brilhantes, comovida
Minha cadela nada disse
Sentou-se, deu-me a mão
Digo eu, pata da frente
Falar não era preciso
Estava radiante
Desafiei-a no olhar
Os olhos, de mim não desviou
Da cabeça lhe afagar
Foi coisa que a derreteu, seu focinho austero
Exclamou:
“O que é meu também é teu”
Conversas longas temos tido
De cima do seu porte altivo
Tal animal encorpado
Doutos conselhos me deu
Ânimo, desafios
Naqueles dias frios
E noites de céu assombrado
Fiel amiga, pois és
Tão grande teu coração
Deitou-se a meus pés
Se frio não tiveres
Eu no peal da porta
Controlo a emoção
Fico a olhar para ela
Qual frio que corta
Dos dois a respiração
A minha NICA já me ensinou
Que ser cão não basta
Para ser digno, verdadeiro
Preciso de ser fiel
Fiel ao meu sentimento
Fiel em bom e mau momento
Humilde que se farte
Para cumprir meu papel
E os dois adormecemos
No peal do nosso cantinho
Por quantas horas não sei
Só sei que regelei
Mas, ao acordar, senti o carinho
Da pata da NICA
Eu me vou, e ela fica
LUMAVITO
16/06/2013
Tenho uma namorada
Graciosa, esbelta, sábia
Dormi esta noite com ela
Segredou-me que me ama
É gente de espécie daquela
Nos dá sofrer, mas clama
Que sofrer também é paixão
Paixão na dor, no viver
Paixão em tudo o que é ser
A dor arde e cura
A febre da minha loucura
Dor ardente que me consome
Dor da minha ilusão
Que falar com gente satura
Palavra mais palavra
Tenho uma namorada
Com novecentos anos
De história
É grata, fiel, sábia
Conhece os filhos da mãe
Que são seus filhos também
Já pariu vezes muitas
Que o céu, para tanto
Estrelas não tem
São filhos deste, daquele
Filhos do além
Daqui e doutras paragens
Habituou-se a contá-los
Entre ramos, as folhagens
Que a floresta, ao entardecer, contém
São flores do matagal
Tal como as são do jardim
Lírios, acácias, cravos, jardineiras
Peças soltas da minha jarra
Eu não choro por mim
Meu canto de emoções
Das rosas, sorridentes botões
Para outros, coisas inteiras
E dispensáveis, sem valor, descartáveis
A minha namorada tem novecentos
E tem coisas inestimáveis
A minha amada namorada
Namora com milhões
De gente como eu, e tu, igual a ele
Não é prostituta de nome
Alma cheia de paixão
Tem relações com todos
Servos e amos, sem e com fome
A minha namorada de novecentos anos
Ar grave tem aos pés
Por trás dos montes, farta cabeleira
Tem nos braços o Sado, e em Aveiro
Na ria, outra alegria
Cabeça, questão estrutural
Aqui e noutros locais
Nem sempre para todos, usual
Olhos brilhantes no Douro
No Ribatejo do estômago, o touro
Da garra, da força, de moer
A fartança
No choupal a esperança
E a certeza que, só beleza cansa
Intestino delgado
Mirem o Zêzere
Que desemboca no grosso Tejo
Longos vales percorridos
Entre ais e gemidos
Espraia seu cantarolar
Vai desembocar bem além
Para lá de Santarém
Pois é
Estão a ver a figura
Seja ela mole ou dura
Que, se de engolir complicado
Bem perto de Belém
Não se afigura desajustado
Além Tejo as pernas e coxas
Gémeos musculados
As emoções nada frouxas
Umbigo não encontrei
Coração como estrela
Palpitante e bem alta
Farta brisa no ar
Apetece por ali ficar
Afagar tão forte motor
Deste cantinho olhar
Para o olhar profundo do mar
Que nosso é
Até alguém do tabuleiro roubar
Foi neste mar
Que fui buscar ouvidos
Tão sentidos, magoados
De discursos que correm na praça
Da governança
Disse-me ela:
Não lhes dês ouvidos
Querem-nos ver sentidos
Haja gente de raça
Que faça ouvidos de mercador
Não mostres ar sofrido
Eles aproveitam nossa dor
Perguntar-me-ão:
Vagina, ela não tem?
Tem….. tem!…..
Um pouco por toda a parte
Tal é a dita sorte
De parir um qualquer
No lugar que ela deseja
Mas ela sabe também
Que vai despejar entre são bento e belém
Os outros filhos da mãe
Seios, qual quê
Estão no meio do atlântico
Flutuam despidos pela brisa do mar
Tal pregador romântico
São fortes e robustos
De pequeninos todos mamam
Mas à luz da vela
Ou candeia apagada
Tanta passada sem som
Outros graúdos mamam dela
Pelos vistos, o leite é bom
Símbolos, mais que todas as medalhas
Todos os combatentes de guerra
Que tal peito encerra
Dizê-los todos
Não tenho saber
Lembrando alguns
Sem desprimor para os outros
Pois é de símbolos que cumpre enaltecer:
Aristides de Sousa Mendes |
Alexandre Herculano |
Geraldo sem Pavor, |
Humberto Delgado, |
D. Afonso Henriques |
Pedro Hispano |
Sobrinho Simões |
Zé do Telhado, |
Vieira da Silva |
Vasco da Gama, |
Afonso de Albuquerque |
Bocage |
António Silva |
Elias Garcia |
Ary dos Santos |
Prata Soares |
Maria da Fonte |
Fontes Pereira de Melo |
Fernão Mendes Pinto |
Gago Coutinho |
Carlos Lopes |
António Teixeira Rebelo |
Egas Moniz, |
Joaquim Agostinho |
Nuno Álvares Pereira |
Maria João Pires |
Salgueiro Maia |
Eça de Queiroz |
Miguel Torga |
Almada Negreiros |
Siza Vieira |
Fernão de Magalhães, |
Fernando Lopes Graça |
Luís de Camões |
Zeca Afonso |
Grândola, |
Fernando Pessoa |
Damião de Góis |
António Lobo Antunes |
Rosa Mota |
Paula Rego |
Almeida Garrett |
Francisco Lázaro |
Viriato |
Gentil Martins |
Sacadura Cabral |
Sousa Martins |
Miguel Corte Real |
MARIZA |
João Garcia |
Santo António |
Padeira de Aljubarrota |
Carolina Beatriz Ângelo |
Edgar Cardoso |
Catarina Eufémia, |
Gil Vicente |
Natália Correia |
Bartolomeu Dias |
Alves Barbosa |
A Portuguesa |
Eusébio Silva Ferreira |
A BANDEIRA |
Olhei para a minha namorada
Que tinha muitos anos
Não a senti cansada
Tantos nomes, mas tão poucos
Da sua lista elaborada
Vi-a calma, tranquila
Sem rancor
É tal o sentimento de perseverança
Temperança
Solidez no falar, complacência no olhar
Humildade no saber
São estes alguns dos atributos
Que dela permanente, me enamoram
Quais animais astutos
Esperam baixos, o momento
De captar no tempo
Sinais ao contrário do vento
E a minha namorada
Chamou-me à atenção
Não esqueças os outros
A minha namorada é jovem
Jovem de novecentos
Dorme com todos na cama
Gente que a ama
Gente que não ama
Nunca saberá amar
Partilhar é preciso
Entrega até mais não haver
Ocioso, ficarás pobre
Não vivas só de materiais proveitos
Para teres caracter, ser nobre
À minha namorada inteligente
Eu vi abordagens loucas
Prometerem-lhe o céu e a terra
Tretas de quem berra
Vocifera, urdindo tantas patranhas
A nossa namorada sempre soube
Quem é seu
Quem tolera
Não tolera, não
Quem mais barriga tem que olho
Mais conversa que razão
Areia só atira, para a vista
De quem engana
Não está avisado, que resista
A minha namorada de
Novecentos anos
Viajou por montes
E vales rasgados
Desceu rio, foi por mares
Agora já muito navegados
Foi além deste cantinho
Procurou todas as sortes
Viu ao largo, esvoaçando
Uns Açores, adornou forte Madeira
Mais tarde, do alto das ameias
Alguém gritou:
Verde Cabo para São Tomé
Qual pântano da Guiné
A Angola um saltinho
Qual onda que pique
Estes mares não resistem
Virou costas, celebrou com tinto vinho
Foi aos camarões com fresco verde branco
A Moçambique
Às especiarias mais um salto
Qual forte cravinho
Não sendo uso, abastança
Ali viu sustento farto
Com primor
E quem descobre uma dúzia
Descobre mil
Só parou em Timor
Noutra rota diferente, os brasis
A namorada descobrir, os quis!
Em cada um deixou marcas
Não vai o tempo apagar
Saber, parecer, língua
Dignidade na luta frontal
Quem quer viver que resista
Ao lado fácil e formal
Do que simples é, e será
Opinar de fácil moda
Vociferar a vida toda
Que tudo foi mal
Adamastores, velhos do restelo
Sempre os houve
E os haverá
Não é hoje que matamos
O destruir da construção
Construir a destruição
Sobre cinzas não há
Espírito que rejuvenesça
Essa moda fatal
Que é estar, não ser
Que é tudo mal, afinal
Lírico canto eu não entoo
Para tal não tenho garganta
Meu canto, meu encanto
A minha caneta vibra
Com a palavra que pranta
Da minha namorada
Tal corda de fibra
Para convocar enamorados dela
O que sei é escrever
O que medita, e me dita a mente
É esta a minha forma de agradecer
Aquilo que sou, foi ela
Enamorados, mobilizem
Motorista, cozinheiro, professor
Mineiro, artista, polícia
Reformado e pensionista
Cada um que eleja
Arma limpa e leal
De lutar contra quem
Este quintal quer suspender
De respirar
De uma só vez desfalecer
E a vender
Por trinta moedas de prata
Tal Judas Iscariotes renascido
Neste canto querido,
Que é Portugal
A minha namorada mandou-me último recado:
Este não é o fado desfeito
Não se envolvam em desgraças e prantos
Quem luta terá efeito
A última palavra não é dos insanos”
Da minha namorada de novecentos anos
LUMAVITO
15/06/2013
Certa velhinha distinta
Sábia, respeitosa, honrada
Olhar perdido na calçada
Húmida e escorregadia
Seguia leve, lenta
Escorregando os pés
Pelo ondulado do carril
Com distinta mania
Do eléctrico que já não rola
Já do tempo do novo estado
Julgando ser o dito amarelo
Que ecoava sonora badalada
Accionada pela corda de cabedal…
“Tlim……Tlim……”
Avisava rouca voz ensopada:
“O destino da viagem é a calçada do amparo
Sou a Maria do laranjal
Tenho bancos de pau
Costas de palha entrançada
Guarda-freios engravatado
Eu sou a carreira Madona
Que sobe e desce em cordel
Até à fábrica superior
Qual símbolo da economia
A fáfrica do pastel ”
Surpreso, olhei à volta
Perguntei-me se
Frente ao sessenta e nove daquela porta
Estaria em juízo meu
Belisquei-me, roí as unhas
Não seria que tu punhas
Muitos cheirinhos em café meu
Seria isto bebedeira minha
Tal era a pedrada que vinha
Daqueles ares do céu
Parei
Não pode jogar
O baralho todo
Ou sou eu quem endoideceu?
Ou já teria queimado
Os fusíveis da mona
Ou ela não teria a ousadia
De na rua gritar
Que era a carreira madona
Segundos graves estes
Não me tinha apercebido
Que a velha de tal sorte
Dançava no meio da estrada
Collants até ao pescoço
Até ao umbigo o decote
Gestos largos e bruscos
Qual dança orquestrada
De forma tão igual
À da grande cantora afinal
Processo de loucura esta
Tal era aquela festa
Que punha o mundo tão louco
Não seria assim tão pouco
Sinal de alarme então
Não é normal uso da razão
Aquilo não estava a acontecer
Eu que tinha traçado
Ir dar uma voltinha
Ver se melhorava
O estado de alma minha
Lesta, a “madona” parou
Mudou a música
Entoou a marcha nupcial
Trombetas afinadas e imponentes
Coisa de cerrar os dentes
Tal a cabeça fervente.
Encostado ao mais próximo portal
Daquele sessenta e nove
Daquela rua pendente
Olhei à volta, agarrei-me
Ao batente daquela porta
Não vá eu escorregar
Não aguente, e queime
Os neurónios que ainda tenha
Tal é a loucura que corta
A respiração ofegante.
Tentei perceber se respirava….
Pois….
Ainda mexo os dedos,
Não afastou meus medos
Tentei levantar-me….
Consegui
Estava quase ereto
Passe quase certo
E dali me pirava
Corri calçada acima
Calcanhares esfumaçando
Tal a ansiedade com que,
Coisa sem par
Me pusesse ao ar fresco
Daquela loucura por perto
Dobrada a esquina, abrandei
O caminho percorrido
A madona afinal, não correu
Aliviado, olhei ao meu lado
Ergui os holofotes, vi de relance
Que tinha deixado à ré
A Rua do Alucinado
Passo apressado
Não viesse a madona, outra vez
Repetir o estrago que fez
Bem dentro do meu sobrado
Procurei orientação
Olho em redor
Que seja lá qual for
Esta rua seria
Uma viela estreita
O fim da via por perto
Mais calmo
Vi que estava em cima pedra direita
Letra preta
A Travessa do Aperto
Zona assaz, estranha
Em poucos metros palmilhados
Estranho ensaio da madona
Entre o aperto e o alucinado
Aliviado desta pressão
Entendi o cenário intrigante
Que levaria a cantante
Figura desconcertante
Não fossem as marcas do tempo
Dançando desengonçada
Ao sabor da brisa do vento
Já recomposto do susto
Acalmei
Ganhei coragem, voltei à esquina
Espreitei, e………
“sou a presidencial menina
Rara beleza e formosa
Quero dançar alegria
No meio daquele palácio
Isto não é falácia
O meu amigo presidente
Da fábrica dos pastéis
Disse que tenho jeito
Para o distrair
Muito ensaiar tenho feito
Não o vou desiludir”
Quedou-se, de novo, a madona
Não me sentia
Mesmo bem da tola
Era caso de psiquiatria
Não me acho quem se idolatra
Não encaixa, à distância
Poder sofrer doença da moda
Mas deve haver
Elemento intrigante
Toda esta palhaçada
Seria algo importante
Para eu não perceber
Coisa tão deslocada
Rebolei
Virei-me para o outro lado
Esfreguei os olhos
Acordei, alto bocejar…..
Han…….??? UUUiiii!!!!!!!
Salto brusco
Dei um pulo na cama
Questionei,
Onde está a madona?
Oh pesadelo
Gesto violento
Puxei com força o cabelo
Não fosse eu
Voltar a adormecer
E de novo,
Não voltasse a assaltar-me
Figura mais sinistra
Me entrasse pelo quarto,
De tal história tão farto
Fiz a barba
Tomei banho
Não esquecendo tal sonho
Ou tormento, que medo
Eu que afirmava
Que medo nunca tinha!
Fui até à cozinha
Disse para mim
O pior já passou
Espírito este que ousou
Assaltar a minha mente
E pôr-me pela frente
Coisa desfasada no tempo
Tão ridículo momento
Frente à malga de leite
Juntei-lhe os cereais
Roí uma pera, uma dentada
De colherada em colherada
Lá despachava…..
Parei……
A madona disse que é a menina………
Que o amigo presidente……..
Queria para se distrair…….
Mas……..
Qual presidente?
Dos pastéis? Dos anéis ?
Das gravatas de nó arredondado?
De facto, …não bate a bota
Com a madona
Desculpem, a bolota, ou a perdigota?
Ou lá o que é
Já nada sei
O que sei é que a fulana
Falou nos pastéis!
Quais pastéis?
Não seriam eles
Parecidos com os fofos
De Belas?
Queijadas de Sintra?
Outra questão me assalta
Com tolos se enganam os bolos
Ou serão os lobos?
Bom……
Vamos a isto
Eu não vivo disto
A vida não se ganha assim
Quedado
Ouvi voz do Além
Qual sala para concertos
Sussurrar…..
“Não, não…..
Há gente que vive assim!!
GENTE QUE VIVE DA LOUCURA DOS OUTROS!!!
E também do trabalho!!!!
Ah pois é!!!! Oh Zé!!” (ao amigo António Feio)
Emudeci…..
Pressenti o fim
No coração mais apertos
Dei um murro na mesa
Fui respirar para o jardim
Vamos acabar com a história
Limpar esta memória
Que cindo discos externos
De quinhentos gigas
Não chegam
Pelo bem da minha saúde
Devo jogar à defesa
Corri para o carro
Atrasado
Por esta maquinação
Fui andando em função
Do transito, que demorava
Entupido por todas as vias
Decididamente...
Hoje nem uma acerto
Pachorrentamente…
Liguei o rádio
Música de fundo era
Remédio prudente
Elevo o som, estico o ouvido
Qual cartucho,
De ar insuflado
……e apertado……
PUUMMMMMMMM………..
Estoiro final
Disco mais recente da “MADONNAAAAAA…..”
Este mundo, remédio já não tem
Tudo combinado
Não é só tortura
É maldade grossa
Para que caia na fossa,
E não me aguente…..
Murro no “off”
Murro no volante,
Não fosse
Ela dizer que ia ensaiar a valsa…….blá……blá…..blá!!
Irritado
Buzinadela para aqui
Gritaria acolá
Encostei o carro
No primeiro buraco
Que encontrei
Subi apressado
Escadaria que se cruzou
Frente ao meu olhar
Onde ia ter, não sabia
Mas sabia que não queria
Ali ficar
Acendi o cigarro
Que não fumo há trinta anos
Esqueci o sítio do carro
Fui procurar remédio
Para tão vastos danos
As mãos tremiam, não era eu
Pronto, não vale a pena
Francamente
Já não tinha cabelo
Cabelo no chão às mãos cheias
Para quê o pente?
Deitei-o escada abaixo
Degrau a degrau
Virei à esquerda, à direita
Para o lado, atrás, prá frente
Já não encaixo
Com o lugar onde estou
Mais acima uma tasca
Tasca ranhosa, ainda assim
Entrei
Portas doidas, qual cow-boy
Alguém, minha triste figura rasgou
De frente, perguntou:
“Vem assustado?”
Quem…. Eu?....eu não!!!
O sangue parou, o coração não palpitou
Já não era vibrar de cordas vocais
Antes, voz embargada, trémula
As pernas vergavam
Não era eu, nãããooo!.. não era!!
Claramente
Algum demónio que me atente
tentei disfarçar já gemia……
Alguém riu
Veloz mas parado
Gaguejei…
“Vai prá lupa do tio! “
Senti vago clamor
Lá longe, bem longe, muito longe
Um clamor ~a ~~nadar~~ no gás~~ do~ meu~~~~ cérebro~~~~~~~~!!
Balbuciei qualquer coisa
Que não tive capacidade
De entender
Seria pela idade?
O primeiro aviso do colapso
Que deixa para trás a realidade
Já f~i~z t~r~a~m~p~a
Cala-te, não reajas
Não dizes coisa com coisa
De facto, tão estranha
Nunca me tinha acontecido
Não comer os pastéis quentes
Ainda assim, me dar
A volta à tripa
Implorei…
Posso ir à casa de banho?
“tenha cuidado, é ao fundo
Do corredor
Carregue no interruptor ”
Com um aceno, agradeci
Arrastei-me, perna apertada
Empurrão na porta, rangeu
Desapertei o cinto
Manobra complicada, tão demorada
Aflita, à rasca
A coisa estava mesmo torta
Mesmo à tangente
Fica melhor que “rasquinha”!
Deu tempo
Sentei-me
Elevei o olhar
Forcei…..
A sanita rangeu
O edifício tremeu
O mundo estremeceu….~~nuvens,~~~pressões altas~~~~e baixas,
Chuva, trovoada
Relâmpagos, raios e coriscos
Quase adormeci, pensei
Se não fosse isto
Dava-lhe uns chutos no cagueiro redondo
Um murro na tromba
a quem não tem vergonha
E de mim zomba!
Imprevisto! Fuga de gás
Coisa grossa atrás!
Fez-se luuuuuuuz!!!
A madona, tinha dito
Grande matrafona,
Que a Fábrica Superior do Pastel
Era ideia afinal,
Símbolo de exportação
De alvarinho, a exortação
O país vai crescer, suas dívidas pagar
Não mais cair em crise
Esta ideia de trampa
Trampa enchouriçada
Talvez assim, a salvação
Que se frise, que é de ideias destas
Que este cantinho vive e vence
Finalmente
Não rima, mas é feliz
Oh senhor presidente
Da Fábrica Superior dos pastéis
Bem perto da governança
Aconselhe-os, segrede-lhes
Não deixe cair tal cagança
Garantirá futuro nosso
Não nos faltará caroço
Ricos seremos
Quais povos do norte do tabuleiro
Felizes estarrecemos
Brilhante ideia esta
Agora é que, que aguente
Não há mesmo rima
Olha!, agora!, …..é assim, “pessoal”
Ainda assim é uma festa
Percebi algo
Algo que tenho percebido
Lembrei-me de palavras
Expressões, palavrões
Quintal, laranjal Pastel
Confraria, associação
Doces e amargas
Palavras Com e sem aparente sentido
Não
A palavra sem produto Escorrido
Do turbilhão de ideias
Neste mar de teias
Interesses
Em que és apanhado, surdo
Sem energias Mudo
Será?
Associação-confraria
Pastel sem quadro
Conteúdo sem sabor
Juraria
Este não é o mundo que quero
Não é aquilo que busco
Quais pastéis amargos
Azedos
Nos presenteiam modo patusco
Dêem-me antes encargos
Com esses encanto muitos tenho
De onde provenho
Não baixo os braços
Todos eles na vida eu canto
Grito
Chegou a hora
De arregaçar mangas, correr, berrar
Esta terra, se não é para todos
Se alguém tem que sair
Não somos nós que estamos a mais
Morrer JAMAIS
Rua com tais ditadores
Ditadores da democracia dormente
Dorida ferida
Haja quem enfrente
De frente olhar fixo nos olhos
É de nós todos
De todos nós
R U A!!!
Q'esta casa não é tua!
LUMAVITO
20130614
XI